postado em 05/02/2009 12:44
PARIS - Muitos contemporâneos de Darwin se apropriaram da teoria da evolução para justificar ordens discriminatórias sociais ou raciais, ou para tentar com o homem o eugenismo, o aperfeiçoamento da espécie com a seleção artificial como a usada em plantas ou animais de criação.
Para o inventor da eugenia, Francis Galton (1822-1911), primo de segundo grau de Darwin, a melhoria da sociedade passava pelo aperfeiçoamento da espécie humana com uma seleção "não natural".
Convencido como a maioria dos cientistas de sua época de que as características que o indivíduo adquiria durante a vida eram transmitidas aos descendentes, Galton fez estudos estatísticos para identificar as linhas de talento hereditárias.
Como os genes ainda não eram conhecidos, ele recorreu à antropometria, a ciência que estuda as dimensões do corpo humano, muito em voga no Ocidente no século XIX e que muitos especialistas aplicaram à medição de crânios das mais variadas origens para apoiar suas teorias racistas.
O italiano Cesare Lombroso (1835-1909) teve seus 15 minutos de fama entre os criminologistas com a teoria de que existiam criminosos natos, que constituíam uma espécie distinta, batizada como "uomo delinquente" (homem delinquente), que deveria ser separada do normais "homo sapiens".
O "uomo delinquente" apresentava traços especiais "simiescos", como crânios estreitos ou a mobilidade dos dedões do pé, além de usar o jargão supostamente característico destes indivíduos.
"Falam como selvagens porque são autênticos selvagens em meio a nossa brilhante civilização europeia", escreveu Lombroso, citado pelo historiador científico Stepehn Jay Gould.
O psicólogo e sociólogo Herbert Spencer (1820-1903) se apoiou na teoria de Darwin para fundar o darwinismo social. Este considera que os princípios da evolução válidos no reino animal também o são nas sociedades humanas.
Spencer criou o lema da "sobrevivência dos mais aptos", atribuída de maneira equivocada a Darwin.
No fim do século XIX, muitos evolucionistas tentaram encontrar na natureza a justificativa para comportamentos ou sistemas econômicos e sociais.
"Porém, na natureza se encontra de tudo: a imagem de uma democracia, de uma ditadura ou de um mundo libertário", destaca Gillaume Lecointre, professor do Museu Nacional de História Natural da França.
O surgimento da genética, combinada aos testes que medem o quociente de inteligência (QI), ofereceu em 1924 uma aparência pseudocientífica a uma lei americana que limitou a imigração procedente de países não europeus e do leste e sul do velho continente.
Em 1975, Edward Wilson fundou a sociobiologia para estudar as semelhanças entre os comportamentos animais e humanos. Apesar de reconhecer o papel do aprendizado, este biólogo americano sustenta nada menos que a influência dos genes está na base das diferenças entre culturas.