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Jovem palestina diz que ambulâncias não chegam a áreas em Gaza

Soldados travam violentas batalhas com militantes islâmicos em região populosa e recuam. Em dia sangrento, caos humanitário se agrava

postado em 12/01/2009 08:33
;Com a proteção de caças F-16, helicópteros artilhados Apache e aeronaves de reconhecimento, soldados entraram hoje (ontem) aqui na Cidade de Gaza, acompanhados de tanques de guerra. Israel lançou gases tóxicos que afetam a respiração e levam ao sufocamento;, contou ao Correio, pela internet, a estudante palestina Meme Mourtaja, de 20 anos. Ela revelou que as ambulâncias não podem alcançar algumas áreas e acusou as tropas israelenses de destruirem um prédio de quatro andares ocupado por moradores. ;Eu vi grupos de pessoas em busca de um lugar seguro. Mas não há local seguro para elas;, lamentou Meme. ;Os Estados Unidos apoiam Israel com 3 mil toneladas de armas e ninguém ajuda a Faixa de Gaza a tratar seus feridos.; No vilarejo de Deir El-Balah, Geedah Ahmed, de 28 anos, era a imagem da desolação. ;Quase 900 pessoas morreram. O que o mundo está esperando?; Enquanto o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, se engajava em uma corrida diplomática no Oriente Médio (leia na página 15), Israel invadia pela primeira vez a Cidade de Gaza e enviava ao território palestino os primeiros grupos dos 10 mil reservistas convocados. Violentos combates se concentraram na populosa região sudeste, controlada pela milícia fundamentalista islâmica Hamas. A troca de tiros deixou 20 palestinos mortos no bairro de Xeque Aylin, em uma das mais sangrentas batalhas desde 27 de dezembro. Guerrilheiros do Hamas e da Jihad Islâmica tentaram emboscar as tropas e foram eliminados. Como Israel havia avisado na véspera, o domingo foi de intensos bombardeios e de muitas baixas: segundo fontes palestinas, 60 moradores de Gaza morreram apenas ontem. Até iontem, a guerra já havia custado a vida de 874 palestinos. Os feridos passam de 3.200. ;Agora, estamos de novo sob fogo de artilharia;, disse o assistente social Adham Khalil, de 23 anos, pouco antes de desligar o telefone, após falar com o Correio, a partir de Jabaliya. Segundo ele, várias famílias se refugiaram ontem em escolas e no clube principal do campo de refugiados. ;Um helicóptero disparou morteiros aqui perto e matou a família Bashir. Eram dois adultos e duas crianças;, contou. ;Na Cidade de Gaza, um grande número de militantes resistiu à invasão e Israel teve de recuar.; Ele revelou que, durante a entrevista, a fumaça proveniente do fogo de artilharia israelense entrava pela janela. Refugiados Com o acirramento dos combates e a invasão momentânea à Cidade de Gaza, a Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos no Oriente Médio (UNRWA, pela sigla em inglês) recebeu 25 mil civis com medo da guerra e os acomodou em 31 abrigos. ;A crise humanitária em Gaza é terrível e se agrava a cada hora. Civis estão sendo assassinados em números imensos e trabalhadores humanitários que tentam ajudar os moribundos são alvejados;, denunciou, por e-mail, Christopher Gunness, porta-voz da UNRWA. ;Generais israelenses têm expressado profundo pesar pela morte de nossos funcionários. Nós queremos ver essas expressões de pesar traduzidas em ações que garantam a segurança de nosso pessoal, nossos comboios e nossas instalações;, acrescentou Gunness. Na terça-feira passada, morteiros e bombardeios atingiram duas escolas mantidas pela UNRWA e mataram 32. Pelo menos dois incidentes envolvendo cidadãos de países vizinhos aumentaram ainda mais a tensão no Oriente Médio. Um ataque de mísseis contra a cidade de Rafah, na fronteira com o Egito, feriu cinco egípcios ; três policiais e duas crianças. Os projéteis tinham como alvos túneis de contrabando de armas, a 400m do país vizinho, mas os estilhaços acabaram atingindo dezenas de casas no lado egípcio. Na fronteira com a Síria, soldados israelenses que patrulham as Colinas de Golã foram atacados com tiros vindos do país vizinho e responderam. Ninguém ficou ferido. O governo de Damasco retaliou no campo diplomático. ;Israel comete crimes de guerra (...) matando mulheres e crianças, socorristas, jornalistas, e usando bombas de fósforo branco;, disse o chanceler Walid Muallem. Hamas Apesar de Israel ter atacado ontem 40 alvos do Hamas em Gaza ; inclusive 20 túneis, 15 células de militantes e sete depósitos ou fábricas de armamentos ;, o grupo fundamentalista islâmico lançou mais de 20 foguetes contra o sul do país. Pela manhã, o vice-ministro da Defesa israelense, Matan Vilna, anunciou que o fim da operação está próximo. Mas a chanceler Tzipi Livni garantiu que ;a ofensiva continua;. A boa notícia chegou à noite. Uma fonte anônima declarou que ;as discussões entre o mediador do Egito e a delegação do Hamas têm sido positivas;. Uma nova rodada de negociações entre cinco membros do Hamas; Amos Gilad, responsável pelo Ministério israelense da Defesa; e Omar Suleiman (chefe da inteligência egípcia) deve ocorrer ainda hoje.

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