postado em 06/01/2009 12:22
NABLUS - Um estudante de barba longa confessa em voz baixa sua participação na organização islamita Hamas e verifica se não está sendo observado por nenhum colaborador da Autoridade Palestina, pois, na Cisjordânia, apesar da solidariedade com Gaza, os palestinos se encontram divididos.
"Entrei para o Hamas em 1999 e me envolvi com no braço armado, as Brigadas Ezzedine al-Qassam, em 2001", conta, sem revelar sua identidade, o jovem de 25 anos, estudante de economia islâmica, no campus da Universidade Al-Najah de Nablus.
Na cidade, assim como em todo o território, a pressão sobre o Hamas, iniciada em agosto de 2007 pela Autoridade Palestina do presidente Mahmud Abbas, transformou o movimento islamita em algo invisível e fez com que sua popularidade ficasse difícil de avaliar.
"Em outubro de 2002, o exército israelense me deteve. Saí da prisão em 2008 e retomei meus estudos", continua o estudante. "Na prisão, eu imaginava que éramos um único povo, mas depois de minha libertação vi a dimensão das divisões entre os dois campos", testemunha o jovem, agora prestes a se casar, dizendo que abandonou a luta armada.
"Na Universidade agora ninguém diz que pertence ao Hamas, mas podemos notar pela aparência e o comportamento", explica. "Inclusive há gente dos serviços de inteligência palestinos entre os estudantes", acrescenta. Segundo ele, as detenções arbitrárias e o desemprego perseguem os estudantes suspeitos de pertencer ao movimento islamita. "É durante o período de provas que a Autoridade Palestina prende mais estudantes, para que fracassem", diz.
"A Autoridade continua demitindo os professores contratados pelo governo do Hamas", declara por sua vez Muna Mansur, deputada do Hamas. "Todos os estabelecimentos relacionados com o Hamas na Cisjordânia foram fechados, ou pelo exército israelense ou pela Autoridade Palestina, ao todo 113", acrescenta.
"Em muitos casos, se limitam a retirar do nome do estabelecimento a palavra 'islamita' e a substituir a direção por membros do Fatah", o partido de Mahmud Abbas", destaca a deputada, viúva de um dirigente do Hamas assassinado em 2001 pelo exército israelense.
Apesar da participação de militantes do movimento em uma manifestação em defesa de Gaza sexta-feira, uma novidade em Nablus em um ano, ele culpa os serviços de segurança de terem fichado e detido todos os que agitavam as bandeiras verdes do Hamas.
Cerca de duas mil pessoas desfilaram, partidários do Fatah e do Hamas, cada um gritando suas palavras de ordem, segundo vários testemunhos. O Hamas suspeita que Mahmud Abbas queira se aproveitar da ofensiva israelense para reconquistar Gaza, um projeto definido na segunda-feira como "impensável" pelo presidente da Autoridade Palestina.