postado em 26/02/2009 07:47
O deficiente fÃsico rastreia a tela do computador com os olhos e, sem tocar o monitor, marca a opção de destino. A cadeira de rodas ;interpreta; a informação e se move até o local escolhido. Tudo pela ;força do pensamento; ou, em uma linguagem mais cientÃfica, pela interpretação dos sinais cerebrais. O que parece ficção deve se tornar realidade de mercado dentro de 10 anos. O protótipo, desenvolvido por cientistas do Departamento de Inteligência Artificial e Robótica do Politécnico de Milão, está em fase de aperfeiçoamento, mas já mostra resultados concretos.
Em entrevista ao Correio, Bernardo Dal Seno, um dos pesquisadores responsáveis pelo projeto, explicou que a ;alma; da cadeira é a interface cérebro-computador (BCI, pela sigla em inglês). Eletrodos instalados no couro cabeludo do usuário e conectados a um computador têm a função de registrar os sinais cerebrais. ;A BCI usa o P300, um componente do sinal de eletroencefalograma que ocorre quando o indivÃduo detecta um alvo de estÃmulo ocasional em um conjunto de estÃmulos padrões;, explicou. Esse sinal apresenta um pico positivo de 300 milissegundos depois do estÃmulo ocasional.
Além dos eletrodos, o equipamento consiste em três computadores ; dois para navegação e um para a BCI ; e em uma câmera acoplada. ;No computador da BCI aparecem as palavras referentes ao local de destino (cozinha, quarto etc.). Quando as opções piscam na tela, o usuário tem a chance de fazer uma escolha;, afirmou Bernardo. No momento em que a BCI detecta o potencial P300, a escolha associada é imediatamente selecionada. ;Como o P300 é uma resposta inata, não requer treinamento por parte do usário;, acrescentou o italiano. Quando a cadeira estiver à venda, um manual vai aconselhar o usuário a contar o número de vezes que a escolha de interesse é apresentada na tela, para que ele se mantenha concentrado na tarefa.
Mapa
De acordo com Bernardo Dal Seno, o sistema de posicionamento da cadeira depende de marcadores colocados no teto do ambiente. ;Um módulo de planejamento traça o caminho até o destino em um mapa onde todos os elementos estáticos (paredes, mesas e móveis) estão indicados;, explicou. Sensores instalados na própria cadeira impedem que a máquina esbarre em pessoas e em objetos não descritos no mapa.
A cadeira é completamente autônoma e depende da BCI apenas para selecionar o destino. O computador minimiza a possibilidade de erros. ;Se algo não sair como o esperado com a classificação dos sinais do eletroencefalograma, o pior que pode ocorrer é a cadeira se mover rumo a um local indesejado;, afirmou o cientista. ;Mas o usuário pode corrigir o erro imediatamente, fazendo uma nova seleção.;
A cadeira de rodas precisa ser abastecida com dados sobre a posição de todos os elementos estáticos presentes no ambiente de deslocamento. Também é necessário apontar quais os possÃveis destinos de interesse e a posição de marcadores no teto ; o que pode ser feito a partir de fotos do local.
Comercialização
Por enquanto, o preço sugerido do equipamento é desencorajador. A cadeira de rodas custa cerca de 30 mil euros (cerca de R$ 92.100), os equipamentos eletrônicos de bordo podem ser adquiridos por 2 mil euros (R$ 6.140) e o eletroencefalograma vale aproximadamente 5 mil euros (R$ 15.350). Se estivesse à venda no Brasil, seria necessário pagar R$ 113 mil para levar a máquina para casa. ;Para um modelo comercial, esperamos cortar custos do hardware, mas precisamos levar em conta os custos de desenvolvimento e produção;, disse Bernardo.
Os cientistas italianos pretendem agora aumentar o grau de alcance da cadeira. ;A BCI é apenas uma forma de controlar a cadeira. Pretendemos desenvolver uma opção viável para pessoas que não tenham a capacidade de guiar o equipamento por elas mesmas;, previu o especialista. Uma das possibilidades é uma máquina voltada a pacientes que perderam as funções cognitivas. Nesse caso, ela seria controlada por uma terceira pessoa, que daria ordens ao computador. ;Em 10 anos, devemos começar a comercializar uma cadeira guiada pela BCI;, admitiu Bernardo.