postado em 31/12/2008 14:28
Insurreição sangrenta, explosão da criminalidade, tráfico de drogas, corrupção: o ano de 2008 termina com a constatação alarmante de que o Afeganistão está preso em "uma espiral descendente", apesar do compromisso renovado da comunidade internacional.Com 272 mortos, americanos em sua maioria, entre 1; de janeiro e 6 de dezembro, 2008 foi o ano mais sangrento para os 70.000 soldados estrangeiros estacionados no país. Com esse quadro, o presidente eleito Barack Obama já prometeu retirar as tropas americanas do Iraque e reforçar o contingente no Afeganistão.
Os rebeldes - entre os quais os talibãs derrubados do poder no final de 2001 e grupos armados ligados a ex-chefes da resistência anti-soviética, como Gulbuddin Hekmatyar, ou Jalaluddin Haqqani - multiplicaram os ataques espetaculares.
Em 14 de janeiro, um atentado foi cometido contra o luxuoso hotel Serena, em Cabul. No dia 27 de abril, o presidente Hamid Karzai foi alvo de uma tentativa de assassinato durante uma parada militar. Em 7 de julho, um atentado suicida contra a embaixada da Índia deixou 60 mortos.
A insurreição não se limita aos atentados. Em julho, nove soldados americanos morreram em um ataque contra seu posto avançado no leste do território. Em agosto, dez militares franceses foram mortos em uma emboscada, a menos de 60 km de Cabul.
Nas fileiras afegãs, mais de 980 policiais e 260 soldados foram mortos, desde 21 de março de 2008, data do novo ano no país.
São os civis, porém, que pagam a conta mais alta e triste dessa guerra. De acordo com as Nações Unidas, entre janeiro e agosto de 2008, 1.445 civis morreram em episódios violentos - em 55% dos casos, foram vítimas de ataques dos insurgentes. A ONU também relata 393 civis mortos em ataques aéreos, que provocam a ira da população e das autoridades nacionais.
"Os insurgentes se protegem com escudos humanos, na maioria das operações. Eles se escondem atrás de mulheres e crianças para forçar o risco de perdas civis", denuncia o porta-voz da Força Internacional de Assistência à Segurança (Isaf), general Richard Blanchette. Milhares de rebeldes também morreram nos combates este ano.
Em outubro, a Casa Branca iniciou uma revisão de sua estratégia para esse país do centro-oeste da Ásia, após a análise dos serviços de inteligência de que o Afeganistão se encontra em "uma espiral descendente". No relatório, os especialistas americanos alertam para o aumento da violência e para o fracasso do governo de lutar contra a corrupção e o tráfico de drogas.
Embora tenha registrado uma ligeira queda, com 7.700 toneladas em 2008, o Afeganistão ainda representa mais de 90% da produção mundial de ópio, de acordo com as Nações Unidas. O setor lucra pelo menos 4 bilhões de dólares por ano, metade do Produto Interno Bruto (PIB) afegão. Desse total, uma parte financia os talibãs.
No início de outubro, os países da Otan se puseram de acordo sobre atacar o tráfico de heroína no Afeganistão.
Ainda assim, "há sinais de progresso, como a melhora das relações com o Paquistão, ou a alta do número de províncias livres de qualquer cultivo de ópio", destaca o porta-voz das Nações Unidas no Afeganistão, Adrian Edwards.
Em agosto, ou setembro, de 2009, os afegãos devem ir às urnas para eleger seu novo presidente, e o clima é de desilusão. Uma pesquisa da Asia Foundation revelou que apenas 38% da população acredita que o país esteja no caminho certo. "Sim, há uma frustração em relação ao governo atual, mas ninguém quer ver os talibãs de volta ao poder", garante o general Blanchette.
A renovação do compromisso financeiro da comunidade internacional com o Afeganistão parece ser o evento mais importante, para esse país, em 2008.
Na conferência de Paris, em junho, 20 bilhões de dólares para o desenvolvimento e para a reconstrução foram prometidos para ajudar a erguer o Afeganistão, devastado por 30 anos de guerra e considerado o quinto país mais pobre do mundo.