postado em 07/01/2009 16:45
Os habitantes da Cidade de Gaza se precipitaram às ruas nesta quarta-feira (07/01) para renovar o estoque de alimentos e água, graças a uma pausa de três horas nos bombardeios israelenses decidida depois de uma iniciativa egípcia em favor de uma trégua, que recebe um apoio internacional crescente.
Pouco depois da entrada em vigor desta pausa, às 09H00 de Brasília, filas se formaram diante das lojas da cidade. Os moradores puderam comprar mantimentos sem temer ataques pela primeira vez desde o início da ofensiva israelense na Faixa de Gaza, no dia 27 de dezembro.
Centenas de palestinos também se dirigiram às fontes públicas para encher galões de água.
As agências humanitárias denunciaram uma crise humanitária "total" no território palestino pobre e densamente povoado. A ofensiva provocou uma grave penúria de alimentos, água e combustível, assim como cortes constantes de eletricidade.
Assim que o período de três horas terminou, os bombardeios recomeçaram e deixaram quatro mortos em Jabaliya, no norte da Faixa de Gaza.
Um porta-voz militar, Peter Lerner, destacou que esta pausa diária de três horas, entre 09H00 e 12H00 de Brasília, tem como objetivo permitir a chegada da ajuda humanitária e oreabastecimento da população, e facilitar o trabalho das organizações humanitárias. Segundo ele, 80 caminhões devem entrar em Gaza nesta quarta-feira.
Esta pausa, em vigor somente na Cidade de Gaza, foi considerada insuficiente por John Ging, chefe da Agência da ONU para a ajuda aos refugiados palestinos (UNRWA) em Gaza.
"Hoje, a situação está melhor do que ontem. Porém, temos apenas três horas. Queremos um cessar-fogo total de 24 horas", afirmou.
"A violência deve acabar, para que as pessoas possam viver. Pedimos o fim das operações militares", prosseguiu.
Mais cedo, o gabinete do primeiro-ministro israelense, Ehhud Olmert, anunciara a abertura de um corredor humanitário "para impedir uma crise de maiores proporções na Faixa de Gaza".
Assim, Israel pareceu responder positivamente a uma iniciativa do presidente egípcio, Hosni Mubarak, para pôr fim aos combates entre as tropas israelenses e o Hamas. A operação israelense na Faixa de Gaza já está no 12º dia.
Mubarak apresentou sua iniciativa em três pontos na noite de terça-feira em Sharm el-Sheikh durante uma entrevista coletiva com seu colega francês, Nicolas Sarkozy.
O plano prevê "um cessar-fogo imediato por um período limitado" para permitir a abertura de corredores humanitários, e a continuação dos esforços egípcios em prol de uma trégua permanente.
Ele também preconiza uma reunião israelense-palestina no Egito para evitar uma escalada da violência e "solucionar as causas" do conflito, assim como o reforço da segurança nas fronteiras na Faixa de Gaza com vistas a uma reabertura dos pontos de passagem.
A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, que participa dos debates do Conselho de Segurança da ONU em Nova York para aprovar uma resolução que ponha um fim às hostilidades, elogiou a iniciativa de Mubarak e prometeu estudá-la.
A Casa Branca se declarou aberta à iniciativa egípcia, mas afirmou querer mais detalhes.
Israel disse considera "positivamente" a idéia de um diálogo com o Egito baseado na iniciativa de Mubarak, uma reação qualificada de "animadora" pelas autoridades egípcias. Em Paris, o presidente da França, Nicolas Sarkozy, saudou a "aceitação" por Israel do plano "franco-egípcio".
O Hamas, por sua vez, se mostrou cauteloso, afirmando que o plano não devia ser considerado como um todo "a pegar ou largar".
No terreno, os bombardeios israelenses diminuíram de intensidade no dia seguinte a um dia sangrento durante o qual morreram dezenas de civis, 50 dos quais em ataques contra escolas da ONU.
A ONU desmentiu nesta quarta-feira a presença de combatentes palestinos na escola onde morreram mais de 40 pessoas, depois de Israel ter alegado que suas forças tinham respondido a tiros de morteiro em procedência do estabelecimento.
Aguardado no Oriente Médio na próxima semana, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, considerou os ataques contra as escolas "totalmente inaceitáveis".
O gabinete israelense estudou nesta quarta-feira a possibilidade de ampliar as operações terrestres lançadas sábado à noite, mas nenhuma decisão neste sentido foi anunciada.
Na manhã desta quarta-feira, antes da pausa, 16 palestinos, entre os quais cinco crianças, morreram em bombardeios em diferentes setores da Faixa de Gaza, segundo fontes médicas palestinas.
A ofensiva israelense já provocou a morte de pelo menos 693 palestinos, entre eles 220 crianças, e deixou cerca de 3.000 feridos desde seu lançamento, em 27 de dezembro, segundo o último balanço dos serviços de emergência.
Nesta quarta-feira, mais 15 foguetes e obuses de morteiro se abateram sobre o sul de Israel.