postado em 02/12/2008 09:29
BANGCOC - A crise tailandesa teve nesta terça-feira (02/12) dois grandes momentos, com a saída forçada do primeiro-ministro Somchai Wongsawat e o anúncio de um acordo com os manifestantes contra o governo para uma retomada rápida do tráfego aéreo em Bangcoc.
Os manifestantes, que ocupavam havia uma semana os dois grandes aeroportos comerciais da capital, aliviaram as pressões após um veredicto da Corte Constitucional que ordenou a dissolução do partido no poder e cassou os direitos políticos de M. Somchai por cinco anos.
A autoridade encarregada dos aeroportos da Tailândia (AOT) "fechou um acordo" com os opositores da Aliança do Povo para a Democracia (PAD) para a retirada dos manifestantes das zonas de passageiros no aeroporto internacional Suvarnabhumi, anunciou o presidente da AOT, Vudhihaandhu Vichairatama.
"Um primeiro vôo pode decolar daqui 24 horas, se não houver problema técnico", disse. "A PAD autorizou vôos a decolar e pousar imediatamente, tanto para passageiros como para carga", confirmou a jornalistas um dirigente dos manifestantes, Somkiat Pongpaiboon.
O aeroporto Suvarnabhumi (700 vôos diários) e o de Don Mueang (vôos domésticos) foram tomados semana passada por milhares de manifestantes da PAD que lançaram uma "batalha final" para derrubar Somchai.
O fechamento das plataformas aéreas de Bangcoc bloqueou na Tailândia mais de 350.000 passageiros, turistas estrangeiros e tailandeses que haviam reservado vôos internacionais partindo da capital, segundo o ministério do Turismo. O acordo veio horas após um veredicto da Corte Constitucional que acabou com o mandato do primeiro-ministro.
O partido no poder e duas formações aliadas foram sancionados porque alguns de seus dirigentes foram considerados culpados de fraudes eleitorais durante as legislativas de dezembro de 2007, que acabou com 15 meses de administração militar.
"O Tribunal Constitucional decidiu por unanimidade dissolver o Partido do Poder do Povo (PPP)", declarou o juiz Chat Chonlaworn, que presidiu um painel de nove magistrados. Em conseqüência, o líder do partido e os dirigentes do partido têm proibidas as atividades políticas durante cinco anos", acrescentou.
Os partidos Matchima e Chart Thai também foram abolidos e seus dirigentes também tiveram os direitos políticos cassados por cinco ano. O Tribunal Constitucional examinava há alguns meses as irregularidades cometidas por certos dirigentes do PPP nas eleições legislativas de dezembro de 2007, vencidas por ampla margem pelo partido.
O primeiro-ministro Somchai Wongsawat anunciou que aceita o veredicto. "Minhas funções terminaram. Agora sou um cidadão comum", declarou o premiê, de 61 anos, à imprensa na cidade de Chiang Mai, onde está desde a semana passada, já que não conseguiu pousar em nenhum dos dois aeroportos de Bangcoc.
"No entanto, é algo inesperado que a decisão chegue deste modo. No passado fiz tudo o que pude, não por mim mesmo, mas pelo nosso país", acrescentou Somchai, cunhado do ex-premier exilado Thaksin Shinawatra. No total, 109 dirigentes dos três partidos foram excluídos nesta terça-feira do cenário político.
Segundo a Constituição adotada em agosto de 2007, a aliança pode ser dissolvida na Tailândia se um único de seus líderes for condenado por fraude eleitoral. O PPP é o partido que reúne todos os suportes do ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, que foi deposto em setembro de 2006 pelo exército. Somchai é cunhado de Thaksin, que vive no exílio.
O clã Thaksin, muito popular entre as populações rurais do norte da Tailândia, é desprezado por boa parte das elites tradicionais e da classe médias de Bangcoc. O exército se recusou a ajudar Somchai para liberar os aeroportos.
Em maio de 2007, um tribunal criado por uma junta militar ordenou a dissolução do partido fundado por Thaksin, o Thai Rak Thai (TRT). Ele impediu também 111 dirigentes desta formação, entre eles Thaksin, de exercer qualquer atividade durante cinco anos.
Antecipando um cenário similar, o PPP, sucessor do TRT, já criara uma cúpula política, o Pheu Thai, onde 216 deputados poupados nesta terça-feira pela justiça têm a intenção de se reunir e para propor o nome de um novo primeiro-ministro, indicou um porta-voz do PPP.
Vestidos de amarelos em sinal de obediência ao rei, os membros da PAD juraram derrubar Somchai por considerá-lo um "tirano corrompido". A crise representou um golpe muito duro na indústria turística em crescimento da Tailândia e o bloqueio dos aeroportos de Bangcoc provocou perdas que foram estimadas em bilhões de dólares.
A maioria dos estrangeiros afetados ainda tenta deixar o país nesta terça-feira nos pequenos aeroportos internacionais de Phuket (sul), Chiang Mai (norte) e uma base militar 190 km ao sudeste de Bangcoc.
Um avião fretado pelo governo francês deixou Paris na noite de segunda-feira para a Tailândia, de onde deve levar cerca de 500 cidadãos franceses e europeus na noite de quarta-feira, informaram nesta terça-feira fontes da companhia Corsair, proprietária da aeronave.
O caos custou a vida de quatro turistas que tentavam pegar vôos no sul da Tailândia e foram mortos em acidentes rodoviários nos últimos dias, indicou nesta terça-feira a polícia. Na primeira conseqüência internacional da decisão da justiça tailandesa, a reunião de cúpula anual da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), que aconteceria em meados de dezembro na Tailândia, foi adiada para 2009.