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Na China, Clinton deixa direitos humanos de lado para discutir economia

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postado em 22/02/2009 17:04
Antes de deixar Pequim, Hillary Clinton pediu à China que continue financiando a dívida americana, no encerramento de sua viagem pela Ásia, a primeira como secretária de Estado do presidente Barack Obama, ao longo da qual priorizou o diálogo no campo econômico e deixou de lado a discussão dos direitos humanos. Clinton insistiu na interdependência existente entre Washington e Pequim, primeira e terceira economias mundiais, ao término de sua viagem asiática, que a levou também ao Japão, à Indonésia e à Coréia do Sul. "Ao seguir apoiando os instrumentos do Tesouro americano, a China reconhece nossa interdependência. É claro que sairemos ou cairemos juntos", declarou a secretária de Estado. "Enfrentaremos um aumento de nosso endividamento", acrescentou Clinton, referindo-se à crise econômica em seu país. "Não é do interesse da China que nós não sejamos capazes de reativar nossa economia", afirmou, destacando que os dois países estão irreversivelmente ligados. Os investimentos chineses em bônus do Tesouro americano são vitais para a aplicação, nos Estados Unidos, do gigantesco plano de reativação econômica, de 787 bilhões de dólares. A China, por sua vez, precisa da demanda do mercado americano, agora que as exportações, principal motor de seu crescimento, caíram fortemente em decorrência da crise. Em setembro, a China passou a ocupar o lugar do Japão como maior credor dos EUA, com 696 bilhões de dólares em bônus do Tesouro em dezembro. No sábado (21/02), Clinton se encontrou com o presidente chinês, Hu Jintao, e com o primeiro-ministro, Wen Jiabao. Washington e Pequim insistiram em sua vontade mútua de cooperar para reverter a crise econômica e as mudanças climáticas - os dois países são os maiores poluidores do mundo. Antes de chegar a Pequim, Clinton afirmou que a administração de Barack Obama não pretende pressionar Pequim sobre a questão dos direitos humanos neste momento, para evitar que a discussão de outros temas seja bloqueada. "Temos que continuar pressionando", ponderou Clinton em Seul, pouco antes de embarcar para a China, "mas nossas pressões não podem interferir na crise econômica mundial, na crise do aquecimento global e na crise da segurança". Suas declarações causaram indignação em grupos de defesa dos direitos humanos em todo o mundo, como a Anistia Internacional, que disse estar "extremamente decepcionada" com a postura da secretária de Obama. "Os Estados Unidos são um dos poucos países que podem influenciar a China de maneira significativa em questões de direitos humanos", estimou T. Kumar, diretor para a Ásia da Anistia Internacional dos EUA. "Os defensores chineses dos direitos humanos e a sociedade civil sofrerão ainda mais se a comunidade internacional não prestar atenção suficiente e não pressionar a China o suficiente", estimou Zeng Jinyan, uma das mais conhecidas dissidentes do país, que denunciou ter sido colocada em prisão domiciliar durante a visita de Hillary Clinton. Outros dissidentes, no entanto, disseram compreender a prudência dos EUA, e se mostraram confiantes de que o reforço das relações bilaterais dê seus frutos no médio e longo prazo.

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