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Em carta, italiano Cesare Battisti apresenta sua defesa para ministros do STF

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postado em 26/02/2009 18:12
O ex-ativista italiano Cesare Battisti encaminhou nesta quinta-feira aos ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) carta na qual nega ter cometido quatro assassinatos no fim da década de 1970, na Itália, quando fazia parte da organização PAC (Proletários Armados pelo Comunismo). Battisti faz um apelo aos ministros do STF para que levem os seus argumentos em conta no momento em que forem definir o seu pedido de extradição --feito pelo governo italiano. "Da minha parte, estou disposto a confirmar pessoalmente perante Vossas Excelências tudo o que estou dizendo. Assim como estou disposto a afirmar aos familiares das quatro vítimas, olho no olho, que não matei seus entes queridos", afirma. Na carta de 19 páginas, escrita na penitenciária da Papuda, em Brasília, onde cumpre pena, Battisti afirma que o processo que resultou em sua condenação na Itália é repleto de vícios que poderão comprovar sua inocência. Vingança. O militante afirma que foi acusado dos homicídios por Pietro Mutti, seu ex-companheiro de luta armada durante o período da ditadura italiana. Battisti disse que Mutti agiu por vingança depois que os dois romperam na década de 70, com a intenção de proteger os antigos companheiros verdadeiramente responsáveis pelos assassinatos --após receber o benefício da delação premiada. "Não sou responsável por nenhum dos homicídios que sou acusado, senhores ministros. Constantemente fui utilizado no processo como um bode expiatório, por arrependidos", afirma Battisti. O ex-militante também acusa seus antigos companheiros de fraudarem procurações em seu nome, usando antigas assinaturas que havia deixado para os integrantes da luta armada quando decidiu refugiar-se na França e no México. "O meu processo foi viciado, sendo esse um dos elementos que o ministro Tarso Genro [Justiça] reconheceu [ao conceder refúgio político ao ex-ativista]. A aprovação da extradição pelas três cortes francesas e, em seguida, pela Corte Européia, foi sempre fundada pela existência daquelas procurações, que são absolutamente falsas", diz na carta. Battisti diz não ter como comprovar as falsificações no processo uma vez que não possui testemunhas oculares dos fatos. Além disso, o ex-militante argumenta que não tem álibis para os seus atos porque não consegue recordar as datas dos assassinatos. "Até mesmo por não os ter cometido, sou incapaz de recordar das datas desses crimes", afirma. Luta armada O militante reconhece que integrou a luta armada na década de 70 por razões políticas, mas nega que tenha atirado em qualquer pessoa nesse período. Ao fazer um histórico da sua vida na carta, Battisti afirma que desde a sua infância tem fobia a crimes e sangue. "Não sou um homem sanguinário, como tem sido escrito incessantemente. Pelo contrário. Vossas Excelências podem pedir informações aos meus irmãos sobre como eu agia quando era jovem e matavam um animal em nossa pequena exploração agrícola, mesmo que fosse um frango. Essa aversão a sangue nunca diminui na vida de um homem." Na carta, Battisti reconhece ter cometido roubos durante a juventude para financiar a atividade militante, mas nega a participação nas mortes das quais é acusado. "A cólera desproporcionada de alguns setores da Itália decorre, em grande parte, do fato que não querem, ou não lhe convém, reconhecer que o meu processo foi totalmente falseado, como tantos outros deste mesmo período", afirma na carta. Suplicy A carta foi encaminhada aos ministros do STF pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que fez a leitura das 19 páginas no plenário do Senado nesta quinta-feira. Suplicy apóia a decisão do ministro Tarso Genro (Justiça) de conceder refúgio político a Battisti com o argumento de que o processo contra o italiano enfrentou uma série de problemas durante sua tramitação na Itália. O STF deve julgar o caso Battisti até o final de março. Os ministros vão decidir sobre o mérito do pedido de extradição, uma vez que o governo italiano recorreu ao tribunal contra a decisão do governo brasileiro de conceder refúgio político ao ex-militante.

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