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Expulsão de ONGs provoca temor de nova catástrofe humanitária em Darfur

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postado em 06/03/2009 11:57
CARTUM - Mais de um milhão de pessoas podem passar fome no Sudão, com a morte de milhares, em consequência da expulsão de 13 organizações não governamentais (ONGs) de Darfur, advertiu a ONU. "Com a saída das ONGs, e se o governo não reconsiderar sua posição, 1,1 milhão de pessoas ficarão sem comida, 1,5 milhão ficarão sem cuidados médicos e mais de um milhão sem água potável", explicou a porta-voz do gabinete de coordenação para Assuntos Humanitários da ONU, Elizabeth Byrs. Pelo menos 13 organizações foram obrigadas a abandonar o Sudão depois que a Corte Penal Internacional (CPI) de Haia emitiu uma ordem de prisão por crimes de guerra e contra a humanidade para o presidente sudanês, Omar al-Bashir. A expulsão das ONGs de Darfur coloca em dúvida o envio de uma ajuda humanitária vital para as população desta região do oeste do Sudão em guerra civil. No total, 2,7 milhões de pessoas dependem da ajuda das organizações. A Ação contra a Fome (ACF), que está entre as ONGs expulsas, afirmou nesta sexta-feira em Pari que as crianças atendidas por desnutrição aguda em Darfur "estão ameaçadas de morte". "As crianças internadas atualmente em nossos centros de nutrição estão ameaçadas de morte", anunciou a ONG. "A situação é difícil agora. Não sabemos o que acontecerá no futuro", declarou um dos refugiados de Darfur nesta sexta-feira. "Sem ajuda e sem alimentos teremos grandes problemas", acrescentou no acampamento de Ardamat, que abrita 27.000 pessoas no oeste de Darfur. Bashir voltou a criticar a ordem de prisão emitida contra ele e afirmou que em nada mudará a política do governo. "A decisão da CPI não mudará os planos e programas do governo", declarou Bashir aos membros de seu partido e da oposição em uma reunião na quinta-feira, informa a agência oficial Suna. "O governo continuará as gestões para a paz e organizará eleições livres e justas", completou o chefe de Estado, que pretende visitar no fim de semana Darfur, região devastada desde 2003 por uma guerra civil que já deixou 300.000 mortos segundo a ONU e 10.000 de acordo com Cartum. "Apesar desta fachada de confiança, o regime está muito nervoso e há tensões no partido no poder", relata um diplomata que pediu para não ser identificado. "Tomaram uma decisão muito severa em relação às ONGs", afirmou Fuad Hikmat, analista do International Crisis Group. "Esta decisão não é nada mais que uma represália contra milhões de pessoas em Darfur", completa Georgette Gagnon, da Human Rights Watch. Para Katherine Bragg, diretora adjunta das operações humanitárias da ONU, a decisão está em contradição com as garantias que a organização havia recebido. Bashir, 65 anos, chegou ao poder em 1989 em um golpe de Estado militar. Em 2000 ganhou a eleição presidencial com 87% dos votos, em uma votação considerada uma farsa pela oposição. Este ano deveriam ser celebradas novas eleições gerais, mas a data não foi determinada até o momento. Segundo vários analistas, Bashir vai concorrer a um novo mandato, apesar da ordem de prisão da CPI.

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