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Dissolução do partido governista não resolve a crise na Tailândia

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postado em 02/12/2008 18:07
A decisão judicial que forçou o afastamento do primeiro-ministro tailandês Somchai Wongsawat acalmou o protesto da oposição embora, segundo especialistas, não traz soluções para a profunda divisão entre a classe média urbana - monárquica e inimiga do ex-homem forte Thaksin Shinawatra, e os camponeses que o idolatram. Depois da sentença, a oposição levantou o bloqueio que fazia há mais de uma semana nos dois aeropotos de Bangcoc, deixando em terra 350.000 passageiros e golpeando a receita milionária da florescente indústria turística tailandesa. O Tribunal Constitucional considerou que Somchai saiu vitorioso mediante fraude nas eleições de 2007, pelo que não poderá exercer direitos políticos durante cinco anos; também dissolveu o partido governista e duas formações menores da coalizão no poder. O veredicto anunciado nesta terça-feira veio uma semana depois das manifestações contra o governo que provocaram o fechamento do principal aeroporto da capital, impedindo a viagem de milhares de turistas estrangeiros. "O impacto será importante, crítico, possivelmente catastrófico", afirma à AFP Thitinan Pongsudhirak, analista político da Universidade Chulalongkorn de Bangcoc. "Eliminaram quase uma geração inteira de políticos tailandeses", argumenta. Um total de 75% dos políticos do país, membros das diretorias dos partidos dissolvidos, foram punidos por fraude nas eleições de dezembro de 2007, que terminaram com o governo militar depois que o ex-premier Thaksin Shinawatra foi derrubado por um golpe de Estado em 2006. Os seguidores da Aliança do Povo pela Democracia (PAD), rivais de Thaksin, protestavam desde maio contra o governo, que acusavam de ser um fantoche do ex-primeiro-ministro. Giles Ji Ungpakorn, também analista político da Chulalongkorn, afirmou que o veredicto é um "golpe de Estado judicial" e criticou a participação cada vez maior dos tribunais na vida política do país. "Não vai resolver os problemas. Mostra que a elite se alinhou contra o governo e contra a maioria dos eleitores". A sentença representa o fim político do cunhado de Thaksin, Somchai Wongsawat, mas não necessariamente o fim do governo. O Partido do Poder do Povo (PPP) anunciou que seus membros se reagruparão em uma nova formação e pretendem apresentar uma nova candidatura ao posto de premier. Para Chris Baker, autor de livros sobre a política tailandesa, a situação pode se agravar novamente caso os opositores desaprovem a escolha do novo primeiro-ministro. Neste caso, ele acredita que o Exército entraria em ação. As relações entre o atual governo e os militares é péssima, mas o comandante das Forças Armadas descartou uma repressão a manifestações por temer um banho de sangue. Se a crise não for solucionada, os analistas acreditam que o país se voltará para o venerado rei Bhumibol Adulyadej, que fará um discurso à nação durante esta semana, na qual comemora aniversário. No regime monárquico constitucional, o soberano só interveio em temas políticos em duas ocasiões nos 62 anos de reinado, mas deu várias sugestões indiretas em seus discursos anuais. A rivalidade entre seguidores do PPP e da PAD tem origem na profunda divisão dentro da sociedade tailandesa entre partidários e detratores de Thaksin Shinawatra. Os primeiros são maioria na população rural e os segundos são membros das elites, da burocracia e dos palácios.

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