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Entrevista: descobridor de substância que barra vírus da Aids fala sobre pesquisa

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postado em 05/03/2009 07:46
Professor e diretor do Departamento de Microbiologia da Universidade de Minnesota, os norte-americanos Patrick Schlievert e Ashley Haase descobriram que o monolaurato de glicerol, substância presente no sorvete, em cosméticos e no leite materno, é capaz de impedir a transmissão do SIV, o equivalente ao vírus HIV (causador da Aids) em macacos. Em entrevista ao Correio, Schlievert falou sobre a importância da pesquisa e previu para este ano os primeiros estudos em pacientes soropositivos. Ashley Haase e Patrick SchilievertComo o senhor descobriu que o monolaurato de glicerol (GML) pode controlar a infecção pelo vírus semelhante ao HIV? O monolaurato de glicerol (GML) é um monoéster de glicerol com ácido láurico anexado. O GML tem sido usado como agente emulsificante em sorvetes, molhos e em cosméticos. Também pode ser encontrado no leite materno. O composto é geralmente reconhecido como seguro pela FDA ; agência fiscalizadora de alimentos e medicamentos nos EUA ; para uso tópico e oral em concentrações até 100mg por mililitro. Em 1992, nós descobrimos que concentações de GML abaixo de 500 microgramas por mililitro mata estafilococos, estreptococos, clamídia, cândida e tricomoníase. Ao mesmo tempo, o GML não tem efeito sobre a flora normal de lactobacilos e de Escherichia coli no intestino. Naquela época, propusemos que o GML fosse adicionado a absorventes para reduzir a incidência da síndrome de choque tóxico. Mais recentemente, mostramos que o GML previne as infecções de vírus nas células de defesa T e impede as exotoxinas de matarem células humanas. Isso se deve à habilidade do GML de estabilizar as superfícies das membranas. O GML foi originalmente considerado um agente solubilizante de membrana. Nós sabemos que isso não é verdade. Ele estabilizou membranas das células hospedeiras. Temos mostrado que o GML previne a produção de citoquinas pelas células epiteliais e outras células, e essa capacidade impede o recrutamento de células T dentro da área cérvico-vaginal. Essas células T são o combustível para o HIV (SIV). Ao bloquear a produção de citoquina na vagina, ele previne a ativação de células T. O que representa o fato de o microbicida se focar na resposta inflamatória e não no vírus em si? A resposta inflamatória na vagina é o que leva as células T até a área, presumivelmente para combater a infecção que ocorre. Contudo, nesse caso o vírus infecta as células T causando Aids, subvertendo o sistema imunológico. O GML previne a atração das células T, privando o vírus de combustível. O vírus é simplesmente arrastado, sem as células T para infectar. Durante o estudo, como o senhor acompanhou o processo de infecção em macacas? Nós realizamos um estudo de segurança de 6 meses, no qual aplicamos GML na vagina das macacas. Elas eram monitoradas semanalmente para termos certeza de que não alteramos a flora normal de lactobacilos. De fato, não houve alteração. Também semanalmente mostrados que não houve inflamação, por meio de biópsia e colposcopia. Finalmente, rastreamos citoquinas que causam inflamação e descobrimos que elas haviam reduzido bastante. Publicamos os resultados na revista científica Antimicrobial Agents and Chemotherapy, antes de termos aceito o desafio de submetê-los à Nature. Qual é a importância desse avanço e como essa técnica poderia ser aplicada contra o HIV em humanos? No 14º dia de estudo, descobrimos que nenhuma das cinco macacas tratadas com GML foi infectada após receberem altas doses de SIV. Em contraste, quatro das cinco macacas do grupo controle foram infectadas. Nós gostaríamos de expandir esse estudo para incluir macacas adicionais nos próximos seis meses. Depois, faríamos um estudo humano em larga escala. Nós acreditamos que temos formulado o GML corretamente. As mulheres aplicariam o gel de uma a duas horas antes da relação sexual. O senhor espera ver bons resultados em estudos humanos? Quando pensam em iniciar os estudos colçinicos com pacientes HIV positivos? Sim, nós esperamos resultados positivos. Em outros estudos em mulheres (sem a presença do HIV), no qual analisávamos os efeitos dos outros micróbios, já obtivemos sucesso. Creio que os estudos começarão em 2009.

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