postado em 03/02/2009 12:10
ROMA - O combate travado pela família de Eluana, uma jovem italiana em coma há 17 anos e que se tornou símbolo da luta pelo direito de morrer, parece estar chegando ao fim nesta terça-feira (03/02), depois de sua transferência para uma clínica que aceitou desligar os aparelhos que a alimentam e a mantêm viva.
"Este é o primeiro passo para a liberação de minha filha. Acho que finalmente conseguimos", comentou Beppino Englaro, o pai de Eluana, 37 anos, cuja destino está no centro de um intenso debate político, ético e judiciário na Itália.
Eluana chegou de manhã à clínica "La Quiete" (A tranquilidade) de Udine (nordeste), onde os médicos suspenderão sua alimentação após terem procedido durante três dias às verificações necessárias, indicou seu neurologista Carlo Alberto Defanti.
"Ela não sofrerá nada", afirmou o dr. Defanti, que faz parte da equipe de 15 médicos e enfermeiros que cuidam de Eluana, em estado vegetativo desde um acidente de carro que a mergulhou no coma em janeiro de 1992. Sem a sonda que a alimenta, ela deve morrer em um prazo de até 20 dias.
O estabelecimento de Udine havia anunciado em janeiro que estava pronto para receber Eluana, apesar das pressões da Igreja, do Vaticano, do governo de centro direita de Silvio Berlusconi e de responsáveis políticos regionais.
O ministro da Saúde do Vaticano, o cardeal Javier Lozano Barragan reagiu à transferência de Eliana lançando um apelo para impedir este "abominável assassinato".
Domingo, o papa Bento XVI apoiou a Igreja italiana em sua postura contra a interrupção da alimentação de Eluana, considerando a medida uma "eutanásia inaceitável".
O Papa afirmou que "a eutanásia é uma falsa solução para o drama do sofrimento" e um ato "indigno do homem".
O pai de Eluana obteve o direito de interromper a alimentação e a hidratação de sua filha com uma decisão definitiva da Corte de Cassação divulgada em 13 de novembro.
Apesar desta decisão, o ministro da Saúde Maurizio Sacconi enviou em dezembro uma advertência aos estabelecimentos poderiam eventualmente acolher Eluana para desligar os aparelhos, ameaçando-os de consequências "inimagináveis".
Várias regiões que haviam até então aceitado acolhê-la mudaram de ideia.
Sacconi afirmou nesta terça-feira que o governo "estava examinando a situação de um ponto de vista formal", dando a entender que haverá uma nova intervenção contra a suspensão da alimentação da mulher.
A equipe de médicos de Eluana se reuniu nesta terça-feira em uma associação para melhor se defender em caso de perseguição judicial, segundo a Ansa.
Vários representantes da direita e de formações políticas centristas e católicas pediram ao governo que intervenha no caso nesta terça-feira.
Maurizio Ronconi, da União dos democratas cristãos, pediu a adoção urgente de um decreto que salve a vida de Eluana.
O jornal da Igreja italiana, Avvenire, pediu a mobilização contra a morte de Eluana, afirmado que a Itália não ficará da janela observando esta insuportável agonia.
Segunda-feira à noite, manifestantes tentaram impedir a ambulância de deixar a clínica de Lecco, perto de Milão, onde a jovem estava internada nos últimos anos, gritando "Eluana está viva" e "Não matem Eluana".
O pai de Eluana, que luta há 10 anos pelo direito de morrer de sua filha, afirma, com testemunhos de apoio, que Eluana não teria jamais aceitado continuar vivendo alimentada por uma sonda.