postado em 24/02/2009 10:33
;Assim como em um período de crescimento precisamos de imigrantes para ajudar no crescimento, é correto, em época de crise, sermos mais seletivos sobre o nível de capacitação desses imigrantes, e priorizar os trabalhadores britânicos.; Dessa forma, a ministra britânica do Interior, Jacqui Smith, justificou as mudanças na lei de imigração que passarão a vigorar a partir de 1º de abril.
Para se encaixar no programa de imigração Tier 1 ; reservado a profissionais altamente qualificados ;, o estrangeiro terá de apresentar um documento atestando a conclusão de mestrado, e não apenas o certificado de bacharelado. Também deverá mostrar um comprovante salarial do empregador: os ganhos anuais precisarão ser iguais ou superiores a 20 mil libras esterlinas. A meta do governo é reduzir de 26 mil para 14 mil o número de imigrantes que se encaixam nesse perfil, até o fim do ano. Em relação aos profissionais com ;qualificação restrita;, a intenção é cortá-los de 80 mil para 20 mil.
Imigrantes brasileiros consultados pelo Correio divergem sobre as novas medidas. O paulista Adilson Marques dos Reis, de 28 anos, trabalha como consultor de negócios em Londres e se encaixa no programa Tier 1. Apesar de não ter mestrado, ele acha que pode ser favorecido com a modificação nas regras. ;Não vou perder o Tier 1, porque as mudanças serão apenas para os novos candidatos.;
Adílson acredita que o mercado de trabalho no Reino Unido ficará mais exigente, ao concentrar mais profissionais qualificados. ;Como a taxa de desemprego aumentou por aqui, creio que os britânicos sempre terão prioridade, seguidos dos europeus e dos imigrantes de outros países, inclusive do Brasil.; Moderador de uma comunidade no site de relacionamento Orkut sobre as alterações na lei, ele explica que a demanda de candidatos especializados pode estar saturada. ;O governo ainda oferece uma série de regalias a esses profissionais, como a possibilidade de residência, de trabalhar em período integral e de vir para cá sem trabalho.;
A desilusão com o mercado britânico levou o faxineiro Robson David Ferreira, de 20 anos, a fazer as malas e preparar o retorno ao Brasil ; a passagem de volta está marcada para abril. A crise econômica limitou sua carga de trabalho a duas horas diárias. ;As empresas fecharam as portas, o número de desempregados cresceu e os britânicos têm mais vantagens na busca pelo emprego;, confirma o morador de Oxford. Para o goiano da cidade de Minaçu, as autoridades do Reino Unido não têm o direito de endurecer a legislação. ;Cada dia que passa, mais o imigrante por aqui é tratado de modo desumano;, desabafa.
Mais exigências.
A jornalista amazonense Ana Goreth Antony Crawford, de 31 anos, vive em Winchestar, ao sul de Londres, desde 2001. Ela aposta que será mais difícil aos novos imigrantes conseguirem trabalho no país. ;Quem procura emprego qualificado tem de disputar com os próprios britânicos e os cidadãos da União Europeia;, afirma.
;Essas medidas não são um protecionismo estreito ; um sistema de imigração flexível, em detrimento de uma aparência arbitrária, é melhor para os negócios britânicos e para a economia britânica;, explicou Jacqui Smith. Segundo a ministra, ;a imigração continua a desempenhar um papel importante no Reino Unido;.
Alterações na legislação
Principais transformações na legislação de imigração britânica anunciadas ontem pela ministra do Interior, Jacqui Smith:
ANTES
O solicitante de visto de trabalho precisava ter curso superior completo
O QUE VAI MUDAR
O governo britânico exige mestrado completo para legalizar o imigrante
* * *
ANTES
O aspirante ao visto tinha de comprovar uma oferta de trabalho com renda de 17 mil libras esterlinas
O QUE VAI MUDAR
A futura renda mínima exigida para a permanência legal no Reino Unido será de 20 mil libras esterlinas
análise da notícia
Crise econômica institucionaliza xenofobia
A crise econômica global começa a promover a institucionalização da xenofobia na Europa. Já há algum tempo, sinais de intolerância ecoam no Reino Unido e na Itália. No mês passado, Londres foi palco de protestos de britânicos exigindo direito sobre os postos de emprego. Caso a máxima ;Trabalhos britânicos para trabalhadores britânicos; seduza a população, existe o perigo de o Partido Nacional Britânico, de extrema direita, sair fortalecido nas eleições para o Parlamento Europeu, em junho, e disseminar sua ideologia .
Mais grave é a situação na Itália. O governo anunciou o endurecimento de leis contra criminosos sexuais. Por trás dessa medida, é latente uma política maldisfarçada de perseguição aos imigrantes: pela tese do premiê Silvio Berlusconi, a maioria dos estupros registrados no país foi cometida por estrangeiros. A legislação permite a detenção de imigrantes por um prazo de seis meses ; nesse período, as autoridades podem devassar a vida dos ;suspeitos; e expulsar os ilegais. Se aos excessos cabia a desculpa do terror, agora é a recessão que serve de justificativa para a intolerância e de ameaça à democracia. (RC)