postado em 03/02/2009 07:42
Cientistas da University of Dundee (Reino Unido) e da Agência para Tecnologia da Ciência e Pesquisa de Cingapura descobriram como as células ativam um gene responsável pela supressão do tumor. O segredo está na produção de isoformas (formas variantes) da proteína p53 pelo gene homônimo, também conhecido como ;guardião do genoma;. Ao estudarem o peixe-zebra (ou paulistinha) ; muito procurado por aquariófilos brasileiros ;, os especialistas determinaram como o gene p53, também presente nos seres humanos, pode ser ligado e desligado pelas células. Para chegar a essa conclusão, a equipe usou um ;truque genético; e fez com que o paulistinha (Danio rerio) mudasse da cor dourada com listas pretas para a cor verde, quando o p53 fosse ativado.
Em entrevista ao Correio, por e-mail, o francês Jean-Christophe Bourdon ; cientista veterano da University of Dundee e co-autor da pesquisa publicada pela revista científica ; explicou que a proteína p53 é produzida em resposta a quaisquer agentes nocivos à célula, como fumaça de cigarro, álcool, vírus e substâncias tóxicas. ;Esses agentes provocam mutação em nossos genes, que podem fazer com que as células percam o controle de sua proliferação e se tornem cancerígenas;, afirmou. Bourdon comparou a mutação genética a um acidente automobilístico. ;Quando ocorre uma batida, primeiro você para o carro e avalia os danos. Você decide se vai prosseguir ou se o veículo precisa de reparos.;
De acordo com ele, o mesmo ocorre com a proteína p53, produzida em todas as células do corpo de qualquer animal e codificada por um gene no cromossomo 17p13.1. Tal região cromossômica é frequentemente deletada em células cancerosas, levando à perda de p53 ; fenômeno que ocorre em 50% dos tumores. ;Essa proteína é a motorista das células. Quando você recebe uma queimadura do sol, seus genes são danificados e ativam a proteína p53 para interromper a proliferação de células lesionadas. Por sua vez, a p53 avalia os danos, ao receber sinais de vários compartimentos das células (núcleo, mitocôndria, retículo endoplasmático etc). Se o dano é pequeno, ela induz o conserto das células. Se o estrago é severo, a proliferação celular pode levar ao câncer e, por isso, a p53 estimula a autodestruição das células;, comentou Bourdon, referindo-se ao processo chamado de apoptose. ;Nós descobrimos como as células que querem se proliferar podem controlar a atividade da p53 para evitar o câncer.; Em resumo, os cientistas decifraram como a proteína p53 decide matar ou reparar as células.
Bourdon revelou que sua equipe escolheu trabalhar com o paulistinha pelo fato de ser mais fácil acompanhar o desenvolvimento dos embriões de peixes. ;A proteína p53 e suas isoformas são liberadas no paulistinha. Quando as regularmos usando um reagente específico, descobrimos que elas são essenciais para a vida;, comentou. ;O gene p53 é modificado em todos os tumores e em todos os tipos de câncer. O tumor precisa se livrar do p53 para se desenvolver;, acrescentou. As isoformas p53 são liberadas no cérebro, na retina, no estômago, no pâncreas e no fígado. Segundo ele, alguns tumores são bastante ;inteligentes; e enganam a p53. ;Eles fazem com que a proteína pense que as células do tumor estão apenas pouco danificadas, forçando a p53 a repará-las, em vez de destruí-las;, explicou o francês.
;A p53 é nossa melhor candidata a encontrarmos uma cura para o câncer;, afirmou ao Correio a mineira Alice Machado da Silva, colega de Jean-Christophe Bourdon e uma das autoras do artigo de revisão sobre a pesquisa. ;A pesquisa com a p53 é uma necessidade primária para a medicina e mostra como a célula mantém a estabilidade do seu genoma;, admitiu a brasileira, que focou parte de sua pós-graduação no papel da proteína no câncer de mama.
Arma contra o Parkinson Um estudo publicado ontem pelos anais da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos revelou que o incremento de uma proteína produzida por células do cérebro chamadas astrócitos pode fornecer proteção total contra o mal de Parkinson. A doença neurodegenerativa, que causa tremores e rigidez muscular, ocorre após a morte ou deterioração das células cerebrais produtoras do neurotransmissor dopamina em uma área do cérebro chamada ;substância negra;. Cientistas da Universidade de Wisconsin-Madison estudaram ratos nos quais foram injetados astrócitos que produziam o dobro do nível normal de uma proteína chamada Nrf2. Esses ratos não desenvolveram a desordem.