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Presidente da Guiné-Bissau é morto em casa

Soldados rebeldes são acusados pelo crime, que seria uma vingança após o assassinato do chefe do Estado-Maior. Líder do Parlamento assumirá a nação, que tem vários acordos com o Brasil

postado em 03/03/2009 07:40
Na Guiné-Bissau, a expectativa de vida é uma das piores do mundo: apenas 45 anos. Dois assassinatos cometidos ontem marcaram o país africano de língua portuguesa e justificaram as estatísticas, fruto da instabilidade política. O presidente da República, João Bernardo Vieira, conhecido como Nino, foi executado supostamente por soldados rebeldes. Horas antes, morria o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, o general Tagme na Waie, vítima de um atentado à bomba contra o quartel-general. ;Reafirmamos ao governo que não é um golpe de Estado;, garantiu o capitão de fragata José Zamora Induta, porta-voz da comissão de chefias militares, tentando justificar o ataque. Segundo o militar, o presidente, no poder desde 2005, ;era um dos principais responsáveis; pela morte de Tagme. ;Agora, o país vai avançar. Esse homem bloqueava tudo neste pequeno país;, disse. O presidente da Assembleia Nacional Popular, Raimundo Pereira, declarou ontem que vai cumprir a Constituição e assumir o governo até as eleições para novo chefe de Estado, que será realizada dentro de 60 dias. A nação africana é rota do tráfico de drogas para a Europa. Nas eleições de novembro de 2008, o general Tagme tinha acusado o presidente de envolvimento com o tráfico ilegal. Vieira (D) durante visita a Brasília, em 2007: governante sofreu disparos e facadas quando tentava fugirNino sofreu disparos de armas de fogo e perfurações causadas por faca em sua residência particular ; perto do Palácio Presidencial ;, quando tentava fugir. O repórter Braima Camara, da rádio Pindiquiti, de Bissau, disse à rede britânica BBC que o presidente foi vítima de vingança depois de admitir que havia ordenado o assassinato de Tagme. Minutos após a explosão no quartel-general, militares prometeram ir atrás dos responsáveis pela execução de Tagme. A casa de Nino foi saqueada. O governo anunciou a criação de uma comissão investigadora para revelar as causas dos assassinatos. O Brasil é um dos principais parceiros para reconstrução do país. As duas nações assinaram um acordo de cooperação que prevê apoio técnico e formação profissional na área de saúde, principalmente no combate à Aids. Os jovens da Guiné-Bissau também podem estudar gratuitamente em universidades brasileiras. ;Não podemos nos calar diante de mais um atentando a uma democracia incipiente que estava se construindo. Não podemos aceitar esse tipo de comportamento;, protestou, em São Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que visitou Bissau em 2005. O Itamaraty também repudiou os atos de violência e informou por nota que o embaixador do Brasil na ex-colônia portuguesa, Jorge Geraldo Kadri, tem acompanhado a situação dos brasileiros na Guiné-Bissau ; cerca de 250, no país de 1,7 milhões de habitantes. De Lisboa, o diretor-geral da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, Helder Vaz, contou ao Correio, por telefone, que a CPLP decidiu enviar uma missão política a Bissau para consultar as instituições democráticas. ;O importante é que a missão possa se dedicar o mais profundamente possível ao diagnóstico da situação e também estudar com as forças locais em que medidas a CPLP pode apoiar a estabilização da Guiné-Bissau;, disse Vaz.
Para saber mais: Pequeno país dominado pela instabilidade A Guiné-Bissau é um pequeno país de colonização portuguesa, um dos mais pobres de mundo, que só obteve a independência em 10 de setembro de 1974, depois de uma longa batalha protagonizada pela esquerda, o Partido Africano para a Independência de Guiné-Bissau e Cabo Verde (PAIGC), e seu líder, Luis Cabral. Cabral assumiu como presidente da República Parlamentarista ao fim da colonização, mas, em 1980, o chefe do Exército, João Bernardo ;Nino; Vieira, acusou o presidente de corrupção e o depôs. Nino liderou o país para uma economia de mercado e um sistema multipartidário, embora também sofresse denúncias constantes de autocracia e ilegalidades no exercício do cargo público. Até que uma rebelião militar em junho de 1998, causada pela destituição do general Ansumane Mané como chefe do Exército, provocou um golpe que o derrubaria em 7 de maio de 1999. Em Abuja, na Nigéria, Mané e Vieira assinaram um acordo de paz e formaram um governo de união nacional. O acordo durou pouco, e um golpe de Estado obrigou Nino a se exilar em Portugal. Em 13 de maio de 1999, o presidente do Parlamento, Malam Bacai Sanhá, ocupou a presidência interina, e o general Mané ficou à frente da Junta Militar. Em janeiro de 2000, o líder do Partido da Renovação Social (PRS), Kumba Yalá, se tornava o primeiro presidente eleito após o levante militar. Os combates haviam arruinado o país e tornado a reconstrução difícil. Yalá permaneceu no cargo até setembro de 2002, quando foi deposto. Nas eleições legislativas de 28 de março de 2004, o PAIGC conseguiu 40 das 102 cadeiras da Assembleia Nacional, e Carlos Gomes Júnior assumiu como primeiro-ministro. Mas o atraso de salários dos militares enviados como soldados da ONU à Libéria causou um motim. A Corte Suprema autorizou Vieira e Kumba Yalá a retornarem e concorrerem nas eleições presidenciais em 2005. Nino ganhou o segundo turno contra Bacai Sanhá e, mais uma vez, governou o país.

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