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Para especialistas, ataques são obra de aliança entre extremistas do islã e submundo de Mumbai

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postado em 30/11/2008 09:20

De um lado, o Paquistão, país com 172 milhões de habitantes ; 95% deles muçulmanos de maioria sunita. De outro lado, a Índia, uma potência em desenvolvimento com 1,1 bilhão de pessoas, sendo 917 milhões de hindus e apenas 152 milhões de seguidores de Maomé. Entre eles, a Caxemira, uma região explosiva que se tornou foco de disputa territorial e uma espécie de causa ;nobre; dos movimentos fundamentalistas islâmicos. Para especialistas paquistaneses em terrorismo consultados pelo Correio, o método operacional usado nos atentados de quarta-feira em Mumbai realmente aponta todas as suspeitas para a jihad (guerra santa), apoiada por criminosos comuns.

Para Hasan-Askari Rizvi, analista de defesa do Paquistão, ainda é prematuro apontar culpados ; ele explica que a Índia está imersa em um caldeirão de grupos militantes locais que perseguem sua agenda política por meio da violência. ;O governo de Nova Délhi culpa os extremistas do Lashkar-e-Tayyaba (veja o quadro), ainda que a evidência seja fraca e grosseira;, afirma. ;O submundo do crime de Mumbai pode ter cometido esses atentados em cooperação com grupos fundamentalistas indianos;, acredita. Ainda na quarta-feira, uma desconhecida organização autodenominada Mujahedin do Deccan (região que compreende os estados indianos de Maharashtra, Andra Pradesh e Karnataka) enviou um comunicado a agências de notícias reivindicando a autoria. ;Se algum grupo paquistanês está envolvido, deve ter agido com militantes da própria Índia;, aposta Rizvi.

O especialista acha que as chances de envolvimento direto da rede Al-Qaeda, de Osama bin Laden, são reduzidas. Nesse ponto, Rifaat Hussein ; professor da Universidade Quaid-i-Azam, em Islamabad (Paquistão) ; discorda do colega. Ele cita que vários agrupamentos jihadistas têm alertado sobre eventuais ataques na região e não descarta a cumplicidade do submundo de Mumbai. Uma das facções mafiosas mais conhecidas da cidade, a Dawood Ibrahim, supostamente exilada no Paquistão, tem um histórico de massacres na Índia. ;Dada a escala, a intensidade e os alvos dos atentados (norte-americanos, britânicos e israelenses), o envolvimento indireto da Al-Qaeda não pode ser descartado;, opina Hussein, que defende uma investigação intensa sobre o Lashkar-e-Tayyaba. ;Não temos nada com isso;, bradou Abdullah Ghaznavi, porta-voz do grupo, em entrevista à agência France-Presse, a partir de Srinagar, capital da Caxemira.

Matar e morrer
Rizki admite que a culpa deve ser atribuída a fundamentalistas locais ou mesmo vindos do país vizinho. ;Mas uma ação tão intensa não poderia ter sido feita sem a ajuda de grupos ou partidos regionais;, comenta, reforçando as suspeitas sobre a máfia Dawood Ibrahim.

O cingalês Rohan Gunaratna, especialista que entrevistou vários militantes de Bin Laden para escrever o livro Por dentro da Al-Qaeda: rede global do terror, duvida de uma participação direta da organização. ;Esses ataques são fruto de um grupo inspirado na ideologia e na metodologia da Al-Qaeda;, aposta. ;Por três razões, eu acredito que os extremistas seguiram à risca o modus operandi da rede. Em primeiro lugar, escolheram alvos simbólicos; em segundo lugar, realizaram uma ofensiva coordenada; por último, estavam determinados a matar e a morrer.;


Terroristas da Ásia Central

Lashkar-e-Tayyaba (Exército dos Puros)
Baseado no Paquistão, o grupo luta desde 1991 contra o controle da Caxemira pela Índia. Suas congregações anuais atraem mais de 100 mil pessoas, que escutam chamados para a jihad (guerra santa). Estima-se que sua ;força militar; compreenda apenas 800 extremistas.

Jaish-e-Mohammed (Exército de Maomé)
Maior organização terrorista do sul da Ásia, foi formada em 1994 e está baseada no Paquistão. Seu objetivo é separar a Caxemira da Índia. Supostamente recebe fundos consideráveis de paquistaneses expatriados para o Reino Unido. É suspeita de matar e decapitar o jornalista norte-americano Daniel Pearl, em 2002.

Deccan Mujahedin (Mujahedin do Decan)
Esse grupo reivindicou a autoria dos atentados em Mumbai, mas sua existência é colocada em xeque por especialistas em terrorismo. Existem as possibilidades de que os e-mails enviados pelos extremistas às agências de notícias sejam trote.

Al-Qaeda (A Base)
Movimento islâmico internacional fundado em 1988 pelo saudita Osama bin Laden. Com uma estrutura hierárquica bem definida e dividida em comitês militar, jurídico, financeiro, de estudo da fatwah (lei islâmica) e de mídia, a rede se espalhou pelo mundo. Sua ação mais espetacular foram os ataques contra o World Trade Center e o Pentágono, em 2001.

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