postado em 30/12/2008 07:42
A palestina Gheeda Hamdan, de 28 anos, conhece a exata noção da dor de um conflito irracional. Moradora de Deir El-Balah, a 20 minutos da Cidade de Gaza, a farmacêutica tenta convencer a reportagem sobre a insensatez da violência e indica sites com fotografias de bebês sendo enterrados, um homem com metade da perna destroçada e o corpo pálido de um garoto carregado por socorristas em desespero. ;Ninguém acreditaria no que ocorre por aqui. Escutamos bombas vindas de todos os lugares durante o dia;, relata. ;Os aviões preenchem o céu, arruinam mesquitas e casas, ameaçam até mesmo hospitais;, acrescenta.
Na manhã de domingo, o vizinho Husam Adnan, de 24 anos, caminhava pela rua e, ao passar por uma delegacia de polícia, acabou atingido pelos destroços, depois que um míssil israelense acertou em cheio o prédio. Sua cabeça foi encontrada separada do corpo. Raaesa, mãe de Husam, sequer pôde ver o filho. Ahmed Ibraheem, primo da mãe de Gheeda, também tinha 24 anos e morreu no sábado passado, quando o escritório onde trabalhava como contador desabou ao receber o impacto de uma bomba.
;Eles querem varrer a Faixa de Gaza do mapa, o que é impossível. Será preciso que Israel ou a Palestina se renda, não importa o tempo que isso leve;, afirma Gheeda. A jovem admite que muitos palestinos já pensaram em escapar da morte. ;O problema é que não há saída, as fronteiras estão fechadas, estamos trancados em Gaza há um ano e meio;, explica. Mesmo que a fuga fosse uma opção ;praticamente impossível ;, muitos palestinos não cogitam cortar suas raízes. ;Ficaremos em nossas casas como se fôssemos árvores presas ao chão, até o último suspiro;, garante Nadeena Nabil, estudante da Universidade Islâmica de Gaza. O prédio da instituição, suspeita de manter laços com o movimento fundamentalista Hamas, foi reduzido a pó na manhã de ontem. Nadeena diz que os palestinos não desistirão de obter um Estado autônomo. ;Amamos nosso lar, nosso país, e morreremos por ele.;
Sirene
A pouco mais de 30km da Faixa de Gaza, Ashkelon ; cidade israelense com 150 mil habitantes ; vive entre o medo e a incerteza. Por volta das 23h (19h em Brasília), Ilan Halfon, de 26 anos, conversava pela internet com a reportagem quando ouviu explosões sucessivas. ;A sirene soou em toda a cidade, escutei a voz de uma mulher que repetia as palavras ;cor vermelha;;, conta o rapaz. No mesmo momento, o site do jornal Haaretz anunciava a onda de ataques com mísseis palestinos Qassam. ;Temos apenas 15 segundos para buscar refúgio, é difícil para famílias com crianças alcançar um local protegido;, acrescenta.
A paulistana Dora K., de 29 anos, vive na mesma cidade desde 2006; em Israel, já são 10 anos como cidadã. ;Estamos sofrendo muitos ataques e chegou a hora de nos defender. O que temos passado por aqui é uma boa causa, pois apenas queremos a paz;, afirmou, por telefone, ao Correio. Segundo ela, os dias começam com as sirenes antiaéreas soando até sete vezes. Um dos quartos do apartamento onde mora a família foi transformado em um bunker. É lá dentro que Dora e a filha de 10 meses passam boa parte do dia. Quando ela é surpreendida pelas sirenes fora de casa, a impotência a domina. ;Alguns dias atrás eu estava com minha filha e, ao ouvir o barulho, abandonei o carro no meio da rua e entrei no primeiro prédio que encontrei;, conta. Dora acha que, apesar do massacre no território vizinho, a paz está chegando. ;O Hamas achava que estava com toda a força. Os próximos dias serão difíceis tanto para israelenses como para palestinos, mas esse é o preço da paz;, comenta. Para a paulistana, o retorno ao Brasil está fora de cogitação. ;Amo Israel, sou judia e me casei com um israelense.;
Tristeza é o que a professora carioca Debora Baron Wladimirski, de 29 anos, sente ao pensar nos mais de 315 mortos no território palestino. Moradores do kibutz Hatzerim, perto da cidade de Beersheva (Israel) ; a 40km da Faixa de Gaza ;, ela e o marido, Luciano, apóiam as Forças de Defesa de Israel (IDF, pela sigla em inglês). ;Desde 2000, todos os dias, eles (Hamas) mandavam dezenas de (foguetes) Qassam para Israel, e nosso país nada fazia;, lembra. ;Na hora em que Israel resolve dar um passo para ajudar seus cidadãos, vemos esse alarde mundial.; A principal preocupação de Debora é com o filho de 1 ano. ;Quando vou dormir à noite, fico com medo de deixar meu bebê sozinho no quarto ao lado.;
Debora Baron Wladimirski, 29 anos, professora, carioca, moradora do kibbutz de Hatzerim, a 20km de Ashkelon (Israel) conta o drama de viver próxima a área de conflito entre Israel e palestinos