postado em 07/01/2009 16:05
A expulsão do embaixador de Israel na Venezuela mostra claramente a rejeição geral na América Latina da ofensiva israelense contra a Faixa de Gaza, um sentimento alimentado pela tradicional desconfiança dos países da região com relação aos Estados Unidos, aliados de Israel.
O presidente venezuelano Hugo Chávez, líder da esquerda radical latino-americana, deu o tom ao ordenar na terça-feira a expulsão do embaixador israelense de Caracas, depois de ter qualificado o Estado hebreu de "assassino" e "genocida".
"O presidente de Israel deveria ser julgado pela Corte Penal Internacional, junto com o presidente dos Estados Unidos", disparou Chávez, que considera o Exército israelense como "o braço armado do império ianque" no Oriente Médio.
"A reação da América Latina vem de um forte sentimento antiamericano, que se transpôs para o Oriente Médio", explicou o especialista em política argentino Pablo Kornblum, contactado por telefone pela reportagem.
Segundo ele, os países da região "não têm nada contra Israel, mas sabem que o Estado hebreu é patrocinado pelos Estados Unidos, algo que lhes lembra o apoio de Washington às ditaduras latino-americanas" nos anos 70.
A Venezuela, um Estado rico em petróleo que fortaleceu suas relações com o Irã desde a chegada de Chávez ao poder, sugeriu o estabelecimento de "uma ponte aérea humanitária com a comunidade árabe e muçulmana" para encaminhar alimentos e remédios à Faixa de Gaza.
Os demais governos de esquerda da região que criticam o "imperialismo americano" também denunciaram a ofensiva israelense, que já deixou quase 700 mortos e 3.000 feridos desde seu lançamento, em 27 de dezembro.
O presidente boliviano, Evo Morales, pediu na semana passada o fim desta "intervenção brutal", e acusou a Casa Branca de apoiar uma "invasão criminosa contra os palestinos".
"O governo dos Estados Unidos não pode continuar a utilizar um país como Israel para invadir países que vivem um processo de libertação", considerou.
No Equador, a comissão legislativa encarregada de aplicar a reforma constitucional do presidente socialista Rafael Correa denunciou "o terrorismo de Estado e os crimes contra a humanidade" praticados pelo Estado hebreu.
No âmbito diplomático, a maioria dos países pediu o fim da ofensiva israelense. O México, que vai ocupar uma cadeira de membro não permanente na próxima reunião do Conselho de Segurança da ONU, condenou um "uso excessivo da força" do lado israelense, mas também os disparos de foguetes palestinos.
Até a Colômbia, aliada dos Estados Unidos e de Israel, dois países que lhe forneceram treinamento e equipamento militar para combater as Farc, pediu o fim de "todas as agressões militares".
A ofensiva israelense também foi condenada em manifestações no Brasil, na Argentina e na Bolívia, onde as comunidades de origem árabe receberam o apoio de movimentos sociais.
O governo brasileiro condenou o que qualificou de "ações desproporcionadas" de Israel na Faixa de Gaza, e se posicionou em favor de um cessar-fogo imediato. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez duras críticas à ONU e aos Estados Unidos por não terem aprovado uma resolução para impor uma trégua na Faixa de Gaza. "A ONU não tem coragem para aprovar uma resolução que imponha a paz naquele lugar, isso porque os Estados Unidos têm poder de veto", denunciara Lula no dia 30 de dezembro.
Em comunicado publicado nesta quarta-feira, na Argentina, o Centro Simon Wiesenthal, que organiza a perseguição aos ex-criminosos nazistas, criticou o Partido dos Trabalhadores (PT) de Lula por ter comparado a ação do Exército israelense às "práticas nazistas".
Representantes das comunidades árabes, das organizações sociais e dos partidos de esquerda argentinos promoveram uma grande reunião na terça-feira em Buenos Aires. Alguns participantes defenderam a ruptura das relações com Israel.
"Nós, povos do mundo, falamos à direita que governa Israel que pare com o genocídio", afirmou Luis D'Elia, um líder sindical argentino.
Cerca de 700.000 descendentes de árabes vivem na Argentina, constituindo a segunda maior comunidade árabe latino-americana depois da brasileira, segundo a Organização Islâmica para a América Latina (OIAL).
A Argentina também abriga a maior comunidade judia da região, com 300.000 pessoas, que convocou uma manifestação de apoio a Israel.