postado em 29/12/2008 13:01
HAVANA - A revolução cubana comemora 50 anos no dia 1º de janeiro depois de sobreviver à sucessão de seu líder Fidel Castro, à oposição dos Estados Unidos e à queda do bloco comunista, com êxitos, fracassos e desafios de mudanças para continuar de pé.
Símbolo de resistência frente a Washington para seus partidários ou ditadura pura e simples, segundo seus adversários, o regime comunista prepara uma celebração discreta da data na oriental Santiago de Cuba, epicentro da rebelião que o levou ao poder em 1959.
Na sacada da prefeitura onde há meio século Fidel Castro, então com 32 anos, proclamou o triunfo contra o ditador Fulgencio Batista, quem falará é seu irmão, Raúl, segundo está previsto na agenda das comemorações.
"Estamos preparados para resistir a outro meio século", sentenciou, às vésperas da comemoração, Raúl Castro, de 77 anos, presidente desde fevereiro e a quem Fidel delegou temporariamente o comando quando ficou doente em julho de 2006.
A festa acontece num momento em que o regime encara o desafio de garantir sua continuidade a transferência do comando dos líderes históricos para os mais jovens, sem que desencadeie disputas internas, num clima internacional favorável, com apoios na América Latina e às vésperas da tomada de posse do presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, que tem dado demonstrações de querer dialogar.
A revolução, na qual nasceram 70% dos 11 milhões de cubanos, resistiu em 50 anos a dez presidentes americanos, à invasão da Baía dos Porcos, em 1961, a crise dos mísseis em 1962, o embargo norte-americano e as carências do 'período especial' pelo desaparecimento da União Soviética.
Para decepção de alguns e tranqüilidade de outros, Cuba se mantém como o último bastião comunista do Ocidente, exibindo êxitos no campo social social e faltas no plano econômico e de liberdades civis.
Declarada socialista em 1961, a revolução pôs fim aos crimes da ditadura de Batista, nacionalizou propriedades, fez a reforma agrária, levou saúde aos cantos mais distantes da ilha e erradicou o analfabetismo, de 40% em 1959.
Hoje, Cuba conta com índices de saúde de primeiro mundo, mortalidade infantil de 5,3 para cada mil nascidos vivos - igual à do de Canadá e inferior à dos Estados Unidos-, expectativa de vida de 77 anos, descobertas científicas, títulos mundiais no esporte e uma vasta cultura.
"Não se pode pedir mais da revolução. Meus filhos estudam sem pagar um centavo, tenho saúde e não me falta comida. As pessoas que se queixam não lembram ou não sabem como era antes", afirma Sergio Abreu, um aposentado de 65 anos.
A Cuba revolucionária virou santuário da esquerda latino-americana e apoio dos regimes bancados por Washington. Mas seus críticos denunciam o autoritarismo, a educação impregnada pela ideologia, a exportação do comunismo, intolerância, censura, falta de liberdade de imprensa e de eleições democráticas - o Partido Comunista é o único legalizado -, e a inflexibilidade com a oposição, que contabiliza 220 presos políticos.
Em cinco décadas mais de 1,5 milhão de cubanos abandonou a ilha por motivos políticos e econômicos. Depois de uma vida modesta, mas igualitária e estável antes de acabar a ajuda soviética, as pessoas passaram a viver com salários de apenas 17 dólares, apesar dos subsídios e serviços grátis.
"Tenho que pegar no volante para ir vivendo", afirma Fernando, um economista que ganha a vida com sua moto-taxi ilegal em Santiago de Cuba. "Em 50 anos fizemos muitos avanços, mas passamos muitas dificuldades. É preciso mudar a economia", acrescentou.
O governo admite a urgência de resolver problemas como insuficiência salarial, ineficiência produtiva, burocracia, brechas sociais, corrupção e os roubos do Estado. "Mudanças, pouco a pouco, dentro do socialismo", prometeu Raúl Castro em 2007, abrindo esperanças de abertura numa economia controlada 90% pelo Estado.
Amigos e inimigos acreditam que, aposentado e sem aparecer em público há dois anos e meio, Fidel Castro exerce sua ainda poderosa influência na evolução ou paralisai das mudanças, como zeloso guardião de uma revolução que, concordam uns e outros, deixou sua marca no século XX.