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Obama terá o desafio de conciliar posições divergentes de sua equipe em temas como Iraque e Irã

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postado em 07/12/2008 10:37
Há pouco mais de seis meses, seria impensado ter, em um mesmo governo, Barack Obama, Hillary Clinton e Robert Gates. Na última semana, o presidente eleito não só anunciou que a ex-adversária e o secretário de Defesa de George W. Bush fariam parte de sua equipe, como destacou as posições em comum entre ele e os indicados. Obama sabe, no entanto, que, para poder tirar proveito dessas afinidades políticas nos próximos quatro anos, terá de passar primeiro por cima de algumas visões divergentes. Entre os temas que exigirão mais cuidado a partir da posse, em janeiro, estão a retirada de tropas americanas do Iraque, a relação com o Irã e as questões relacionadas à imigração. Para Hillary, futura secretária de Estado, e Gates, secretário de Defesa, Obama tem previsto um tempo curto demais ; 16 meses ; para trazer o efetivo dos Estados Unidos em território iraquiano de volta para casa. A ex-primeira-dama, apesar de defender a diplomacia como o principal meio para resolução de conflitos, também se posiciona de forma mais dura que o futuro chefe em relação a países ;inimigos;, como o Irã (leia o quadro abaixo). Obama, entretanto, minimizou as diferenças assim que apresentou os nomes dos próximos secretários nas áreas de defesa e relações exteriores. ;Eles não teriam aceitado se juntar à minha administração, e eu não os teria convidado a fazer parte da equipe, a não ser que compartilhássemos de uma visão central;, afirmou. No tema ;imigração;, as principais divergências se darão entre Obama e a sua secretária de Segurança Interna, Janet Napolitano. Até então governadora do Arizona, um dos estados com maior incidência de imigrantes ilegais, Napolitano é contra a construção de uma segunda cerca de proteção na fronteira dos EUA com o México, além de não concordar com uma lei que endurece as regras para que indocumentados tirem carteira de motorista. O presidente eleito é a favor das duas medidas. Especialistas defendem que posicionamentos diferentes dentro do governo são comuns na história americana e, nem sempre, significam um problema para o presidente. ;Geralmente, o gabinete é uma mistura de vozes dissonantes. Muitos presidentes preferiam até mesmo criar uma tensão no governo para que pudessem ;experimentar; os diferentes lados de um debate antes de tornar suas posições públicas;, lembra Julian Zelizer, historiador da Universidade de Princeton. ;O perigo é que os membros do gabinete se sintam frustrados e comecem a divulgar os problemas do governo. Esse é o tipo de desafio que Obama terá de enfrentar;, alerta. O cientista político William Allen, da Universidade Estadual de Michigan, destaca que as áreas de contraste dentro do governo são as mesmas que costumam dividir opiniões entre a administração e o Congresso. ;Uma vantagem que o governo deverá aproveitar é o fato de poder trabalhar a maioria dos temas antes de confrontar as possíveis barreiras no Congresso e de ter, em sua equipe, pessoas que conversam com diferentes bases parlamentares;, afirma Allen. Palavra final Um fator de preocupação para Obama será a necessidade de dar respostas rápidas em temas que despertam opiniões contrárias no governo. De acordo com o cientista político Frank Baumgartner, da Universidade Estadual da Pensilvânia, o que vai prevalecer nessas horas é a palavra final do mandatário. ;Os pontos de vista do presidente vão prevalecer e ponto final. Qualquer pessoa que aceite servir em seu gabinete concorda com a implementação do programa do presidente, não com o seu. Se Obama, como candidato, tornou públicos alguns pontos de vista, estes deverão ser aplicados;, explica Baumgartner. Segundo o especialista, se essa relação não for tão facilmente aceita pelo secretário, a longo prazo a discrepância com o plano de governo exigirá a sua saída. Gates, o único republicano apontado pelo presidente eleito para um grande cargo até agora, parece já ter entendido o recado. ;Não será um problema ter diferenças dentro da equipe, e é o presidente que tomará as decisões finais;, disse o secretário de Defesa de Bush e futuro secretário de Obama. A declaração deixa clara a confiança de quem já trabalhou com oito presidentes. E que sabe a importância de concordar, em último caso, com quem está no comando. O perigo é que os membros do gabinete se sintam frustrados e comecem a divulgar os problemas do governo. Esse é o tipo de desafio que Obama terá de enfrentar Julian Zelizer, historiador da Universidade de Princeton Diferenças sobre a mesa Gabinete do futuro presidente reúne nomes de peso, com posições firmes e por vezes discordantes sobre questões-chave Charles Dharapak/AP Richardson X Obama Assunto: América Latina Posição de Obama: O presidente eleito e assessores próximos admitem que a região não poderá ser prioridade, inclusive em questões de comércio. No plano internacional, as atenções de Obama estarão voltadas para Afeganistão e Iraque. Posição de Richardson: Ao ser nomeado, reforçou a idéia, já defendida nas primárias democratas, de que os EUA devem se aproximar mais do continente americano, principalmente na questão econômica. Napolitano X Obama Assunto: Carteira de motorista para imigrantes ilegais Posição de Obama: Declarou-se a favor do projeto Real ID (identificação verdadeira), que tornará mais difícil a obtenção, em todo o país, da carteira de motorista a quem não estiver em situação legal. Posição de Napolitano: Em 2003, apoiou o projeto que permitiria a imigrantes ilegais ter carteira de motorista e é contra o projeto Real ID, que endurece as regras para tirar o documento. Napolitano X Obama Assunto: Cerca de segurança na fronteira com o México Posição de Obama: Votou, no Senado, a favor do projeto de lei que prevê a construção de uma nova cerca de segurança ao longo de toda a fronteira dos EUA com o México. Posição de Napolitano: É contra o plano de instalar a barreira em toda a fronteira entre os dois países, por acreditar que não resolverá o problema. O futuro secretário de Comércio, Bill Richardson, atual governador do Novo México, também é contra o projeto. Hillary X Obama Assunto: Irã Posição de Obama: Em campanha, o presidente eleito deixou claro que se dispõe a negociar com os ;tradicionais inimigos; dos EUA, como o Irã. Hillary, então sua rival, disse que essa visão era ;ingênua;. Posição de Hillary: Defende uma política mais rígida em relação a Teerã e não prevê muito diálogo. Nas prévias democratas, disse que os EUA iriam ;liquidar; o Irã em caso de ataque a Israel. Hillary e Gates X Obama Assunto: Iraque Posição de Obama: Sustenta que as tropas americanas no Iraque devem deixar o país em até 16 meses após a sua posse. Disse, no entanto, que vai ouvir os conselhos dos seus ;comandantes;. Posição de Hillary: A senadora foi muito criticada pelo rival, durante as prévias, por ter inicialmente apoiado a guerra. Agora, ela defende a importância de retirar as tropas, mas considera necessário um prazo maior que 16 meses. Posição de Gates: Nunca escondeu o desconforto em relação ao prazo de retirada das tropas do Iraque proposto por Obama. Para ele, é preciso ter ;cautela;, para sair do Iraque sem ;perder; a guerra. Cadeira cativa A filha de John Kennedy, Caroline Kennedy, foi sondada para ocupar a vaga que a futura secretária de Estado, Hillary Clinton, deixará aberta no Senado. A indicação cabe ao governador de Nova York, David Patterson, que já teria conversado com a ;candidata;. Além do pai, JFK, também foram senadores os tios Robert e Edward, atual patriarca do clã.

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