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2008, o ano da consolidação do poder dos Kirchner na Argentina

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postado em 31/12/2008 14:36
O poder de Nestor Kirchner na política argentina se consolidou hegemônico em 2008 com a chegada de sua mulher, Cristina Kirchner, à presidência do país como sua sucessora - mas foi manchado, no entanto, por um conflito com agricultores, pelos choques com a classe média, pelas várias promessas não cumpridas e por uma enorme fuga de aliados.

A popularidade do governo peronista social-democrata despencou dos iniciais 65% para míseros 25%, em um pesadelo político para o casal Kirchner, que começou quando um promotor dos Estados Unidos denunciou que Cristina havia usado dinheiro contrabandeado da Venezuela para financiar sua campanha eleitoral.

"É uma operação ;basura; da inteligência (americana)", reagiu furiosa Cristina Fernández de Kirchner, na época recém-assumida, alegando uma operação de difamação contra ela.

Mas o julgamento do caso de uma maleta com 800.000 dólares confiscados com o empresário Guido Antonini Wilson em Buenos Aires, que viajava a bordo de um avião oficial, condenou um grupo de espiões venezuelanos em Miami e levantou suspeitas sobre o novo governo.

Apenas quatro meses depois de receber a Casa Rosada de seu marido, Cristina Kirchner se viu pressionada por um feroz conflito com os produtores agrícolas da Argentina em torno da multimilionária renda agrária do país.

"Não querem distribuir a riqueza", acusava a presidente, referindo-se aos agricultores em greve - que, no entanto, receberam apoio integral da classe média e da oposição em sua cruzada contra a alta dos impostos sobre as exportações de alimentos.

Só a soja, cuja colheita anual estava avaliada em 24 bilhões de dólares, representa pouco menos da metade do total de exportações argentinas.

"Isso é um confisco", bradavam do outro lado os produtores, no maior protesto agrário em 100 anos, com 128 dias de duração em meio a tensões, panelaços, greves, manifestações e uma verdadeira guerra de insultos, até que os planos do governos fossem derrotados definitivamente no Parlamento.

A pá de cal foi jogada pelo próprio vice-presidente, Julio Cobos, que teve o voto de Minerva como titular do Senado, dando início a uma deserção de aliados da União Cívica Radical (UCR, social-democrata), a segunda maior força parlamentar.

Cobos, celebrado pela classe média como um messias, se tornou um opositor ferrenho dentro do próprio governo, enquanto poderosos líderes peronistas desencantados o acompanharam, passando para o lado da oposição.

"O vice-presidente votou a favor de acordos e consensos. Estamos em uma Argentina muito dividida", estimou a socióloga e consultora Graciela Rommer.

A derrota irritou o casal Kirchner, que passou a se empenhar para vestir sua iniciativa com as roupas de uma batalha contra a oligarquia, apesar dos cinco maiores grupos agroexportadores do país se manterem à margem do conflito.

"A classe média urbana foi solidária com a classe média rural. O governo foi pouco cuidadoso com seu aumento de impostos", disse Torcuato Di Tella, sociólogo e ex-secretário de Cultura.

"Se a esquerda peronista dizia que o peronismo é o fardo maldito do país burguês, podemos dizer agora que a classe média é o fardo maldito do país peronista", comentou Carlos Altamirano, professor e pesquisador da Universidade de Buenos Aires.

Em outro golpe súbito, agora estatizante, o governo de Cristina Kirchner extingüiu os fundos de pensão privados, e está a um passo de expropriar a endividada companhia aérea Aerolíneas Argentinas.

Encurralados por todos estes desgastes e pelo esfriamento da economia por causa de uma crise mundial subestimada pelo governo, o casal Kirchner agora olha para 2009, principalmente para as eleições parlamentares que se aproximam.

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