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Omar Al-Bashir, um islamita hábil e imprevisível na presidência do Sudão

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postado em 05/03/2009 07:47
O presidente sudanês, Omar Al-Bashir (foto), contra quem ao Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu uma ordem de prisão por genocídio em Darfur, é um militar de carreira hábil, mas imprevisível, que se projetou no poder com um golpe de Estado apoiado pelos islamitas. Os 19 anos que ele passou à frente do maior país da África foram marcados por um período de guerra e, depois, pela paz com o Sul, por relações tumultuosas com os países ocidentais e pelo conflito no Darfur -- em cinco anos, a violência na região deixou mais de 300 mil mortos, segundo a ONU. Nacionalista, o general Bashir se recusou até agora a enviar ao TPI os responsáveis sudaneses acusados de crimes de guerra no Darfur, dizendo que não permitiria jamais que um sudanês fosse julgado por um tribunal estrangeiro. "O presidente El-Bashir é também conhecido por sua propensão a responder violentamente a insultos, e dizem que ele fica preocupado com o que considera uma conspiração do exterior para derrubá-lo. Suas respostas são imprevisíveis", comentou o estudioso Alex de Waal. Omar Al-Bashir derrubou o governo democraticamente eleito de Sadek el-Mahdi num golpe de Estado em 30 de junho de 1989, apoiado pela Frente Islâmica Nacional, partido de seu ex-mentor Hassan Al-Turabi que se tornou mais tarde seu maior inimigo. O governo de Al-Bashir orientou o Sudão para um islamismo radical, e as forças populares de defesa recentemente criadas foram enviadas ao Sul, povoado de animistas e cristãos, para combater os "infiéis", no que se transformou num dos conflitos mais longos do continente africano. Nascido em 1944 em uma família rural de Hoshe Bannaga, a 100km ao norte de Cartum, Omar Al-Bashir sempre foi fascinado pela carreira militar. Ele galgou rapidamente as etapas da carreira e serviu ao lado do Exército egípcio no conflito entre israelenses e árabes de 1973. Comandou na ocasião a 8ª Brigada do Exército regular posicionado no Sul, no auge da guerra entre o governo de Cartum e o Movimento de Libertação do Povo do Sudão (SPLA, pela sigla em inglês). Na companhia de Hassan Turabi, exerceu seu poder através de um Conselho de Comando da Revolução (RCC) e de um governo de saúde nacional, formado por jovens oficiais. Em 1993, dissolveu o RCC e se autoproclamou presidente da República. Acumulou todas as funções, antes de ser eleito pela primeira vez em 1996 numa eleição amplamente criticada. Seu regime acolheu durante cinco anos o chefe da rede terrorista Al-Qaeda, Osama Bin Laden, antes de expulsá-lo sob pressão dos Estados Unidos. Em 1999, suas relações com Hassan Turabi começaram a desandar e Turabi foi detido de 2001 a 2003. Omar Al-Bashir tentou se livrar do islamismo radical e melhorar suas relações com seus vizinhos e a comunidade internacional. Autorizando em 2005 seu governo a assinar o Acordo de Paz Global, ele surpreendeu ao fazer um pacto com os rebeldes do Sul e ao abrir caminho para um processo democrático. Mas seu país vem enfrentando há mais de cinco anos o conflito em Darfur, pelo qual diversos responsáveis de seu regime são acusados de crimes de guerra, genocídio e crimes contra a humanidade. ;

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