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Nasa envia sonda para buscar "outras Terras"

Nave Kepler vasculhará região na Constelação de Cisne à procura de planetas capazes de abrigar seres vivos. Lançamento será quinta-feira

postado em 01/03/2009 08:42
Nos próximos três anos e meio, um gigantesco telescópio funcionará como uma câmera, apontando sua poderosa lente de 0,95m de diâmetro em direção a uma área sob as asas da Constelação de Cisne, a 11 anos-luz de distância, e próximo à de Lyra, a 25,3 anos-luz. A cada 30 minutos, ele medirá o brilho de mais de 100 mil estrelas com extrema precisão, graças ao conjunto de detectores de 95 milhões de pixels. Parte de uma das missões mais ambiciosas da Nasa (agência espacial dos Estados Unidos), a sonda Kepler será lançada na quinta-feira e viajará ao universo com a tarefa de encontrar planetas do tamanho da Terra orbitando estrelas ; astros que, em tese, apresentam condições propícias para hospedar a vida. O Big Brother espacial custou cerca de US$ 600 milhões e foi motivado por pesquisas segundo as quais planetas semelhantes ao nosso são mais comuns do que se pensava. Por e-mail, William J. Borucki, cientista da Nasa e líder da missão Kepler, afirmou ao Correio que o telescópio da sonda capta sinais tênues produzidos quando pequenos planetas atravessam a frente de suas estrelas e bloqueiam parte da luz. ;Nosso telescópio vasculhará uma única área do céu que concentra mais de 100 mil estrelas e onde a água e a vida poderiam estar presentes;, disse. ;Para encontrarmos vários planetas, será preciso olharmos para muitas estrelas;, acrescentou. A nave Kepler vai rastrear a região 24 horas por dia para não perder o trânsito dos planetas cruzando as estrelas ; técnica conhecida como fotometria. Borucki é otimista em relação ao sucesso da missão. Segundo ele, se a maior parte das estrelas possui planetas semelhantes à Terra, então Kepler deverá encontrar centenas deles. ;A detecção de muitos desses planetas significaria que bilhões de locais na Via Láctea poderiam hospedar vida;, explicou. ;Precisamos achar três trânsitos antes de termos certeza de que o sinal não se trata de uma mancha na estrela;, acrescentou o especialista. Por isso, serão necessários três anos até que a Nasa obtenha um resultado conclusivo. ;Como a órbita dos planetas frequentemente estará fora da nossa linha de visão, perderemos a maior parte deles. Com base na fração de planetas não registrados, corrigiremos as medições para determinar o número total de super-Terras na nossa galáxia;, concluiu. Professora de astronomia e física da San Jose State University e co-investigadora da missão Kepler, a norte-americana Natalie Batalha afirma que telescópios terrestres já detectaram mais de 300 planetas orbitando outras estrelas, mas nenhum deles tem o tamanho da Terra. ;Vamos nos concentrar em planetas na ;zona habitável;, a região em torno de uma estrela onde pode ser encontrada água líquida;, afirmou ao Correio, por e-mail. Se o planeta estiver muito próximo da estrela, a água ferverá e o supertelescópio vai captar o vapor. ;Acho que todos já tivemos a experiência de olhar para o céu, e nos deixamos embarcar no questionamento sobre se estamos ou não a sós no Universo;, disse Natalie. Na opinião dela, a sonda dará um passo extraordinário na direção de responder a essa pergunta. Resolução O maior telescópio já lançado fora da órbita da Terra, Kepler medirá o brilho das estrelas com uma precisão de 20 partes por milhão. A título de comparação, enquanto uma câmera digital amadora tem de 1 a 10 megapixels, a Kepler terá mais de 95 megapixels. Natalie explica que o enfraquecimento da luz emitida pela estrela central (o sol da constelação) dura 12 horas e ocorre uma vez por ano. ;É algo comparado ao brilho causado por uma pulga cruzando o farol de um carro a quilômetros de distância, vindo em nossa direção.; Uma vez que Kepler determine a frequência dos planetas terrestres habitáveis, a Nasa poderá conceber projetos para buscar indicadores de vida, como oxigênio ou de metano na atmosfera. 100 bilhões de possíveis astros habitáveis ;Como existem cerca de 100 bilhões de estrelas parecidas com o Sol na Via Láctea, devemos ter pelo menos 100 bilhões de Terras apenas em nossa galáxia.; Alan Boss, cientista do Carnegie Institution of Washington, repetiu essa previsão assombrosa ao Correio e garantiu que pelo menos de 30% das estrelas estão próximas a super-Terras quentes e mornas, planetas com massas de cinco a 15 vezes maior que a Terra. Autor do livro The crowded universo: the search for living planets (O universo povoado: a busca por planetas vivos, pela tradução literal), ele aposta que a água em estado líquido será encontrada na Via Láctea. De acordo com Boss, a missão Kepler dará uma estimativa válida da frequência de mundos habitáveis em nossa galáxia. ;Eu acredito que algum planeta semelhante à Terra, com água em estado líquido próxima à superfície, vai desenvolver uma forma de vida durante alguns bilhões de anos;, afirmou. Ele acha improvável a detecção de evidências indiretas de vida inteligente. ;Mesmo que uma nave da Nasa sobrevoasse a Terra, ela não seria capaz de prever se há vida inteligente. Para que isso ocorra, precisaremos ter ondas de rádio chegando até nós;, explicou. Em um artigo científico publicado recentemente pela revista International Journal of Astrobiology, os pesquisadores concluíram que pelo menos 361 civilizações inteligentes teriam surgido desde a criação da Via Láctea, e cerca de 38 mil fora da galáxia.

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