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Saúde: Tricô e leitura podem atrasar perda de memória

Cientista etíope analisa 1.321 idosos norte-americanos e descobre que atividades mentais reduzem em até 50% o risco de demência

postado em 19/02/2009 07:30
Quer ter uma boa memória na terceira idade? Então, leia muitos livros, faça tricô, gaste um tempo diário diante do computador, mas diminua as horas em frente à televisão. As sugestões são de Yonas Geda, neuropsiquiatra da Mayo Clinic (em Minnesota, Estados Unidos), e fazem parte das conclusões de um estudo que será apresentado no fim de abril durante o 61º Encontro Anual da Academia de Neurologia dos Estados Unidos, em Seattle. A pesquisa revela que certas atividades mentais podem atrasar ou mesmo impedir a perda de memória. Geda escolheu aleatoriamente 1.321 idosos em Rochester, sede da clínica. Todos os voluntários tinham entre 70 e 89 anos. ;Pelo menos 189 apresentavam deterioração cognitiva leve (MCI, pela sigla em inglês) ou perda de memória. As 1.124 pessoas restantes não sofriam de problemas de memória;, afirmou o etíope ao Correio, por e-mail. ;Nós dividimos os dois grupos e, de cada participante, coletamos informações por meio de um questionário sobre atividades intelectuais e cognitivas;, acrescentou. A MCI é considerado um estado transitório entre o envelhecimento normal e os sintomas mais precoces do mal de Alzheimer. Questionário Tanto os voluntários acometidos de perda de memória como os pacientes sem qualquer sintoma de demência responderam a questões sobre suas atividades diárias no decorrer do último ano e na maturidade, quando tinham entre 50 e 65 anos de idade. O passo seguinte da pesquisa foi realizar um de controle de caso. ;Percebemos que ler livros, tricotar e usar o computador são atividades associadas a um risco crescente de problemas de memória;, disse Geda. Apesar de reconhecer esse benefício, o especialista etíope alertou: ;Essa associação necessariamente não significa uma relação causa-efeito;. Os cientistas da Mayo Clinic descobriram que ler livros, jogar, manipular computadores e realizar algum tipo de arte, inclusive tricô, pode levar a uma redução de 30% a 50% no risco de desenvolvimento da deterioração cognitiva leve. A pesquisa constatou ainda que os indivíduos adeptos de atividades sociais e da leitura de revistas, durante a idade adulta, tiveram 40% menos probabilidades de apresentar MCI, em comparação com os voluntários que jamais se engajaram nessas práticas. TV demais é prejudicial ;Em nosso estudo, observamos que o ato de assistir à TV por sete ou mais horas por dia está ligado a um aumento de até 50% no risco de deterioração cognitiva leve (MCI, pela sigla em inglês);, alertou o neuropsiquiatra etíope Yonas Geda, em entrevista ao Correio. Mas a saúde mental pode ser bem preservada se o uso diário de televisão se restringir a menos de sete horas. ;Nossos resultados confirmam que o estímulo intelectual está relacionado a um risco menor de deterioração da memória;, afirmou o coordenador da pesquisa. Geda ainda não sabe ao certo os motivos pelos quais o ;exercício cerebral; contribui para a lucidez na terceira idade, mas ele tem dois palpites. O primeiro é o de que atividades cognitivas estimulem a produção de substâncias químicas neuroprotetoras no cérebro. O segundo indica que a prática mental atua como marcador para um estilo de vida saudável. ;Uma pessoa com disciplina para ler livros deve ter disciplina para se exercitar e ter uma dieta saudável;, explicou. Os cientistas creem que a importância da pesquisa está no fato de ela demonstrar que o envelhecimento não precisa ser passivo. A prática de exercícios cognitivos pode ser uma blindagem da memória. Outra pesquisa, da Universidade de Boston, revela que pessoas cujos pais foram diagnosticados com demência estão mais suscetíveis à perda de memória.
Entrevista: neuropsiquiatra Yonas Geda, da Mayo Clinic Cientista etíope analisa 1.321 idosos norte-americanos e descobre que atividades mentais reduzem em até 50% o risco de demênciaNeuropsiquiatra da Mayo Clinic (Estados Unidos), o etíope Yonas Geda (foto) contou ao Correio como descobriu que fazer tricô, ler livros ou manusear computadores pode reduzir em 30% a 50% o risco de perda de memória na terceira idade. Como o senhor chegou à conclusão de que ler um livro ou fazer tricô pode reduz o risco de demência? Este é um estudo baseado na população. Isso significa que os participantes foram aleatoriamente selecionados entre idosos de Rochester, no Minnesota. Os voluntários têm idades entre 70 e 89 anos. Houve 1.321 participantes do estudo ; 198 deles tinham deterioração cognitiva leve (MCI, pela sigla em inglês), os outros apresentavam um nível normal de cognição. De cada participante, nós coletamos informações usando um questionário sobre atividades intelectuais e cognitivas. Depois, realizamos um estudo de controle de caso. Percebemos que ler livros, fazer tricô e usar computador estão associadas ao risco crescente de problemas de memória. Mas vale lembra que associação necessariamente não significa uma relação causa-efeito. Qual é a explicação para o atraso do começo da demência em pessoas que praticam exercícios cerebrais? Isso é um estudo observacional. Nós não conduzimos um mecanismo de estudo de ação. Por isso, nossa pesquisa não pode responder a essa questão. Por que assistir à TV tem efeito adverso? Nós observamos que assistir à TV por sete ou mais horas por dia está associado a um aumento de risco de deterioração cognitiva leve (MCI). Mas menos de sete horas por dia não é um fator de risco para MCI. Qual é a importância desse estudo em termos de prevenção da deterioração da memória? O estudo confirma o que tem sido observado por outras pesquisas: atividades de estímulo intelectual estão ligadas a um risco menor de deterioração da memória. Nós podem especular sobre o mecanismo de ação. Em primeiro lugar, atividades cognitivas levam à produção de substâncias químicas no cérebro que têm função neuroprotetora. Em segundo lugar, uma atividade desse gênero pode ser um marcador para um estilo de vida saudável. Isso quer dizer que uma pessoa com disciplina para ler livros também deve ter a disciplina para exercitar e comer alimentos saudáveis.

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