postado em 16/02/2009 14:46
CARACAS - O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, está convencido, depois de dez anos no poder, de que é insubstituível na luta para conduzir seu país rumo ao socialismo, identificando-se cada vez mais com o "libertador" Simón Bolívar e satisfeito de ser um "modelo" para o continente sul-americano.
"O povo de Bolívar hasteou as bandeiras da dignidade, da vitória", disse domingo Hugo Chávez, depois de anunciar a vitória do "sim" no referendo sobre uma emenda constitucional pela qual poderá se reeleger em 2012.
Filho de dois professores do Estado de Barinas (sudoeste), pai de quatro crianças, duas vezes separado, Chávez começou a alimentar em 1982 seu projeto socialista de "revolução" inspirada em Simón Bolívar, a figura emblemática da guerra da independência contra os monarcas espanhóis.
O tenente-coronel havia então jurado, com outros militares, não descansar enquanto "as correntes que oprimem o povo pela vontade dos poderosos não fossem desfeitas".
Dez anos mais tarde, em 1992, Hugo Chávez tentou um golpe de Estado infrutífero contra o presidente Carlos Andrés Pérez, que o colocou na prisão por dois anos tornando-o também muito popular entre os venezuelanos.
Seis anos depois, candidatura de uma coalizão de partidos de esquerda, ele venceu a eleição, com 56% dos votos.
Na liderança do nono produtor mundial de petróleo, Hugo Chávez, 54 anos, desenvolveu programas sociais nos domínios da saúde e da educação, e os mais desfavorecidos lhe devotam um fervor sem limite, repetindo sem cessar que ele lhes devolveu sua "dignidade".
Seus opositores o condenam por sua onipresença, sua instrumentalização dos meios do Estado a serviço de uma única causa: a de sua manutenção no poder.
Hiperativo, implacável com seus adversários, eloquente, mistura num mesmo discurso músicas românticas, insultos e erudição, Chávez governa com seu instinto e sua formação militar.
O presidente venezuelano dorme pouco, não tira férias e desenvolveu um estilo de governo pouco convencional.
Todos os domingos, organiza as finanças públicas, planeja suas viagens, avalia o trabalho de seis ministros ou anuncia nacionalizações, ao vivo pela televisão.
Hugo Chávez, que se considera filho político de Fidel Castro, não esconde que pretende ficar no poder pelo menos até 2019.
Nas noites de domingo, promete incansavelmente dedicar toda sua vida ao país, destacando que seu destino é somente a política.
Indiferente aos que o consideram um déspota populista, ele está convencido de ser o herói de uma segunda guerra da independência da Venezuela, a dos oprimidos contra a burguesia.
Dez anos após sua chegada ao poder, sua popularidade continua acima dos 50%, apesar de seus opositores o acusarem de ter dividido como nunca a sociedade venezuelana.
Depois da tentativa de golpe de Estado contra ele, em 2002, o presidente decidiu que o mundo se divide entre amigos e adversários.
Além das fronteiras, o chefe de Estado venezuelano é o mais radical dos dirigentes latino-americanos de esquerda que chegaram ao poder nos últimos anos.
Hugo Chávez adotou estruturas de integração regional e fez aliança estratégicas com a Rússia, a China e o Irã.
Ao mesmo tempo, ele soube dar provas de pragmatismo, não suspendendo nunca suas entregas diárias de um milhão de barris de petróleo aos EUA, apesar das críticas ferrenhas que faz a Washington.