postado em 21/02/2009 11:54
Dentro de seis semanas, o líder do partido direitista Likud, Benjamin Netanyahu, terá de apresentar um governo completamente formado para o presidente israelense, Shimon Peres. A recompensa será assumir o cargo de primeiro-ministro pela segunda vez, 13 anos depois de assumir o primeiro mandato. O prazo, no entanto, pode ser curto para a difícil tarefa de reunir centristas e nacionalistas e religiosos em uma coalizão. A líder do Kadima, Tzipi Livni, que nas eleições legislativas de 10 de fevereiro obteve uma cadeira a mais que o Likud, já disse que não vai participar de um governo com partidos ultradireitistas. Netanyahu não deverá desistir facilmente: já convidou a opositora nas urnas para uma reunião amanhã.
Apesar de seu partido não ter sido o mais votado, o líder do Likud foi convidado na tarde de ontem por Peres para formar o novo governo. A escolha evidencia como o crescimento dos partidos de direita beneficiou Netanyahu ; o que praticamente o obriga a considerar a formação de um governo que os envolva. O conservador, contudo, não quer o maior partido da Knesset na oposição, e aceitou o convite de Peres pedindo a ;união; do país. ;Convoquei Tzipi Livni, e o líder trabalhista, Ehud Barak, e disse a eles: ;Vamos nos unir para garantir o futuro de Israel;;, disse à imprensa.
Antes de entregar o pedido oficial a Netanyahu, o presidente israelense reuniu-se com Livni, sua correligionária. A chanceler deixou o encontro com ar pessimista, argumentando que uma coalizão com o Likud e a direita não permitiria que seu partido cumprisse as promessas feitas aos eleitores. Segundo ela, o Kadima ;quer uma solução de paz baseada em dois Estados;, referindo-se à criação de uma Palestina soberana. ;Netanyahu quer nossa participação para estabilizar seu governo. Mas não a terá. A coalizão que ele planeja prejudica nosso país;, disse Livni ao jornal Haaretz.
Nomes importantes do Kadima têm se dividido sobre a possível participação no gabinete. O líder do partido na Knesset (Parlamento), Yoel Hasson, não acredita que Livni se junte à coalizão liderada pelo Likud. ;Imagino que iremos para a oposição;, arriscou. Já Dalia Itzik, um dos mais notáveis deputados do Kadima, espera que os dois partidos se unam em uma ;ampla coalizão;.
Muito cotado logo após as eleições, Avigdor Lieberman, líder do partido Israel Beitenu ; o terceiro mais votado ;, deve ser um dos grandes obstáculos à formação do governo. Com 15 deputados, o partido ultradireitista não poderá ser ignorado, mas sua presença na coalizão pode afastar as forças mais de centro, além de indispor Israel com países aliados envolvidos no processo de paz.
Para Barry Rubin, diretor do Centro de Pesquisa Global em Relações Internacionais, em Israel, ambas as opções de Netanyahu ; governar com o Kadima e os trabalhistas ou com a ultradireita ; darão muito trabalho. ;No caso de um governo à direita, ele teria que reunir pelo menos cinco das seis partes: Likud, Israel Nosso Lar, Shas, Judaísmo Unificado da Torá, União Nacional e Casa Judaica. Os partidos religiosos não se entendem com o Israel Nosso Lar, e os de ultradireita ameaçariam todos os dias deixar a coalizão.;
Palestinos veem perigo
Do outro lado da fronteira, a notícia do convite feito pelo presidente israelense, Shimon Peres, para que Benjamin Netanyahu assuma como premiê não foi bem recebida. O grupo radical islâmico Hamas, que comanda a Faixa de Gaza, declarou que Israel e scolheu o político ;mais extremista e mais perigoso; para conduzir o país. Na Cisjordânia, o líder da Autoridade Palestina (AP), Mahmud Abbas, por sua vez, anunciou que não tratará com um governo israelense descompromissado com a paz. O Hamas aproveitou o momento de decisões no governo israelense para acusar novamente o outro lado do conflito de descumprir as condições para a trégua bilateral.
De acordo com Fawzi Barhum, porta-voz da milícia, a escolha de Netanyahu ;não prenuncia um período de paz ou estabilidade para a região;. Entretanto, outro oficial do Hamas, Ismail Radwan, afirmou que as duas principais opções para premiê israelense ; Netanyahu e a chanceler, Tzipi Livni ; são consideradas ;inimigas;. ;O Hamas não faz diferenciações entre Netanyahu e Livni, os dois são hostis com o povo palestino e são terroristas;, disse Radwan à TV Al-Jazeera.
Carta a Obama
O Hamas desmentiu ter enviado, por meio da Organização das Nações Unidas (ONU), uma carta ao senador americano John Kerry para que ele a entregasse ao presidente Barack Obama. O Departamento de Estado norte-americano, no entanto, confirmou ontem que Kerry recebeu a correspondência destinada a Obama. ;O Hamas desmente, mas estamos dispostos a estabelecer relações com toda parte disposta a apoiar os direitos do povo palestino;, afirmou Barhum.
Bibi terá sua segunda chance de governar
Aos 59 anos, Benjamin Netanyahu só esperava pela segunda oportunidade. Em 1996, quando se tornou o mais jovem primeiro-ministro da história de Israel, como líder do partido direitista Likud, sua experiência política era reduzida. E não são poucos os observadores e mesmo aliados que atribuem à falta de tarimba boa parte do seu fracasso: em 1999, o premiê viu-se obrigado a convocar eleições antecipadas e perdeu.
Seu governo foi breve, mas Bibi, como é chamado, congelou o processo de paz iniciado em 1992 pelos trabalhistas Yitzhak Rabin e Shimon Peres. Sua política de retomar a colonização judaica na Cisjordânia e Gaza alimentou as tensões e desconfianças entre as partes.
Desde que deixou o poder, Netanyahu comandou uma oposição que a cada ano e a cada eleição foi migrando para a direita. Mesmo com a volta do Likud ao governo, sob o comando de Ariel Sharon ; um general com credenciais direitistas acima de qualquer suspeita ;, Bibi acabou de novo na oposição. Depois de atuar como chanceler em 2002 e ministro de Finanças em 2003 a 2005, rebelou-se quando Sharon decidiu retirar colonos e tropas de Gaza. Tomou a direção do partido e provocou a formação do centrista Kadima, onde o general linha-dura se uniu a Peres.
A vida e a carreira política de Netanyahu foram marcadas pelo espetacular resgate dos passageiros tomados como reféns em um avião desviado para Uganda quando voava de Paris para Telavive, em 1976. O coronel Yonatan Netanyahu, irmão mais velho, foi o único militar israelense morto na ação.
Bibi, que era ele próprio um capitão, trocou a farda pelas salas de aula do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e iniciou mais uma temporada nos Estados Unidos, onde havia estudado na adolescência. Dizem que voltou americanizado: trocou o nome hebraico (Binyamin) pela forma atual. Filiado ao Likud, elegeu-se deputado em 1988 e tornou-se líder da bancada cinco anos mais tarde.