postado em 11/12/2008 07:44
O astrônomo Stefan Gillessen, do Instituto Max Planck para Física Extraterrestre (MPE) -- com sede em Garching (Alemanha) --, passou 16 anos produzindo o panorama mais detalhado das redondezas de um super buraco negro. Ele descobriu o gigantesco fenômeno no centro da Via Láctea, a 27 mil anos-luz da Terra. Em entrevista exclusiva ao Correio, Gillessen falou sobre o surpreendente achado em nossa galáxia.
Como o senhor e sua equipe descobriram esse imenso buraco negro? Quais são as principais características dele?
Nós descobrimos o buraco negro por meio da observação de estrelas que o orbitam. Por si só, o buraco negro não pode ser visto, mas nós conseguimos ver os efeitos de sua gravidade. Então, vemos estrelas circulando um ponto escuro no espaço. Os movimentos que vimos são os mesmos de planetas ao redor do Sol: órbitas elípticas que seguem a famosa Lei de Kepler. Para ver as estrelas, foi preciso que olhássemos através da galáxia. Isso não pôde ser feito à luz visível, mas por meio de infravermelho, a mesma radiação que faz com que sintamos o mormaço do Sol. Nós usamos modernos telescópios situados no Chile, perto de Antofagasta. Esses aparelhos também têm implementado uma técnica chamada ótica adaptativa, que permite anular os efeitos borrados da atmosfera terrestre. Finalmente, os telescópios são enormes -- seu espelho tem 8,2m de diâmetro. O buraco negro tem 4 milhões de vezes a massa do Sol. Se você fosse expressar isso em quilos, seriam 8.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000.000 (8 seguido de 36 zeros) kg. O diâmetro do buraco negro em si é um ângulo de 10 microarcsegundos. O tamanho é calculado com base na teoria de Einstein e em sua massa. A distância de 27 mil anos-luz da Terra sugere que o buraco negro seja 1/10 do tamanho da órbita da Terra. A localização dele é o centro da Via Láctea.
Qual o papel desse buraco negro em nossa galáxia?
O buraco negro atualmente é muito menos pesado do que a galáxia. A galáxia inteira pesa muitos bilhões de vezes mais do que o Sol. Surpreendentemente, ainda que o buraco negro fosse pesado, ele não seria dominante na galáxia. Nossa descoberta é muito impressionante por várias razões. O buraco negro no centro da Via Láctea é melhor prova de que os buracos negros realmente existem. Além disso, não vemos apenas poucas estrelas orbitando ao redor dele -- são 28. Ainda temos um quebra-cabeças: é preciso decifrar como essas estrelas podem ser vistas com tanta abundância onde nós as vemos.