postado em 07/12/2008 07:00
Ele coordena a Unidade de Transplante, a Divisão de Imunologia Clínica e o Laboratório de Imunogenética do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto. O imunologista Júlio César Voltarelli foi o primeiro cientista do mundo a realizar transplante de células-tronco para o tratamento do diabetes tipo 1. Também foi o primeiro no Brasil a usar a técnica contra a esclerose múltipla. Em entrevista ao Correio, ele falou sobre o mercado das células-tronco no mundo e sobre a evolução dos tratamentos no Brasil.
Como o senhor analisa esse "mercado de células-tronco" pela internet?
Algumas dessas clínicas não são clandestinas, mas operam em países com frouxas normas regulatórias da prática da medicina, como na China, Leste Europeu ou no Caribe. Todas elas cometem a infração de venderem (geralmente a um alto custo), como terapêutica milagrosa, procedimentos médicos que estão ainda sendo testados ou mesmo que jamais foram testados. Deste modo, claramente oferecem falsa esperança aos pacientes e os ludibriam.
Muitas clínicas oferecem a cura contra esclerose múltipla e mal de Parkinson. Quão distante está a ciência de obter tratamentos eficientes e até mesmo a cura com o uso de células-tronco?
A esclerose múltipla e o mal de Parkinson possuem tratamentos médicos eficientes para a maioria dos pacientes. Para os resistentes (refratários), há um grande número de pacientes tratados com quimioterapia mais células-tronco autólogas (do próprio paciente) da medula óssea para esclerose múltipla e um pequeno número de pacientes foi tratado com células-tronco embrionárias fetais, provenientes de fetos abortados. Ambas as terapias estão sendo ou serão brevemente testadas em estudos clínicos comparativos (randomizados) e, em alguns anos, teremos a resposta sobre sua segurança e eficiência.
Que tipo de terapia tem se mostrado eficiente e em quanto tempo podemos esperar um rápido desenvolvimento de tratamentos à base de células-tronco no Brasil?
Os resultados mais impressionantes da terapia celular foram obtidos no tratamento da obstrução arterial periférica, induzindo a isquemia crítica de membros inferiores, o que deverá estar logo disponível como tratamento-padrão para pacientes intratáveis por outros métodos. Em outras doenças, como as mencionadas em outras partes desta entrevista, serão necessárias pesquisas confirmatórias dos resultados iniciais, demandando alguns poucos anos (de cinco a 10). Entretanto, para a maioria das doenças degenerativas, como o mal de Alzheimer, muitos anos de pesquisa ainda serão necessários para se obter uma terapia segura e eficiente.
Quais os principais avanços no campo das células-tronco no Brasil, na sua opinião?
Os principais avanços ocorreram na aplicação das células tronco da medula óssea em doenças cardíacas, incluindo o mal de Chagas, no acidente vascular cerebral e no diabete melitus do tipo I ; neste caso, combinada com a inibição do sistema imunológico com agentes imunossupressores.