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Cineasta Manoel de Oliveira celebra 100 anos com mais um filme

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postado em 10/12/2008 10:56
LISBOA - O decano dos cineastas do mundo, o português Manoel de Oliveira, festejará 100 anos na próxima sexta-feira, dia 12 de dezembro, da maneira que mais gosta: filmando seu 46º longa-metragem. "Parar de trabalhar é morrer. Se me tirarem a câmera, morro", declarou recentemente o diretor, que roda "Singularidades de uma rapariga loura", adaptação de um conto do romancista Eça de Queiroz. Desde 23 de novembro, entre a pequena rua Anchieta, no antigo bairro lisboeta de Chiado, e um armazém de azulejos antigos, na mesma região, Manoel de Oliveira anda para cima e para baixo, demonstrando "energia e humor", segundo a atriz principal do filme, Catarina Wallenstein. "Ele sabe muito bem o que quer, mas como outros diretores tem muitas idéias que chegam durante as filmagens, quando está rodando. Então improvisa", conta a jovem atriz portuguesa de 22 anos. No filme, Macario (interpretado por Ricardo Trepa, neto do cineasta) relata a uma desconhecida em um trem seu amor por uma jovem loura. "'Singularidades de uma rapariga loura'" se baseia na idéia de contar a um desconhecido coisas que não se contam a um amigo, nem à esposa", explicou Oliveira semana passada. No dia do aniversário, sexta-feira, o cineasta pretende filmar alguns planos em Lisboa. Oliveira parece ter pressa. Não por uma razão de urgência ligada à idade, e sim porque gostaria que o longa-metragem entrasse na disputa do Festival de Berlim, em fevereiro de 2009. "Só descanso quando estou rodando", afirma, brincando a respeito de sua vitalidade. Desde seu primeiro filme em 1931, um documentário mudo sobre o Porto, sua cidade natal, chamado "Douro, trabalho fluvial", o cineasta dirigiu 44 longas-metrages, metade deles depois que completou 80 anos. Sobre a energia, comenta com simplicidade: "Não tenho nenhum segredo. É um capricho da natureza, que decide e rege tudo isto. Devemos respeitá-la". Nos últimos 20 anos, o cineasta português dirigiu o mesmo número de filmes, com média de um por ano. A parte essencial de sua obra foi realizada com mais de 60 anos, depois da revolução de 25 de abril de 1974 que acabou com a ditadura salazarista. No entanto, com o olhar protegido por óculos levemente escuros, afirma que ainda tem dificuldades para obter dinheiro para o próximo filme. Para continuar trabalhando, o cineasta português, que dirigiu grandes atores (Marcello Mastroianni, Catherine Deneuve, Michel Piccoli, John Malkovich, entre outros), está disposto a reviver as condições de seus primeiros filmes. "Eu fazia tudo sozinho: produção, direção. Estava atrás da câmera, era responsável pelo som e a imagem. Os atores eu encontrava no local. Transportava todo o necessário em um furgão: projetores, cabos, duas baterias de 24 volts para a iluminação", recorda. "Pode ser que um dia me veja obrigado a filmar de novo nestas condições se não conseguir financiamento", comenta, levemente apoiado em uma bengala que não parece precisar. Antes mesmo de concluir as filmagens de "Singularidades...", o cineasta já sonha com "O estranho caso de Angélica", que gostaria de apresentar em maio de 2009 no Festival de Cannes. "Não acredito que tenha tempo de fazer mais um para Veneza, em setembro", afirma, com falsa decepção e um amplo sorriso.

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