postado em 09/12/2008 14:06
CARTUM - O ano de 2008 termina com uma série de insucessos em Darfur, onde a situação está sendo considerada mais perigosa do que nunca com uma missão de paz da ONU incapaz de proteger os civis e um possível indiciamento do presidente sudanês por genocídio - o que faz pressagiar dias sombrios em 2009.
A esperança de que as Nações Unidas e a União Africana tragam, por meio de uma força híbrida, uma certa estabilidade nesta província do oeste do Sudão, em guerra civil desde 2003, não se concretizou.
A Minuad, que deveria ser a maior missão de paz da ONU em todo o mundo, contava apenas no fim de novembro com 12.163 soldados e policiais, em vez dos 26.000 previstos.
"O genocídio continua", ressaltou em 3 de dezembro o procurador da Corte Penal Internacional, Luis Moreno Ocampo, que pediu aos juízes da CPI que emitam uma ordem de captura internacional contra o presidente Omar el-Bechir por genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade em Darfur.
Os magistrados devem decidir no início de 2009 se lançam ou não a primeira ordem de captura da CPI contra um chefe de Estado em exercício. Deflagrado pelo levante dos rebeldes contra o governo central, o conflito se tornou mais complexo com a divisão dos insurgentes.
Um cessar-fogo "incondicional" proclamado por Bechir em novembro em virtude de uma campanha visando a impedir seu eventual indiciamento, foi rejeitado pelos rebeldes, e os combates e bombardeios continuaram.
"Milhões de pessoas vivem sob a ameaça cotidiana da violência e dependem da ajuda humanitária, bloqueada pela insegurança e os obstáculos burocráticos", resumiu Julia Fromholz, uma funcionária da Human Rights First.
Segundo a ONU, quase 300.000 pessoas morreram no conflito de Darfur desde 2003, e 2,7 milhões fugiram da província. Cartum admite apenas 10.000 mortos. De acordo com as Nações Unidas, 4,7 milhões de pessoas recebem ajuda humanitária em Darfur. Vale lembrar que a província sudanesa tem uma população total de seis milhões de pessoas.
As operações de ajuda devem custar cerca de um bilhão de dólares em 2009. Os trabalhadores humanitários estão sob a ameaça constante dos rebeldes e dos bandidos. A insegurança nas estradas e o alto custo do transporte aéreo obrigaram as organizações humanitárias a reduzirem a ajuda.
Onze voluntários morreram em Darfur nos nove primeiros meses de 2008, e a ONU afirmou ter tido acesso a somente 65% da província.
A Minuad, por sua vez, ainda não conta com os 24 helicópteros necessários para cobrir todo o território de Darfur, e suas patrulhas são irregulares. Onze de seus soldados foram mortos desde o início das operações, em dezembro de 2007, sendo sete em uma emboscada em julho. Contudo, ainda há esperanças de que a Minuad se reforce e seja mais eficiente em 2009.
Reticente no início, o Sudão acabou cooperando com a força híbrida na perspectiva de um posicionamento mais completo. Em algumas áreas, militares sudaneses ajudaram os civis e facilitaram o acesso dos trabalhadores humanitários.
Em maio, os rebeldes do Movimento pela Justiça e a Igualdade (JEM) lançaram um ataque sem precedente contra Cartum, humilhando o Exército sudanês. Os esforços para resolver o conflito permitiram recentemente escassos progressos, com a nomeação de um novo mediador internacional para Darfur. O Qatar se prontificou para sediar as negociações.
No entanto, a perspectiva de uma paz negociada "não se aproximou, muito pelo contrário", alertou Alex de Waal, um especialista do Sudão. "Se o referendo para a autodeterminação da parte sul do Sudão for realizado nos dois próximos anos, e que o Sul se separar, acredito que teremos mais cinco anos de incerteza em Darfur. Portanto, a paz ainda está longe", explicou.