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'Geração X' chega pela primeira vez à Casa Branca

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postado em 19/01/2009 12:33
NOVA YORK - Com a posse de Barack Obama, pela primeira vez chega à Casa Branca a pragmática e a cética "Geração X", que começa a substituir os ideológicos "baby boomers" com um estilo diferente de exercer o poder. "Chegou o nosso momento", afirmou Jeff Gordinier, autor do livro "X Saves the World: How Generation X Got the Shaft but Can Still Keep Everything from Sucking" (X Salva o Mundo), para quem Obama - pela idade, biografia e estilo - é um típico representante do grupo. Segundo Gordinier, subeditor da revista masculina de moda e tendências Details, "há um sentimento de necessidade urgente de mudar as coisas. Não podemos pretender ser 'cool', céticos e distantes para sempre". Logo após a vitória de Obama, durante festa que organizou em seu apartamento no sul de Manhattan para aguardar os resultados e festejar seu aniversário, ao lado de quase 30 amigos com idades entre 25 e 35 anos, Aaron Freeman exultava: "Estamos extasiados". "Ao invés de apelar a apenas uma ideologia, vai governar de maneira pragmática, examinando os temas de todos os ângulos e perspectivas, buscando a melhor solução para todos", acrescentou convencido Freeman, que completou 32 anos. Obama tem 47 anos. Nasceu em 1961, assim como Douglas Coupland, autor justamente do livro "Generation X", que em 1991 definiu o estilo destes jovens cínicos, individualistas, pouco ligados às ideologias, e que inspiraram, entre outros, o filme "Caindo Na Real" ("Reality Bites") de Ben Stiller, com Ethan Hawk e Winona Ryder. O temperamento dos "X" é definido por contraste com a geração mais velha, os politizados "baby boomers" nascidos no pós-guerra - como Bill e Hillary Clinton. "A vida de Barack Obama é tipicamente a de um X", comenta o historiador, economista e demógrafo Neil Howe. "Ele era criança durante a época conturbada dos anos 60 e 70, com mudanças nos valores familiares, divórcios, experimentação com o sexo e as drogas". Para este grupo, o marco histórico da infância são as referências truncadas à derrota no Vietnã e à presidência problemática de Richard Nixon. "Obama é produto da experimentação de um casamento inter-racial, de um pai ausente viajando pelo mundo, uma infância caótica", destaca Howe. "Não é por casualidade que ele define a si mesmo como 'pós-baby boomer'". Segundo o autor do livro "Generations: The History of America's Future, 1584 to 2069" (Gerações: A História dos Futuro dos Estados Unidos), "a liderança dele será mais pragmática, menos casada com ideologias". Howe arrisca dois conceitos contraditórios para definir o estilo pessoal de Obama: "cool, com uma pitada de formalidade". A maneira de governar do democrata marcará, segundo o estudioso, o estilo de toda uma geração. "Vai acabar com tudo que era disfuncional e negativo na política dos 'boomers': o choque de culturas, a polarização de ideologias, a política identificada por comunidades. Os 'boomers' sempre gostaram das divisões, conseguiam sua energia lançando cruzadas contra algo". Um "X" - ou seja nascido entre 1961 e 1981 - explica Howe, "é mais eclético: escolhe coisas distintas na caixa de ferramentas políticas que normalmente não necessariamente ficavam bem juntas, como intervenção do governo e mercados". "Gosta de colocar todos os números sobre a mesa, exigir transparência, analisar os dados e adotar decisões que podem parecer totalmente radicais, ou diferentes, em função desta análise", completa. Ao contrário dos "boomers" - que com a mesma idade nos anos 80 já tinham 10 senadores e 32% da Câmara de Representantes - esta geração não é tão comprometida: hoje tem apenas cinco senadores e 16% dos representantes. No entanto, a este grupo pertencem novos líderes que estão aparecendo no cenário político americano. O prefeito de Newark, Cory Booker, o governador da Louisiana, Bobby Jindal, ou o prefeito de São Francisco, Gavin Newsom, são algunos exemplos de "X" no comando de governos. "As pessoas estão cansadas das discussões ideológicas", explica Gordinier. "Estamos cansados de esquerda e direita. A idéia é construir pontes entre pessoas que habitualmente não estariam de acordo". Segundo este especialista na geração, para os "X" que desconfiam das utopias de seus pais e ficam irritados por exemplo com a música "Imagine" de John Lennon, Obama "provavelmente vai nos desiludir". "Mas tudo bem".

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