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Em carta, Battisti pede justiça ao Brasil e que Itália o perdoe

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postado em 19/02/2009 20:41
Em carta escrita na Penitenciária da Papuda (Brasília), onde cumpre pena até que o STF (Supremo Tribunal Federal) julgue o seu pedido de extradição, o ex-ativista italiano Cesare Battisti faz uma defesa emocionada da sua liberdade e pede perdão à Itália pelos atos cometidos em seu passado. Na carta, Battisti afirma que uma "multidão manipulada" se tornou "linchadora" do seu nome e apela ao cristianismo italiano para ser perdoado. "Será que não chegou a hora da Itália mostrar seu lado cristão? O perdão é um ato de nobreza. Se sou considerado inimigo da Itália, até os inimigos fazem trégua e se perdoam. [...] Itália, Itália, que mata o sonho dos teus filhos e fecha os olhos àqueles que te defenderam, nunca é parte para um gesto de nobreza, a exemplo do Vaticano em reconhecer suas atividades durante a inquisição", argumenta Battisti na carta. O ex-ativista menciona, na carta, os quatro homicídios que teriam sido cometidos no período em que participou de movimentos de esquerda na Itália. Sem desmentir os crimes, Battisti diz apenas que a "ironia do destino" fez com que ele hoje se encontrasse condenado. "A minha situação é terrível, eu fico amedrontado, desarmado, frente à hostilidade, ao ódio rancoroso que manifestam meus adversários", afirma. Battisti reconhece que "não fez nada" para evitar os problemas decorrentes do seu envolvimento na luta esquerdista, mas questiona por que seus inimigos cultivam "tanto ódio" das suas ações passadas. "Podem continuar dizendo que eu sou um terrorista, assassino. De todo modo, eu não consigo pensar em mim como alguém capaz sequer de um centésimo de tudo o que me atribuem", diz o italiano na carta. O ex-ativista se diz vítima de um "bombardeio midiático" que tenta interferir negativamente nas decisões judiciais ao seu favor. "Eu gostaria de gritar a verdade ao povo italiano e brasileiro, mas como fazer isso? Pois a multidão manipulada se tornou linchadora e convencida sobre a nossa perdição." Battisti afirma que deixou de contestar os rótulos de "assassino", "ladrão" e "estuprador" porque se mantém otimista em provar a sua inocência. "Mesmo se nos meus raciocínios eu me levanto com razão contra os baixos instintos da multidão manipulada, ainda não perdi as esperanças de que uma luzinha pode de repente acender-se no meio dessa gente para trazê-las de volta." O italiano se diz "perseguido" pelas autoridades do país que "esqueceram suas tentativas de golpe de Estado, a máfia no poder, a estratégia da tensão, as bombas do serviço secreto em praça pública, as torturas aos militantes comunistas". E completa: "seria esta Itália, cujo chefe de governo foi um excelente membro da célebre Loggia P2 e que hoje decreta leis racistas? É esta Itália que se recusa hoje a lavar a sua roupa suja um público?", questiona na carta. Battisti encerra a correspondência pedindo "justiça" ao governo italiano. "A caça às bruxas acabaram. Faça-se justiça não depois de perecer o mundo, mas justamente para que ele não pereça. A sociedade sofre muito mais com a prisão de um inocente do que com a absolvição de um culpado." *Carta* A carta, de oito páginas, foi escrita a mão por Battisti na penitenciária. Os senadores Eduardo Suplicy (PT-SP) e José Nery (PSOL-PA) levaram a correspondência para o Senado e divulgaram o seu conteúdo. Nery leu a íntegra da carta da tribuna da Casa, com a defesa para que o STF mantenha o refúgio político concedido a Battisti pelo ministro Tarso Genro (Justiça). O governo italiano defende a extradição de Battisti com o argumento de que o ex-ativista cometeu atos terroristas, incluindo assassinatos, e precisa responder pelos crimes em seu país de origem.

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