postado em 20/02/2009 07:40
A secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, chegou ontem à Coreia do Sul em meio a especulações sobre o possível lançamento de mísseis norte-coreanos capazes de atingir a costa dos Estados Unidos no Pacífico. Durante o voo entre Jacarta e Seul, a chefe da diplomacia americana sugeriu que o regime comunista da Coreia do Norte estaria adotando uma linha mais dura em relação a seu programa nuclear por causa da disputa pela sucessão de Kim Jong-il, cujo estado de saúde é questionado pela imprensa internacional desde 2008. O governo de Pyongyang, por sua vez, aproveitou os holofotes sobre a visita de Hillary para acusar Washington de planejar um ;ataque nuclear preventivo;.
;Acho que esse é um momento especialmente importante para a Coreia do Sul, já que enfrenta muitos problemas em relação ao que está acontecendo na Coreia do Norte, o que a sucessão representará para eles;, disse a secretária de Estado, acrescentando que Seul ;dirigiu-se aos Estados Unidos; para unir esforços ;a fim de reativar a agenda de desarmamento nuclear e não-proliferação;. Segundo Hillary, seu governo receia que a sucessão de Kim, ainda não recuperado plenamente de um ataque cardíaco sofrido em agosto, acirre a tensão com os vizinhos. ;Estamos tentando ler a borra do café;, disse a secretária, evocando um método tradicional de adivinhação.
A representante americana, no entanto, acredita que Washington deve mudar sua estratégia em relação a Pyongyang. Para ela, as negociações entre as duas Coreias, EUA, Rússia, China e Japão, conduzidas sob o governo de George W. Bush, deram ;algum resultado;, mas é preciso mais para fazer o regime norte-coreano ;voltar para o caminho certo;. ;Partindo da premissa de que o grupo dos seis países é um bom fórum, vamos nos engajar o máximo que pudermos, tentando falar diretamente à população da Coreia do Norte e com quem no governo estiver disposto a cooperar;, disse Hillary ao jornal japonês Asahi Shimbun, na sua passagem por Tóquio.
O cenário que Washington e seus aliados encontrarão na campanha pelo desarmamento nuclear de Pyongyang, contudo, não é dos mais animadores. Ontem, o governo norte-coreano se declarou ;totalmente preparado; para uma guerra contra o sul. A mídia oficial do país acusou ainda os ;quartéis belicosos; dos EUA de estarem ;avançando em seus preparativos para fazer um ataque nuclear preventivo;. ;Os Estados Unidos falam de ;diálogo; e de ;paz; na Península Coreana, mas, na verdade, querem aumentar o confronto militar;, acusa um artigo publicano no jornal oficial do Partido Comunista.
China
Hoje, depois de se reunir com autoridades de Seul para discutir a disputa nuclear, Hillary seguirá para Pequim, onde ficará até o domingo. Na China, um dos assuntos deverá ser ainda a Coreia do Norte, mas a representante de Barack Obama desenvolverá outros temas com as autoridades locais, como a crise econômica mundial e até assuntos de Defesa. Durante a semana, os EUA confirmaram a retomada do diálogo militar com a China ; depois de ser suspenso no ano passado por Pequim, em protesto contra a venda de armas por parte de Washington a Taiwan.
Na última terça-feira, a China declarou-se disposta a conversar sobre direitos humanos com o governo americano. ;Desejamos seguir com o diálogo sobre direitos humanos com os Estados Unidos e trabalhar juntos para tentar alcançar resultados;, declarou a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Jiang Yu. Outro tema que deverá estar na agenda é o aquecimento global, uma vez que a China ultrapassou os EUA como país que mais emite gases causadores do efeito estufa.
Histórico das relações EUA-China 60 anos de relações tempestuosas 1949 - Fundação da República Popular da China (comuniosta), que o governo dos Estados Unidos não reconhece formalmente durante três décadas. 1950 - A Coréia do Norte invade a Coréia do Sul. O presidente americano, Harry Truman, envia tropas para a Coréia do Sul e ordena que a Sétima Frota da Marinha americana proteja Taiwan. A China entra na Guerra da Coréia, que é interrompida em 1953, com um armistício. 1957 - Mao Tsé-tung, fundador e líder da China comunista proclama que o ;imperialismo americano é um tigre de papel;. 1965-1970 - Mais de 320 mil soldados chineses lutam ao lado do Vietnã do Norte contra os americanos, durante a Guerra do Vietnã. 1971 - A China convida a equipe americana de tênis de mesa para jogar em Pequim, iniciativa que ficaria conhecida como ;diplomacia do pingue-pongue;. O então secretário de Estado Henry Kissinger faz duas viagens secretas a Pequim e prepara o terreno para a visita do presidente Richard Nixon. 1972 - Nixon encontra-se com Mao e assina o acordo que reconhece apenas o regime de Pequim como representante da China. O governo nacionalista de Taiwan deixa de ocupar a cadeira do país na ONU. 1976 - Mao Tsé-Tung morre. Segue-se um período de lutas políticas entre as alas ;esquerda; e ;direita; do Partido Comunista, com a vitória dos últimos, sob a liderança do reformista Deng Xiaopiong. 1979 - China e Estados Unidos estabelecem relações diplomáticas depois que o presidente Jimmy Carter muda a embaixada americana de Taipé (Taiwan) para Pequim. Deng visita os EUA e o Congresso americano aprova o Ato para Relações com Taiwan, reafirmando o compromisso dos Estados Unidos com a defesa e a venda de armas à ilha dissidente. 1982 - Em comunicado conjunto com a China, os Estados Unidos prometem reduzir gradualmente a venda de armas a Taiwan. 1984 - O presidente Ronald Reagan visita a China. 1989 - O presidente George Bush visita Pequim, em janeiro, e convida dissidentes para um banquete. Quatro meses depois, o Exército chinês reprime com violência o movimento dos estudantes por democracia, no que ficou conhecido como o massacre da Praça da Paz Celestial. Os EUA e outros países ocidentais impõem sanções a Pequim. 1992 - Bush aprova a venda de 150 caças F-16 para Taiwan. 1993 - O presidente Bill Clinton toma posse com a política de usar a economia para promover a democracia na China e insiste que, para ser um ;parceiro preferencial;, o regime de Pequim deve avançar em relação aos direitos humanos. No fim do ano, o presidente chinês, Jiang Zemin, encontra-se com Clinton em Seattle. 1995 - Bill Clinton autoriza a visita a Nova York do líder de Taiwan, Lee Teng-hui, revertendo uma política de 15 anos de recusa de vistos a líderes da ilha. A China chama de volta seu embaixador em Washington. 1996 - A China testa mísseis no Estreito de Taiwan. Os Estados Unidos enviam dois porta-aviões, numa demonstração de apoio ao governo de Taipé. 1998 - A China liberta o dissidente Wang Dan e o obriga a pedir asilo nos Estados Unidos. Clinton viaja à China ; a primeira visita de um presidente americano desde o massacre de 1989. 1999 - Aviões da Otan que bombardeavam Belgrado, durante a Guerra de Kosovo, atingem a Embaixada da China na capital da então Iugoslávia. O incidente suspende as negociações envolvendo a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC). Em novembro, Washington e Pequim chegam a um acordo sobre os termos para a entrada da China na OMC. 2000 - Os EUA decidem vender um novo pacote de armamentos a Taiwan, mas recuam na venda de armamentos polêmicos, como submarinos e aviões anti-submarinos. 2001 - O presidente George W. Bush deixa claro que não considera a China um parceiro estratégico. Em março, o vice-prermiê chinês, Qian Qichen, se encontra com Bush na Casa Branca. No mês seguinte, um avião de espionagem americano faz um pouso de emergência na ilha chinesa de Hainan, depois de colidir com um caça chinês. Pequim acusa Washington de ter provocado o choque, mas Washington diz que foi um acidente.