postado em 19/02/2009 07:42
BAGDÁ - O julgamento do jornalista iraquiano que jogou os sapatos na direção do então presidente americano George W. Bush foi adiado para 12 de março, pouco depois do início do processo nesta quinta-feira (19/02) em Bagdá, anunciou o presidente da Corte.
"Decidimos entrar em contato com o gabinete do primeiro-ministro para conhecer a natureza da visita do ex-presidente americano, para saber se era uma visita oficial ou não. Por isto adiamos a audiência para 12 de março", declarou o juiz Abdel Amir Hasan al-Rubaie.
O juiz tomou a decisão depois de ouvir o acusado, Muntazer al-Zaidi, sobre a natureza da visita de Bush, em 14 de dezembro de 2008. "Esta visita não era oficial porque não foi anunciada com antecedência", afirmou o jornalista. Para encerrar o debate, o juiz pediu esclarecimentos ao gabinete do primeiro-ministro Nuri al-Maliki.
Ao entrar no tribunal, o repórter foi aplaudido pelos familiares, que gritaram frases em memória do imã Ali, figura sagrada para os muçulmanos xiitas.
"Seu ato se explica por razões psicológicas, sociais e políticas. Queria expressar seu repúdio pela ocupação", declarou o advogado Dhia al-Sadi, antes de pedir a convocação de especialistas para explicar as motivações de seu cliente.
O jornalista Muntazer al-Zaidi pretendia alegar nesta quinta-feira que exerceu o direito à liberdade de expressão.
O repórter de 30 anos, do canal Al-Baghdadiya, compareceu à Corte Criminal Central do Iraque, competente para os casos de terrorismo e situada na ultraprotegida Zona Verde de Bagdá.
Al-Zaidi, que pode ser condenado a até 15 anos de prisão por "agressão a um chefe de Estado estrangeiro", é agora um herói no mundo árabe. "Exigimos a anulação do processo e a libertação", declarou na quarta-feira Al-Saadi, que dirige a equipe de defesa do jornalista, composta por 25 advogados.
Em 14 de dezembro de 2008, em plena entrevista coletiva do então homem mais poderoso do mundo e do primeiro-ministro iraquiano, Nuri al-Maliki, Al-Zaidi levantou bruscamente e gritou "Este é o beijo de despedida, cachorro" e lançou os sapatos em Bush, que conseguiu se esquivar.
Segundo o artigo 223 do Código Penal iraquiano, este gesto pode custar ao repórter de cinco a 15 anos de prisão, caso o juiz considere que foi "uma agressão caracterizada".
Se o tribunal considerar que foi apenas uma "tentativa de agressão", ele fica sob a possibilidade de ser condenado a entre um e cinco anos de prisão.