postado em 16/12/2008 12:58
BAGDÁ - O irmão do jornalista iraquiano que no domingo jogou seus dois sapatos contra o presidente americano, George W. Bush, acusou nesta terça-feira (16/12) os serviços de segurança iraquianos de terem espancado Muntazer al-Zaidi, que teve o braço e algumas costelas quebrados.
"Segundo informaram os agentes de segurança, Muntazer foi detido pelos iraquianos na zona verde e espancado pelos serviços iraquianos de segurança", declarou seu irmão, Durgham, de 32 anos. A zona verde é o setor de alta segurança de Bagdá onde se concentram a administração iraquiana, a representação da ONU e as embaixadas dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha.
A entrevista coletiva durante a qual Muntazer atirou seus sapatos contra o presidente americano, que conseguiu se desviar habilmente, aconteceu no gabinete do primeiro-ministro, Nuri al Maliki, que fica na zona verde. "Ele está com o braço e várias costelas quebrados, e tem ferimentos no olho e na perna", denunciou Durgham. "Ele foi preso pelos serviços de Muaffak al Rube", conselheiro iraquiano de segurança nacional.
Muntazer al-Zaid, de 29 anos, participava de uma entrevista coletiva com Bush e al Maliki na noite de domingo, em Bagdá, quando decidiu arremessar seus sapatos contra o presidente americano, que no fim de semana fez uma visita surpresa ao Iraque. "Este é o beijo de despedida, seu cachorro", foi o que gritou al-Zaidi durante o "ataque", do qual Bush esquivou-se numa reação rápida.
O jornalista, que trabalha para o canal de televisão Al-Bagdadia, foi preso imediatamente e retirado do local pelos serviços de segurança iraquianos, enquanto gritava contra o presidente: "Você é responsável pela morte de milhares de iraquianos".
O episódio se transformou imediatamente em símbolo para a maioria do mundo árabe, que condena a invasão e ocupação do Iraque pelos EUA. Mostrar a sola do sapato e chamar alguém de cachorro são as piores coisas que se pode fazer para insultar alguém de acordo com a cultura árabe.
O comitê dos ulemás sunitas muçulmanos chamou al-Zaidi de "ícone da resistência contra a ocupação". No entanto, para vários iraquianos, não foi "apropriado" ofender um "convidado", o que vai contra a cultura de hospitalidade árabe, embora todos declarem odiar George W. Bush.
O Departamento de Estado americano considerou que Muntazer al-Zaidi agiu sozinho, e que sua única intenção era chamar a atenção. O governo iraquiano, por sua vez, considerou o episódio "vergonhoso", e exigiu que o canal Al-Bagdadia, com sede no Cairo, peça desculpas.