postado em 04/01/2009 17:24
WASHINGTON - Bill Richardson, escolhido pelo futuro presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para secretário de Comércio, acaba de recusar o cargo, devido a uma investigação judicial feita numa empresa que mantém negociações com o Estado do Novo México, do qual é governador.
Ao ser consultado sobre o caso, Obama disse que aceitava o afastamento de Richardson "com profundo pesar" e que procuraria rapidamente uma substituição, antes da posse, no dia 20 de janeiro. Bill Richardson, de 61 anos, anunciado no dia 3 de dezembro como secretário de Comércio da próxima Administração americana, é um veterano da equipe Clinton, cuja adesão a Barack Obama colocou o peso da comunidade hispânica ao lado do primeiro presidente negro eleito dos Estados Unidos.
"Bill traz estatura internacional e uma profunda compreensão da economia mundial atual. Compreende que os êxitos comerciais atuais em Detroit, ou Columbus, freqüentemente, dependem de conseguir vender produtos em lugares como Santiago ou Xangai", disse Obama na época, ao apresentar Richardson à imprensa. "Chegou a hora de não apenas enfrentar nossas ameaças econômicas diretas, mas também de começar a assentar as bases para a prosperidade econômica de longo prazo", completou Obama.
"À nossa comunidade latina, obrigado por seu apoio e por sua confiança, por seus votos em nosso canditato e agora presidente eleito (...) Essa eleição mostrou nossa força e nossa unidade", disse Richardson, em espanhol, durante a entrevista. "Aos milhões de habitantes da América Latina e do Caribe: é preciso fortalecer nossos laços e lembrar a importância de um hemisfério unido", acrescentou.
"Acho que as pessoas vão presenciar um dos gabinetes mais diversos já vistos na Casa Branca", respondeu Obama aos jornalistas, ao ser questionado sobre futuras nomeações de hispânicos. A escolha de Richardson reforçava o perfil veterano e "clintoniano" do governo Obama e é um prêmio para os quase sete milhões de votos hispânicos que conseguiu nessa eleição, comentavam os analistas.
Filho de mãe mexicana e pai americano, Bill Richardson é o único governador de origem hispânica à frente de um estado nos EUA - o Novo México (sudoeste). Nascido em 15 de novembro de 1947, passou a infância no México e fala inglês tão bem quanto espanhol. Durante 15 anos (1983-1997), Richardson foi representante do Novo México no Congresso antes de representar os EUA nas Nações Unidas, no segundo mandato de Bill Clinton, que o nomeou secretário de Energia (1998-2001).
Richardson queria ser jogador de beisebol, mas acabou se formando em Direito na Universidade Tufts, antes de fazer mestrado em Relações Internacionais. Corpulento e de voz forte, adora fazer campanha em seu estado e, em 2002, apertou 13.392 mãos em uma feira agrícola, um recorde mundial. No outono de 2007, entrou na corrida pela indicação democrata à Casa Branca, mas foi derrotado. Seu apoio público a Obama, em março, durante a disputa entre o senador negro e Hillary Clinton, foi decisiva para a escolha do senador e vista como uma traição pela ex-primeira-dama e também senadora, aliás, sua futura colega de gabinete.
Richardson era um dos cotados para o cargo de secretário de Estado de Obama, que acabou indo para Hillary Clinton. Conhecido como o "Indiana Jones" da diplomacia americana, construiu sua reputação graças a encontros cara-a-cara com líderes incluídos na lista de inimigos dos EUA, como Saddam Hussein, ou Fidel Castro. Já foi criticado por sua preferência pela midiatização, em detrimento do trabalho governamental de base, mas também deixou sua marca como um parlamentar ativo e negociador.
Casado há 33 anos, foi indicado várias vezes ao Prêmio Nobel da Paz justamente por suas negociações para a libertação de reféns, prisioneiros políticos e soldados americanos. De Pyongyang, por exemplo, obteve a repatriação dos restos de soldados americanos mortos na Guerra da Coréia.
Durante uma negociação com o ex-presidente iraquiano Saddam Hussein conseguiu libertar dois americanos detidos no Iraque por violar a fronteira. Também liderou missões negociadoras em Cuba (1996), dialogou com a junta militar no poder em Mianmar, com o ex-dirigente militar do Haiti Raul Cedras, convencendo-o a entregar o poder, e com a Nicarágua. Em 2006, foi nomeado enviado especial encarregado de temas migratórios na Organização dos Estados Americanos (OEA), para melhorar o diálogo entre Estados Unidos e América Latina.