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Crianças na Faixa de Gaza voltam à escola com traumas da guerra

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postado em 24/01/2009 10:23
Mais de 200.000 crianças de Gaza retornaram neste sábado às aulas, depois da operação militar de Israel e com muitos deles sem casa, com vários parentes mortos e muito medo. A Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA) reabriu as 221 escolas que administra na Faixa de Gaza e que serviram de refúgio para milhares de pessoas durante os 22 dias da ofensiva israelense. No colégio Al-Zukur da cidade de Beit Lahiya, as crianças brincavam com suas mochilas no pátio, enquanto nos andares superiores do edifício uma sala, atingida há uma semana por um míssil israelense, permanece destruída. Depois do bombardeio ao colégio, um incêndio provocou pânico entre as quase 1.600 pessoas que estavam refugiadas no centro de ensino. Duas crianças, de cinco e sete anos, morreram e 12 pessoas ficaram feridas, incluindo a mãe das vítimas fatais, que teve uma perna amputada, segundo a ONU. Esta foi uma das três escolas com refugiados atacadas pelo Exército israelense durante a guerra. No dia 6 de janeiro, um bombardeio em outro colégio da ONU matou mais de 40 pessoas. O Exército hebreu alegou que respondeu a ataques procedentes destes edifícios ou de suas proximidades, mas o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, qualificou os bombardeios de "vergonhosos" e pediu que os responsáveis sejam levados à justiça. Em Al-Zukur, segundo os serviços médicos palestinos, as sequelas do conflito, que deixou mais de 1.300 mortos - um terço deles crianças -, não são vistas apenas nos muros. "Dê um passo para frente se o seu pai ou sua mãe morreu no martírio", pediu o diretor Riad Maliha pelo megafone quando as crianças formavam filas. "Dê um passo para frente se a sua casa foi destruída", prosseguiu. Mais de 20 crianças se manifestaram e registraram os nomes para que suas famílias possam receber ajuda da la ONU. Entre elas, Anas Abbas, um menino tímido de 12 anos. "Destruíram nossa casa e mataram cinco vizinhos. Os judeus estavam muito perto de nossa casa", disse. Assim como as demais crianças, Anas fala com frases curtas e responde perguntas com apenas uma palavra na maioria das vezes, sem conseguir relatar com exatidão os traumas. O diretor da escola explica que nos primeiros dias de aula os professores tentarão fazer com que as crianças expressem os sentimentos. "Eles estimularão as crianças a falar do que aconteceu com elas, a desenhar e a escrever sobre isto. Imagine como serão as conversas. Dezenas de crianças traumatizadas voltaram hoje ao colégio", afirma. Jitam Aziz, psicólogo da Al-Zukur, respondeu perguntas das crianças sobre a sala incendiada e sobre os buracos provocados pelos mísseis nas paredes. "Me perguntam por quê bombardearam a escola e dizem que estão com medo de que voltem. Falamos que os judeus não voltarão a atacar a escola, que não tenham medo, que podem brincar", explica. Metade da população de Gaza tem menos de 18 anos e mais de 80% depende agora da ajuda da ONU para receber alimentação. Israel e o grupo radical Hamas declararam cessar-fogo unilateral domingo passado. As tropas israelenses concluíram a retirada na quarta-feira de um território com milhares de edifícios em ruínas.

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