postado em 05/03/2009 11:17
CARTUM - O presidente do Sudão, Omar Al-Bashir, desafiou nesta quinta-feira (05/03) o Ocidente, chamando de criminosos os dirigentes dos Estados Unidos e Europa e pedindo aos países africanos que deixem a Corte Penal Internacional (CPI), que, na véspera, emitiu uma ordem de prisão contra ele.
"Os verdadeiros criminosos são os líderes dos Estados Unidos e da Europa", disse Al-Bashir a dezenas de milhares de pessoas reunidas no centro da capital sudanesa em uma nova expressão de apoio popular ao chefe de Estado.
Al-Bashir, que chegou ao poder com um golpe de Estado em 1989, criticou o "neocolonialismo" da CPI e das instituições internacionais.
"Há 20 anos que estamos sob a pressão do neocolonialismo e de seus instrumentos como a CPI, o Conselho de Segurança das Nações Unidas e o Fundo Monetário Internacional", afirmou.
Os manifestantes vaiaram os Estados Unidos, a Grã-Bretanha e os judeus, assim como o promotor da CPI, o argentino Luis Moreno Ocampo. "Ocampo e os judeus, fomos treinados para enfrentar gente como vocês", gritava a multidão, que exibia cartazes com o retrato do presidente sudanês.
A CPI emitiu nesta quarta-feira uma ordem de prisão contra Al-Bashir por crimes de guerra e crimes contra a Humanidade na região sudanesa de Darfur (oeste), sacudida por uma guerra civil que causou 300.000 mortos segundo a ONU e 10.000 segundo o Sudão.
O presidente Al-Bashir repetiu nos últimos meses que a CPI é o resultado de um "complô 100% sionista" para desestabilizar o Sudão.
Ao mesmo tempo, ele reuniu a portas fechadas em sua sede de Addis Abeba o Conselho de Paz e Segurança (CPS) da União Africana, que já condenou a ordem de captura de Al-Beshir e decidiu pressionar para que o caso seja suspenso.
Em discurso pronunciado ante os 15 Estados-membros do CPS, do que a AFP obteve uma cópia, o chefe da delegação sudanesa pedij aos países africanos que abandonem a CPI.
Mohieldin Ahmed Salim pediu aos estados-membros amigos que se retirem do estatuto de Roma, o texto fundador da Corte Penal Internacional.
Depois de o Sudão ter ordenado na quarta-feira a expulsão de 10 organizadores internacionais que dão ajuda essencial a cerca de 2,7 milhões de desabrigados pela guerra, Cartum advertiu que outras ONGs poderiam ser obrigadas a abandonar o país.
A Médicos Sem Fronteiras informou nesta quinta-feira à AFP de que o governo sudanês o ordenou que cesse suas atividades em Darfur e Ação contra a Fome, afirmou estar sob uma ordem de expulsão pedida pelo governo sudanês", expressando sua viva preocupação sobre a sorte de milhões de pessoas que dependem da ajuda internacional na maior operação humanitária do mundo.
O vice-ministro sudanês da Justiça, Adel Daeim Zumrawi, afirmou no entanto de Genebra que a expulsão das organizações internacionais "não conduzirá necessariamente à uma escassez de alimentos nos campos de refugiados".
Enquanto a comunidade internacional se mostra muito dividida sobre a pertinência do julgamento de Al-Bashir, os temos de insegurança e o agravamento da crise em Darfur aumentam.
Em uma prova de união fora do comum, os rebeldes de Darfur aplaudiram a decisão da CPI. "Esta decisão envia uma mensagem negativa aos rebeldes, de que o governo está sob pressão e de que devem manter suas operações militares", afirmou o vice-presidente sudanês Ali Osman Taha.
Por outro lado, encabeçados por Pequim, que pediu a suspensão do julgamento por crimes de guerra contra o presidente sudanês, os aliados de Cartum, condenaram a ordem de prisão.
A União Africana (UA) também considera a ordem de prisão uma ameaça à paz e reuniu de emergência nesta quinta, a portas fechadas, seu Conselho de Paz e Segurança.
O Prêmio Nobel da Paz sul-africano, Desmond Tutu, por fim, classificou de vergonhoso o apoio de inúmeros dirigentes africanos ao presidente sudanês.