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Lula troca com Uribe promessas de incremento no comércio bilateral e nos investimentos

Grupos de trabalho estudam projetos de integração física para facilitar intercâmbio

postado em 18/02/2009 07:30
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comprometeu-se em público com o colega Álvaro Uribe a interceder pessoalmente junto a uma empresa brasileira que, em função da crise financeira internacional, suspendeu planos de investimento na Colômbia. ;Meu compromisso é conversar com essa empresa;, disse Lula na entrevista que concedeu ao lado de Uribe, no Planalto, depois de uma reunião a dois e de outra ampliada com ministros de ambos os países. A visita de Estado do presidente colombiano selou a aproximação pessoal e política entre os dois governantes, ambos eleitos pela primeira vez em 2002. Agora, dois vizinhos que historicamente se viam ;separados pela selva (Amazônica);, como lembrou Uribe, dão-se um abraço no campo dos negócios: o volume do comércio bilateral saltou de US$ 800 milhões em 2003 para US$ 3,1 bilhões no ano passado. ;O Brasil começou a entender que a Colômbia é um dos destinos de investimentos mais importantes do mundo atual;, respondeu o visitante. ;Você, Lula, foi um grande incentivador dos investimentos na Colômbia;, agradeceu. Uribe lembrou que 90% das máquinas agrícolas adquiridas atualmente pela Colômbia são brasileiras, e festejou o anúncio de que nos próximos dias ou semanas o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) anunciará uma linha de crédito para facilitar as importações colombianas. Ressaltou, também, o potencial para cooperação na área de biocombustíveis, promoveu o Brasil a ;professor de todos nós na matéria; e observou que seu país é hoje o segundo produtor de etanol e biodiesel do continente. Lula, que reafirmou a opção de ;blindar; a América Latina contra a crise apostando no incremento do comércio e na integração econômica entre vizinhos, observou que Brasil e Colômbia ;sempre se colocaram mais de costas um para o outro, voltados para os Estados Unidos;. E aproveitou para sugerir ao colega que as trocas bilaterais passem a ser realizadas com base nas moedas nacionais, sem recurso ao dólar. Decisão semelhante foi adotada com a Argentina no ano passado e acertada na última semana com o Uruguai, durante visita do chanceler Gonzalo Fernández. ;Por que precisamos comprar em dólar, cada vez mais escasso e caro?;, questionou. No fim da entrevista, o assessor de Lula para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Ribeiro, afirmou que o sistema ;está começando a funcionar; com a Argentina, e essa experiência poderá facilitar a transição com outros vizinhos. Desenvolvimento O presidente brasileiro citou como exemplo de participação brasileira no desenvolvimento colombiano o projeto de construção de uma ferrovia para transporte de minérios do centro para o norte do país. Em contato com funcionários colombianos, o Correio apurou que a integração física entre os dois países começa a passar das intenções para as propostas. Grupos de trabalho já estudam a viabilidade de duas opções para reduzir os custos de transporte de mercadorias: os portos de Belém (PA) e São Luís (MA), para trocas com os portos colombianos do Caribe, e a navegação fluvial pelo Amazonas e afluentes, ligando Manaus ao litoral do Pacífico. ;O crescimento do agronegócio e da indústria no Centro-Oeste brasileiro, em especial do Tocantins, cria oportunidades extraordinárias para o comércio bilateral;, disse à reportagem uma fonte de Bogotá. Esse funcionário ressaltou que o capital brasileiro vem assumindo posição de liderança na Colômbia em setores como siderurgia e mineração de carvão, além da aviação comercial e dos derivados de petróleo. Na entrevista no Planalto, respondendo sobre a saída de uma empresa suíça que operava uma refinaria em parceria com a colombiana Ecopetrol, Uribe afirmou que ;as portas estão abertas para a Petrobras;. ;As empresas brasileiras não vêm para a Colômbia com visão especulativa e de curto prazo, ao contrário: apostam no longo prazo, se integram ao país, aos trabalhadores, e ajudam o desenvolvimento das regiões;, elogiou.
Fronteira blindada » Em acordo firmado em 2008, Brasil e Colômbia estabeleceram base legal para a troca de informações e cooperação operacional na vigilância dos 1.600km de fronteira, rota de contrabando de drogas e armas. Indústria bélica » No âmbito de acordos na área de defesa, os dois países decidiram dar passos para integrar a cadeia produtiva de suas indústrias de armamentos. Comissão bilateral » Ontem, Lula e Uribe assinaram memorando sobre a instalação desse mecanismo diplomático, que permite a intensificação das discussões políticas e a exploração de assuntos de interesse comum ; por exemplo, biocombustíveis e desenvolvimento sustentável da Amazônia.
Afinidades políticas em alta A medalha do Cruzeiro do Sul: homenagem calorosaA sintonia entre Álvaro Uribe e Lula ficou evidente desde o encontro entre os dois presidentes no alto da rampa de acesso ao Planalto, em um abraço caloroso seguido por trocas frequentes de comentários reservados, de palavras amistosas. E na satisfação com que o presidente colombiano recebeu a medalha da Ordem do Cruzeiro do Sul. ;Você tem sido um grande amigo nosso nesses anos, ajudou-nos a construir confiança na Colômbia;, disse Uribe na abertura da entrevista coletiva. ;Você ajudou a convencer (o mundo) de que não se consegue paz sem segurança.; O visitante repetiu em público os agradecimentos e elogios que se repetem desde a semana passada pela participação brasileira no resgate de seis reféns libertados pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Fazendo coro com a Cruz Vermelha, que pilotou a operação, Uribe destacou a ;discrição e eficácia; da diplomacia brasileira. Referiu-se à guerrilha esquerdista sempre como ;os terroristas; e aproveitou para denunciar ;o cinismo; das Farc: ;Querem obter prestígio político com a libertação de sequestrados, mas ensanguentam as ruas da Colômbia com carros-bomba;. O pronunciamento claro do governo brasileiro sobre o conflito colombiano, nos últimos anos, reconhecendo sem meias-palavras a legitimidade do Estado constituído e excluindo as Farc do diálogo político enquanto praticar sequestros e ações contra civis, fez de Lula um parceiro providencial. Desde que tomou posse, em agosto de 2002, Uribe assistiu à eleição de governos de esquerda em toda a vizinhança ; inclusive o Brasil ; e na prática viu-se isolado no subcontinente, embora na condição de aliado dos Estados Unidos. Uma expressão visível da aproximação entre dois governos classificados em campos políticos geralmente adversos ; Uribe como um direitista clássico, Lula como referência para a esquerda regional ; foi o cumprimento do visitante no assessor internacional do presidente brasileiro. Marco Aurélio Garcia, por muitos anos dirigente do PT, é visto por setores políticos colombianos como ;simpático; às Farc. O presidente fez questão de abraçá-lo e saudá-lo, alto o suficiente para que fosse ouvido pela imprensa, como ;meu grande amigo;. O presidente Uribe atribuiu ao colega brasileiro papel crucial para a adesão de seu país ao Conselho de Defesa da União de Nações Sul-Americanas. Foi Lula quem convenceu os integrantes da Unasul a aceitar as condições exigidas pelo colombiano: a exclusão de reconhecimento a forças armadas irregulares e o princípio de adoção de decisões apenas por consenso. (SQ)

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