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Aids: substância presente em sorvete, cosméticos e leite materno impede que o vírus contamine as células de defesa do organismo

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postado em 05/03/2009 07:40
Talvez ninguém imaginasse que uma arma em potencial contra a Aids estivesse presente em emulsificantes para sorvetes, em cosméticos e na composição do leite materno. Cientistas da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, se surpreenderam com o fato de que esse composto ; o monolaurato de glicerol (GML, pela sigla em inglês) ; bloqueou a transmissão do vírus SIV, o equivalente ao HIV em macacos. Aplicado na forma de gel dentro da vagina dos primatas, ele impediu a infecção em 100% dos animais. Os especialistas pretendem repetir os testes em pacientes soropositivos ainda este ano. ;Esperamos resultados positivos;, afirmou Patrick Schlievert, professor do Departamento de Microbiologia e co-autor da pesquisa, em entrevista ao Correio, por e-mail. ;Em outros estudos com mulheres, sem a presença do HIV, obtivemos sucesso ao anular micróbios.; A investigação foi coordenada por Ashley Haase, chefe do departamento, e teve como inspiração uma descoberta feita pelo colega em 1992. Naquela época, Schlievert concluiu que o GML, em concentrações abaixo de 500 microgramas por mililitro, mata estafilococos, estreptococos e agentes causadores da clamídia, da candidíase e da tricomoníase no trato vaginal. ;Em 1992, propusemos que o GML fosse adicionado a absorventes para reduzir a incidência da síndrome de choque tóxico;, explicou Schlievert, referindo-se a uma infecção letal provocada por bactérias. As recentes conclusões de que o GML previne as infecções virais nos linfócitos T, células de defesa, e impede as exotoxinas de minarem o sistema imunológico foram a brecha para que os cientistas pesquisassem a reação diante da exposição ao SIV. Citoquinas Schlievert percebeu que, além da função antimicrobiana, o GML frustra a produção de citoquinas ; moléculas usadas pelas células do sistema imunológico para ;disparar; a defesa do organismo. ;Essa capacidade impede o recrutamento dos linfócitos T, combustíveis tanto para o HIV como para o SIV, na região cérvico-vaginal.; Ao bloquear a produção de citoquina na vagina, o GML inibe a ativação dos linfócitos. Antes de confirmarem a eficiência do composto contra a ;Aids dos macacos;, Schlievert e Haase realizaram um estudo de segurança de 6 meses, no qual aplicaram GML na vagina de primatas. Foi então que eles escolheram 10 macacas ; cinco foram expostas a altas doses do SIV e receberam aplicações diárias de gel com GML. Na vagina das outras cinco, os cientistas passaram um gel sem efeito e as infectaram com o vírus. ;No 14º dia, descobrimos que nenhuma das macacas tratadas com GML foi contaminada. Quatro dos cinco animais do grupo de controle contraíram a doença;, comentou Schlievert. Caso os testes com humanos sejam satisfatórios, o GML deverá ser colocado na vagina de uma a duras horas antes da relação sexual. O diferencial do GML está no fato de ele atuar sobre a resposta inflamatória da vagina. Essa reação leva os linfócitos até a região, impelidos a atacar a infecção. ;O vírus infecta as células T, subvertendo o sistema imunológico;, explicou. ;Já o GML previne a atração dos linfócitos, privando o SIV de combustível. O vírus é arrastado, ao não encontrar linfócitos.; A pesquisa foi publicada ontem na revista científica Nature.
Veja vídeo (em inglês) que explica ação do GML

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