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Bush se prepara para entrar para a história

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postado em 14/01/2009 14:47
WASHINGTON - No dia 20 de janeiro ao meio-dia, George W. Bush deixará definitivamente aos historiadores a tarefa de julgar os oito anos de uma presidência marcada por guerras, crises e catástrofes naturais. A presidência de Bush começou com os atentados de 11 de setembro de 2001, e termina com a pior crise econômica desde a Grande Depressão dos anos 30. Entre estes dois acontecimentos, Bush iniciou - sem concluí-las - duas guerras, uma no Iraque e outra no Afeganistão, consideradas as duas frentes da "guerra contra o terrorismo" declarado após o dia 11 de setembro de 2001. E assumiu o fracasso do Estado federal diante de uma das piores catástrofes naturais da história dos Estados Unidos, o furacão Katrina, que devastou a Louisiana em 2005. Bush havia se gabado, durante muito tempo, de sua política econômica, referindo-se constantemente aos 50 meses consecutivos de criação de empregos e a quatro anos de crescimento ininterruptos. Nos últimos meses, no entanto, seu governo teve de lidar com uma crise que contaminou a economia mundial. Em 2008, os Estados Unidos perderam mais empregos do que nunca desde 1945. "Estou orgulhoso de tudo o que fez essa administração. Sei que dei tudo de mim durante oito anos, e que não vendi minha alma para ser popular. Então, quando voltar para casa e me olhar no espelho, ficarei orgulhoso do que vir", afirmou Bush. O presidente dos Estados Unidos por mais seis dias reivindica a "libertação" de 50 milhões de pessoas no Afeganistão e no Iraque, a constituição de uma ampla frente internacional de combate ao terrorismo, a melhoria das relações com a Ásia, um esforço sem precedente contra as doenças na África, isenções fiscais, uma reforma do sistema escolar e outra do seguro-saúde para os idosos. Contudo, na hora do balanço final, o maior êxito que ele se atribui é o de ter conseguido proteger o país de novos atentados, apesar de Osama bin Laden continuar foragido. Os atentados de 11/9 "definiram" sua presidência, afirma Bush, que desde aquele dia passou de altos índices de popularidade a níveis de impopularidades raramente vistos nos Estados Unidos. O homem que fizera campanha prometendo ser "um unificador, e não um divisor" teve que lidar com uma enxurrada de críticas provocadas pelas práticas de seu governo. Foi acusado de trair os valores americanos ao prender os suspeitos de terrorismo no campo de Guantánamo, autorizar os militares a maltratarem prisioneiros para obter informações, e grampear os telefones de cidadãos americanos sem mandato da justiça. Os Estados Unidos não torturam, e estes métodos eram "necessários", afirmou Bush durante todo seu mandato. "Acredito que serei lembrado como um homem que teve de enfrentar sérios problemas, e que encarou esses problemas de frente. Mostrei firmeza e tomei minhas decisões com base em princípios, e não em pesquisas de popularidade", justificou. Estes grandes princípios, como a propagação da liberdade, serviram de argumento na hora de defender a guerra no Iraque, sobretudo quando o pretexto das armas de destruição em massa supostamente possuídas por Saddam Hussein se revelou sem fundamento. A guerra no Iraque foi lançada segundo uma nova doutrina de "guerra preventiva". O escândalo de Abu Ghraib e a guerra civil que começou logo após a invasão do Iraque dilapidaram a popularidade acumulada depois dos atentados de 11/9, quando Bush posava com um alto-falante na mão nos escombros das Torres Gêmeas. "A decisão de derrubar Saddam Hussein era acertada, e será para sempre acertada", insistiu. Entretanto, esta decisão provocou tensões com aliados históricos e provocou a degradação da imagem dos Estados Unidos no mundo muçulmano. Também foi a principal responsável pela derrota de seus amigos republicanos nas eleições legislativas de 2006. Um presidente que conseguira em 2004 a rara façanha de manter a maioria de seu partido nas duas câmaras do Congresso teve então de dar ouvidos a todos os que pediam com veemência a cabeça do secretário da Defesa Donald Rumsfeld. Depois de 2006, a ideologia neoconservadora que inspirara, quatro anos antes, o discurso sobre o "eixo do mal", foi substituída aos poucos por um pragmatismo, agora aplicado no Iraque, com a Coréia do Norte e ao tema do aquecimento global. Bush confessou arrependimentos e "erros", mas assumiu as decisões mais importantes que tomou durante seu mandato. Para alguns, como o senador democrata Harry Reid, Bush entrará para a história como "o pior presidente" dos Estados Unidos. Ao contrário, seus fiéis continuam admirando a recusa em transigir com os princípios que marcou a carreira de um homem de fé, que conseguiu superar o vício do álcool. "Ainda estamos analisando a presidência de George Washington", disse o homem que devora livros mas que foi rotulado como inculto, pouco eloqüente e propenso a gafes. "Se o primeiro presidente dos Estados Unidos ainda está sendo analisado, o 43º não precisa se preocupar" com o julgamento da história, finalizou.

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