postado em 11/12/2008 11:48
A Argentina cumpriu nesta quarta-feira 25 anos de retorno ao regime democrático, depois de viver a ditadura militar mais sangrenta da América do Sul. O analista político argentino Rosendo Fraga, diretor do Centro de Estudos União para a Nova Maioria, analisou para o Correio algumas das principais questões da política atual no país vizinho.
Levando em conta que a Argentina cumpre 25 anos de democracia, como o senhor avalia a evolução da situação política argentina?
Os 25 anos de democracia podem ser vistos com a visão clássica do copo meio vazio e meio cheio. No segundo caso, a Argentina cumpre pela primeira vez na história 25 anos de democracia e participação popular, já que no passado, os períodos de estabilidade mais longos foram sem voto popular. O sistema democrático foi posto à prova nas crises de 2001 e 2002, já que conseguiu se manter em situações nas quais não teria conseguido no passado.
O copo meio vazio mostra que a democracia não esteve em risco, mas sim esteve a estabilidade institucional, já que neste período quatro presidentes renunciaram antes da finalização do mandato e a composição da Suprema Corte foi modificada quatro vezes por razões políticas. A área social é a grande matéria pendente da democracia, já que os níveis de pobreza e desigualdade são mais altos que há um quarto de século atrás. A Argentina tampouco conseguiu um sistema de partidos sólidos, e o combate à corrupção e à insegurança são reivindicações pendentes para a sociedade.
Cristina Kirchner completa um ano de governo com uma imagem bastante desgastada perante a opinião pública argentina. Em sua opinião, qual foi o grande erro da presidenta? O que ela poderia fazer para melhorar sua imagem?
Ao assumir a Presidência, a imagem positiva de Cristina alcançava dois terços da opinião pública. Quando um presidente inicia sua gestão, tem o apoio de quem votou nele e de parte de quem não votou, porque querem que seja bem-sucedido e que o país vá bem. Agora, só um terço tem imagem positiva de Cristina.
A queda se deve a três causas: a perda de apoio do setor rural pelo aumento das retenções (impostos sobre as exportações de grãos), a degradação do respaldo de setores populares por conta da inflação e o aumento do mal-estar da classe média devido a um estilo de governo visto como autoritário. A isso somou-se a evidência de que é Nestor Kirchner quem exerce realmente o poder, o que contribuiu para debilitar a imagem de sua mulher.
Para que Cristina melhore sua imagem, deveria antes de tudo falar menos, reduzir sua exposição e seu desgaste, mostrar uma equipe de governo mais ativa, reunir o gabinete, adotar um estilo mais austero e frugal ao estilo de suas colegas de Alemanha (Angela Merkel) e Chile (Michelle Bachelet) e mostrar que sabe escutar e que tem seus próprios critérios, mas sem quebrar a aliança com Néstor. Não parece fácil.