postado em 06/01/2009 07:36
Ariel Sharon era considerado um demônio pelos palestinos. Um dos políticos de maior sucesso da história de Israel, o general foi primeiro-ministro e está prestes a completar três anos em coma. Quando morrer, Sharon, que foi substituído por Ehud Olmert, atual primeiro-ministro, talvez seja mais lembrado por seu envolvimento nos massacres nos campos de refugiados de Sabra e Shatila, em 1982.
Uma coisa, porém, não se pode negar: Sharon evoluiu. Em seu mandato, notou que de nada adiantava Israel manter presença civil e militar na Faixa de Gaza. Resolveu devolver o território para os palestinos em 2005 e também fechou algumas poucas colônias judaicas na Cisjordânia. O general que tanto sofrimento causou aos seguidores de Yasser Arafat havia, enfim, proporcionado alguns meses de trégua e relativa calmaria aos inimigos históricos.
Os palestinos devem ter saudades desse passado recente, quando parecia que o Mapa do Caminho, um documento já esquecido em meio a tantas barbáries, poderia mesmo levar à criação do Estado palestino com fronteiras estabelecidas. Sharon criou o Partido Kadima porque sua antiga legenda, o Likud, não acreditava nessa estratégia de negociação e concessões. Hoje, porém, a comunidade internacional se pergunta se este Kadima administrado por líderes emergentes, como Olmert e a chanceler Tzipi Livni, saberá levar o diálogo adiante.
Caso não encontre uma saída confortável ao conflito em Gaza, caso seja novamente obrigado a se retirar sem interromper a chuva de foguetes sobre seu território - como ocorreu na guerra contra o Hezbollah, em 2006 -, o Kadima corre sério risco de tornar um experimento fracassado na política de Israel. A fórmula de utilização de força desproporcional contra os palestinos tem cada vez menos respaldo em governos europeus e de outros continentes, com exceção dos Estados Unidos, que a qualquer custo apoiam os aliados tradicionais.
Por isso, um confronto de longa duração aumentaria de maneira irreparável o desgaste israelense perante autoridades européias e mundiais. Sharon era um general que teve de se adaptar à política. Na tentativa de mostrar seus dotes militares, a atual liderança do Kadima se permite um exagero capaz de enterrar os propósitos sobre os quais foi fundado.