postado em 16/01/2009 13:12
ATATRA - O Exército israelense convidou um grupo de dez jornalistas estrangeiros para ir à Faixa de Gaza em uma visita reduzida a uma volta pela deserta localidade de Atatra, bem longe dos combates, das bombas e das vítimas.
A bordo de dois veículos blindados, repórteres e fotógrafos atravessaram a fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza, circulando por estradas arenosas e marcada pelas rodas dos tanques. Mas o comboio se detém apenas meia hora depois, em Atatra, uma localidade de agricultores perto da costa, onde ainda reina a calma.
Os habitantes locais fugiram com o avanço das tropas israelenses, que entraram no território palestino para acabar com os disparos de foguetes contra o sul de Israel.
Os jornalistas veem de longe uma coluna de fumaça negra na cidade de Gaza. Horas antes, obuses israelenses provocaram um incêndio em vários depósitos da ONU. Mas em Atatra não há mortos, feridos nem combates. E o exército não autoriza o acesso a outros lugares da Faixa de Gaza.
Desde o início da ofensiva "Chumbo grosso", há três semanas, Israel nega o acesso de jornalistas ao território palestino, submetido a bombardeios e ataques incessantes.
Dois tanques Merkava se aproximam do grupo de jornalistas. O coronel Herzi, salta de um deles. "Sinto muito vir de tanque, estou com problema no meu jipe", desculpou-se.
O oficial deixou seus homens durante meia hora para oferecer um balanço da guerra contra os radicais do Hamas, que acontece longe das câmaras de televisão. "O que vocês podem ver aqui não é agradável. A guerra não é agradável. Eu não gosto da guerra", disse, iniciando seu discurso.
"Cada corpo palestino, cada casa destruída, não gosto destas coisas. Mas não nos deram outra opção", acrescentou o coronel Herzi, ao som de fundo dos disparos de artilharia em direção à cidade de Gaza.
Ele explicou que suas "tropas devem avançar com muita prudência frente à guerrilha urbana que instalou trincheiras em um terço das casas e envia mulheres a cometer (ataques) suicidas contra nossas posições". Mostrou fotos de armas confiscadas, de bombas escondidas em sacos, entre eles um da Unicef, o Fundo da ONU para a Infância. Segundo ele, o Hamas tenta enganar os soldados usando bonecos em tamanho real de combatentes.
Os islamitas sofreram duros golpes. "Eles combatem, mas não ferozmente. Às vezes são três, cinco ou 50 que nos enfrentam", afirmou o coronel Herzi em declarações impossíveis de verificar, porque o Exército poribiu seus soldados de falar com a imprensa.
Assim, o Exército dá por encerrada a visita e os jornalistas se olham frustrados entre si. "Vimos a guerra um pouco mais de perto, mas sempre à distância. Na realidade, não querem que vejam o que está acontecendo", disse uma repórter francesa. "É difícil distanciar-se do discurso oficial", acrescentou.