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Caso Paula: Itamaraty manda reforço à Suíça

Diplomata prestará assistência consular. Médico considera improvável a tese de surto psicótico causado pelo lúpus

postado em 18/02/2009 07:35
O Itamaraty enviou reforço para ajudar na comunicação com a imprensa e na assistência consular do caso de Paula Oliveira, a brasileira que supostamente teria sido atacada por skinheads na Suíça e abortado gêmeas. Os diplomatas não devem interferir na investigação da polícia suíça, mas podem indicar um advogado ou médico que fale português, entre outras tarefas consulares. A confirmação do advogado Paulo Oliveira de que a filha sofre de lúpus, doença autoimune inflamatória, reforçou o clima de mistério que ronda a suposta agressão sofrida por Paula e deu margem a especulações em torno do caso. Presidente da Sociedade de Reumatologia de Brasília, o médico Rodrigo Aires Corrêa Lima disse ao Correio que a partir dos sintomas relatados pela imprensa, Paula não parece apresentar surto psicótico típico de quem tem lúpus. ;É muito pouco provável que tenha sido um surto de psicose lúpica se ela estava com o discurso bem conexo, bem lógico;, ressaltou Rodrigo. A pernambucana Paula e o namorado, Mark TreppO especialista em lúpus explica que, no surto psicótico, o paciente apresenta um estado de confusão aguda, com uma desorganização completa do pensamento, acompanhada de alucinações táteis, auditivas ou visuais. O doente precisa de contenção química e física. ;É um paciente que fica totalmente desagregado da realidade, tem sentimento persecutório, pode se agredir e fazer algumas coisas, mas dificilmente procuraria a polícia, de livre e espontânea vontade;, pondera o reumatologista. Raro O assessor parlamentar Paulo Oliveira disse na segunda-feira, em entrevista à Band News, que o psiquiatra que acompanha sua filha descartou uma suposta mentira. Neste caso, Rodrigo avalia que, em caso de surto psicótico ou alucinação, um psiquiatra perceberia a alteração em Paula. ;Em uma entrevista curta já se percebe a falta de conexão com a realidade;, afirmou. O médico também revelou que o quadro de psicose se desenvolve em apenas 5% dos pacientes e espera que o caso não crie preconceito contra os portadores de lúpus, pois a maioria que recebe tratamento médico pode levar uma vida praticamente normal.
Doente pode ter filhos O médico Fernando Cavalcanti, que presidiu a Sociedade Brasileira de Reumatologia entre 2004 e 2006, afirma que existe um campo aberto entre gestação e lúpus. Segundo ele, a mulher portadora da doença pode engravidar e levar a gestação adiante, desde que mantenha a doença sob controle. Também é importante que a paciente seja acompanhada de perto por uma equipe médica formada por ginecologista, reumatologista e neonatologista. O parto, nesses casos, deve ser previamente antecipado, assim como redobrados os cuidados com o pós-natal. ;O pós-parto da mulher com lúpus é tão sério quanto a gravidez, por isso a importância do acompanhamento;, explica o especialista. Fernando esclarece que o comprometimento neuropsiquiátrico desencadeado pelo lúpus pode ser provocado pela própria doença ou ser secundário à hipertensão ou aos medicamentos. ;Tudo pode acontecer, mas é pouco provável que uma pessoa que apresente esses distúrbios (psicóticos) esteja trabalhando normalmente, ou mesmo que a sua família não perceba alterações na sua conduta;, afirma o médico, admitindo, no entanto, que o quadro também pode ser deflagrado por estresse e pressões psicológicas. (Do Diario de Pernambuco)
Para saber mais: lúpus ataca órgãos internos O presidente da Sociedade de Reumatologia de Brasília, o médico Rodrigo Aires Corrêa Lima, trata pacientes de lúpus no Hospital de Base e no Hospital Universitário de Brasília. Ele explica que o lúpus é uma doença sistêmica autoimune, que pode se manifestar em qualquer tipo de órgão, especialmente na pele, nas articulações e nos rins, provocando inflamações. Os sintomas vão desde cansaço e manchas avermelhadas na pele a problemas renais. "Em 10% a 15% dos casos podem ocorrer manifestações neurológicas graves, como convulsões e psicose", afirma o médico. Rodrigo ressalta que a doença não é infecciosa, uma vez que não é transmitida por vírus ou bactérias e também não se trata de câncer. Normalmente, o sistema imunológico produz anticorpos para proteger o corpo de vírus, de bactérias e de outros corpos estranhos, que são chamados antígenos. No caso do lúpus, o sistema defensivo perde a habilidade de diferenciar os antígenos e as próprias células. O sistema imunológico passa então a direcionar anticorpos contra si mesmo, que podem causar inflamação, danos aos tecidos e dor. As causas do lúpus não são totalmente conhecidas, mas fatores ambientais e genéticos estão entre elas. Alguns dos fatores ambientais que podem despertar a doença são: infecções, antibióticos (principalmente dos grupos da sulfa e penicilina), raios ultravioletas, estresse excessivo e algumas drogas. Fatores hormonais podem explicar porque o lúpus ocorre com mais freqüência em mulheres, mas a razão exata ainda é desconhecida. Rodrigo destaca que existe tratamento para a doença e que se aparecerem os sintomas, deve-se procurar um clínico geral e um reumatologista. O sistema de saúde pública no Brasil oferece tratamento contra a doença. As estatísticas demonstram que cerca de 1% da população mundial sofre de lúpus.

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