postado em 30/12/2008 09:21
GAZA - A ofensiva militar israelense contra o Hamas na Faixa de Gaza, que já provocou mais de 360 mortos, está apenas na primeira fase e pode durar semanas, advertiu nesta terça-feira (30/12) o Estado hebreu, que mantém suas tropas terrestres preparadas para entrar no território palestino.
"As operações aéreas e marítimas do Exército israelense constituem a primeira fase entre várias já aprovadas pelo gabinete de segurança", disse o primeiro-ministro, Ehud Olmert, durante uma reunião com o presidente Shimon Peres.
Já o vice-ministro da Defesa, Matan Vilnai, afirmou que Israel está disposto a lutar durante semanas contra o movimento radical palestino Hamas. "Estamos preparados para um conflito prolongado e para semanas de combate", declarou à rádio pública israelense. "O Hamas ainda dispõe de centenas de foguetes, mas perde força a cada dia. Queremos fazer uma mudança radical na situação de segurança no sul de Israel", afirmou.
Mais cedo, a porta-voz do Exército hebreu afirmou que as forças terrestres israelenses estão prontas para atuar contra o Hamas em Gaza, que no entanto não divulgou uma data precisa para a ação. "As forças terrestres estão prontas para atuar. Todo mundo está em sua posição em terra", declarou a porta-voz, Avital Leibovitz.
"A opção existe. Pode ser aplicada, mas no momento só atacamos por ar e pelo mar", acrescentou. "Restam muitos objetivos que ainda não atacamos", destacou a porta-voz. "Agimos de acordo com o plano inicial e constatamos sinais de enfraquecimento no Hamas. Mas isto não significa que tenha perdido a capacidade de disparar foguetes contra Israel", explicou a porta-voz.
No quarto dia da ofensiva israelense, os ataques aéreos prosseguiram durante a madrugada e a manhã desta terça-feira na Faixa de Gaza. Duas irmãs palestinas de 4 e 11 anos, Lama e Haya Hamdan, morreram em um bombardeio que teve como alvo um carro puxado por uma mula em Beit Hanun, norte da Faixa de Gaza.
Na região de Khan Yunes, sul da Faixa de Gaza, um palestino morreu e dois ficaram feridos em um ataque aéreo contra um posto policial do Hamas.
Pelo menos 360 palestinos, em sua maioria membros do Hamas, mas também mais de 50 civis, morreram e 1.700 foram feridos desde sábado na ofensiva aérea israelense contra o movimento radical islamita, segundo o diretor dos serviços de emergências de Gaza, Muawiya Hasanein.
Entre os mortos há 39 crianças e 13 mulheres, acrescentou. No mesmo período, quatro pessoas morreram em Israel pelos disparos de foguetes palestinos, que o Hamas continua lançando contra Israel apesar da grande operação militar. Três foguetes palestinos caíram, sem provocar vítimas, nesta terça-feira na cidade israelense de Sderot (sul).
Em uma tentativa de acabar com a violência, três escritores israelenses de renome, David Grossman, Amos Oz e A.B. Yehoshua, se pronunciaram a favor de um cessar-fogo imediato com o Hamas. "Para não adicionar mais mortos e mais destruição, devemos cessar total e unilateralmente o fogo durante 48 horas, e inclusive se os palestinos dispararem contra Israel, não responderemos", escreveu Grossman no jornal Haaretz.
"Chegou o momento de um cessar-fogo total, esperando que os palestinos deixem de disparar contra nós e que, em troca, suspendamos o bloqueio imposto à Faixa de Gaza", afirmou Amos Oz ao jornal italiano Corriere della Sera. No entanto, o ministro israelense das Infra-Estruturas, Binyamin Ben Eliezer, descartou a possibilidade.
"Israel não está interessado neste momento em um cessar-fogo com o Hamas na Faixa de Gaza. Se acontecer um cessar-fogo, isto permitirá ao Hamas recuperar suas forças e preparar um ataque mais duro contra Israel", declarou.
As autoridades israelenses afirmam que a operação militar, de uma violência inédita desde a ocupação dos territórios palestinos por Israel em 1967, tem como objetivo acabar com os disparos de foguetes palestinos a partir de Gaza, território controlado pelo Hamas desde junho de 2007.
Ainda nesta terça-feira, uma lancha da Marinha de Israel impediu a entrada de um barco com militantes pró-palestinos que tentava romper o bloqueio imposto por Israel à Faixa de Gaza com ajuda humanitária, informou a rádio militar israelense.
O "Dignity" havia sido fretado pelo 'Free Gaza Movement' para levar ajuda médica a Gaza. Os organizadores da travessia confirmaram o choque com a lancha israelense, mas afirmaram que os danos sofridos pelo "Dignity" não impedem a navegação.
Segundo a rádio, embarcação militar fez vários disparos de advertência e a tripulação afirmou que prevalecia uma situação de guerra em Gaza e que o barco deveria retornar, mas este tentou evitar a lancha, que então bloqueou a passagem e provocou a colisão.
Ninguém ficou ferido, mas os dois barcos sofreram avarias. Em seguida, a embarcação dos militantes pró-palestinos voltou para alto-mar. A bordo do "Dignity" viajavam, entre outros, Cynthia McKinney, ex-congressista americana e candidata do Partido Verde à presidência, e Sami al-Hajj, jornalista do canal Al-Jazeera que esteve detido em Guantánamo.
Paul Larudee, um dos fundadores do 'Free Gaza Movement', afirmou que o barco foi cercado a 70 km da costa israelense, em águas internacionais, e 135 km do destino em Gaza.
"Foi cercado por 11 barcos israelenses. Ordenaram a nosso barco que parasse e foi isso que fizemos. Começaram a atirar em direção a nosso barco e na água ao redor. Como nosso barco não deu meia-volta, um dos navios se chocou contra ele, mas não o suficiente para impedir a navegação", disse.
O "Dignity", que fez cinco viagens a Gaza desde agosto, apesar do bloqueio israelense, transportava de três a quatro toneladas de material médico.