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Entrevista com Hasan-Askari Rizvi: Paquistão usou terror em prol de agenda política

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postado em 09/12/2008 07:40
Em entrevista ao Correio, Hasan-Askari Rizvi, estrategista militar paquistanês, explica as ligações entre o Paquistão e grupos extremistas acusados de promover um banho de sangue no país. Em 17 meses, militantes islâmicos promoveram mais de 90 explosões suicidas e deixaram 1.200 mortos. Por que o Paquistão é acusado pela Índia e por outras nações de ser conivente com grupos extremistas? Hasan-Askari Rizvi, estrategista militar paquistanêsOs grupos militantes islâmicos foram criados na década de 1980 pelo Paquistão e pelos Estados Unidos para combater as tropas soviéticas no Afeganistão. Esses grupos têm persistido desde então. O governo do Paquistão os utilizou para perseguir sua agenda política no Afeganistão e na Caxemira. Como esses grupos eram ativos na porção da Caxemira administrada pela Índia, é fácil acusar o Paquistão de ser suave com eles. Apesar de esses grupos existirem no Paquistão, a Índia tem seus próprios grupos extremistas muçulmanos e hinduístas, mas a Índia não fala sobre eles. Como estrangeiros também foram assassinados em Mumbai, a Índia pode acusar o Paquistão pelo incidente. O Paquistão enfrente tais acusações sempre depois de cada grande incidente terrorista na Índia. O senhor acredita que o serviço de inteligência paquistanês estaria realmente ajudando os radicais islâmicos? No passado, algumas agências de inteligência do Paquistão ajudaram esses grupos. Mas essa relação foi rompida em 2004. O Paquistão está lutando contra alguns desses grupos nas áreas tribais. Não há possibilidade de envolvimento oficial do Paquistão no incidente de Mumbai. No entanto, alguns grupos baseados no Paquistão podem estar envolvidos e não podem fazer uma operação pesada sem apoio local da Índia. Se isso foi feito por um grupo paquistanês, deve ter tido apoio de grupos indianos ou do submundo do crime. A existência das madrassas é o fator responsável pela disseminação da ideologia radical no Paquistão? As madrassas ou as escolas religiosas islâmicas promovem a ortodoxia e algumas delas estão ligadas à militância. Mas o treinamento não é realizado dentro das madrassas. Os extremistas geralmente treinam em áreas tribais ou outras regiões remotas. Antes de setembro de 2001, eles costumavam ir ao Afeganistão para treinar. O que podemos esperar das relações entre o governo de Barack Obama e o Paquistão? Espera-se que a administração Obama revise a política de usar aeronaves não-tripuladas nas áreas tribais do Paquistão. Esses ataques têm matado mais paquistaneses do que elementos da Al-Qaeda. Também têm capacitado o Talibã e outros militantes a mobilizarem apoio no Paquistão e a reforçar os sentimentos anti-Estados Unidos. O Paquistão é hoje um berço do terrorismo? Os grupos terroristas existem no Paquistão. Alguns elementos da Al-Qaeda também estariam em áreas tribais do Paquistão. Há alguns grupos militantes em território paquistanês também. Suas raízes datam da década de 1980, quando os extremistas se aproveitaram do apoio do Paquistão e dos Estados Unidos. Os EUA deixaram a região em 1990, mas o Paquistão continuou a manter relações com esses grupos. Agora, as relações estão tensas. Por isso há tantos atentados suicidas dentro do Paquistão. O Estado os combate nas regiões tribais.

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