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Crise na Tailândia: Justiça dissolve o governo

Corte Constitucional destitui premiê e exclui da política, por cinco anos, dirigentes do Partido do Poder do Povo. Turistas brasilienses acusam a embaixada de omissão

postado em 03/12/2008 07:34
;A Corte decide dissolver o Partido do Poder do Povo (PPP), por isso o líder e os executivos da facção devem ser banidos da política durante cinco anos;, declarou ontem Chat Chonlaworn, chefe da Corte Constitucional, composta de nove juízes, que determinou o fim do governo. ;Esse partido minou o sistema democrático da Tailândia.; A resolução da Justiça tailandesa fez com que milhares de manifestantes explodissem em alegria no Aeroporto Internacional de Suvarnabhumi, ocupado por simpatizantes do oposicionista Aliança do Povo pela Democracia (PAD) desde 25 de novembro. Em Chiang Mai, cidade situada a 696km ao norte de Bangcoc, Somchai Wongsawat, de 61 anos, não escondeu o embaraço ao anunciar a entrega do cargo de primeiro-ministro da Tailândia. ;Meu dever está terminado, agora sou um cidadão comum;, desabafou, em meio a sorrisos. Pelo menos 350 mil estrangeiros ; incluindo 150 brasileiros ; começam a deixar o país, com medo do conflito entre o PPP e militantes da PAD. Duas pessoas morreram e dezenas ficaram feridas por explosões de granadas em Bangcoc. De acordo com o jornal Bangkok Post, a PAD começou a remover o bloqueio nos aeroportos Don Mueang e Suvarnabhumi, além de retirar manifestantes do complexo do palácio de Bangcoc. A previsão, no entanto, é de que serão necessárias duas semanas para a normalização dos vôos. O brasiliense José Goes Vasconcelos Júnior, de 65 anos, se preparava na noite de ontem para retornar ao Brasil. O vôo da companhia aérea Thai sairia às 5h de hoje (20h de ontem em Brasília) do aeroporto militar de Utha Pao, a 140km de Bangcoc, com cerca de 50 brasileiros. ;Os nossos diplomatas estão deixando a desejar;, criticou o engenheiro aposentado. ;Esses cidadãos tinham de ter um pouco mais de respeito;, afirmou ao Correio, por telefone, alegando que o grupo se sentiu ;abandonado; pela embaixada brasileira. ;Sou diabético e foi uma dificuldade para conseguir insulina. Algumas senhoras aqui do meu grupo têm problemas cardíacos;, contou. Denúncia Na véspera do retorno ao Brasil, José Goes não se conformava com o fato de europeus e japoneses terem sido retirados às pressas do país. ;O pessoal da embaixada diz que somos 150 brasileiros. Isso numa terra longe, com uma língua estranha e sem entender a política daqui;, lamentou. Ele denunciou que o corpo diplomático brasileiro sugeriu que cada um se virasse. ;A embaixada afirma que se pudermos ir embora, é melhor. Mas como? A pé? Estamos aqui há nove dias, dos quais cinco estavam previstos no passeio;, explicou. ;No sul do país, a coisa está feia. Há disputas e tiros;, afirmou, horas antes da decisão da Justiça. Moradora do Sudoeste, a pediatra Maria Magalhães Aguiar, de 55 anos, confirmou a versão do colega de excursão. ;Fomos à embaixada e eles disseram para que cada um desse um jeito de sair daqui;, indignou-se. ;Eles disseram para a gente que se víssemos movimentos com pessoas vestidas de amarelo ou vermelho, era para darmos a volta;, disse. O embaixador do Brasil em Bangcoc, Edgar Telles Ribeiro, afirmou que a prioridade para deixar a região seria dada aos turistas com problemas de saúde. ;Os brasileiros devem lutar pelos seus direitos com as companhias aéreas e nós estamos aqui para dar apoio irrestrito a eles;, disse Ribeiro à emissora BBC, anteontem. Ouça entrevista: brasiliense José Goes Vasconcelos reclama de abandono na Tailândia Entenda o caso Vermelhos e amarelos A crise na Tailândia teve início em dezembro de 2007, quando o premiê Somchai Wongsawat e seu Partido do Poder do Povo (PPP) foram acusados de fraude nas eleições que levaram uma coalizão de seis facções ao poder com ampla maioria. Além de alegarem corrupção por parte do atual governo, os manifestantes do partido de oposição Aliança do Povo pela Democracia (PAD) exigiram a deposição de Wongsawat por sua proximidade com o ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, acusado de abuso de poder. Um total de 75% dos políticos do país, membros das diretorias dos partidos dissolvidos, foram punidos por fraude. Aliados da monarquia, empresários e membros da classe média urbana compõem a base da PAD. Eles se vestem de amarelo e exigem modificações no sistema eleitoral, abandonando o voto por pessoa e adotando a representação por classes sociais. A PAD ocupou, na semana passada, os dois aeroportos de Bangcoc e impediu o pouso da aeronave do premiê Wongsawat. A disputa entre vermelhos (situação) e amarelos (oposição) demonstrou a fratura política na sociedade tailandesa e colocou em xeque a milionária indústria do turismo: cerca de 350 mil estrangeiros ficaram retidos no país.

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