postado em 07/03/2009 08:00
Menos de um ano depois da visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Holanda, o primeiro-ministro Jan Peter Balkenende desembarcou no Brasil à frente de uma nutrida missão governamental e empresarial que se movimentou entre São Paulo e Rio de Janeiro. O encontro dos dois governantes nesta semana, na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), diz tudo sobre o apetite dos holandeses nessa nova incursão pelo país.
Ao fim de uma série de encontros de alto nível em Brasília, no encerramento da visita, o ministro dos Transportes, Camiel Eurlings, falou ao Correio sobre o interesse de seu país em assegurar sua fatia no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), particularmente na modernização dos portos e aeroportos. ;O Brasil vai se tornar uma potência mundial, e é muito estimulante assistir a esse processo de perto;, afirmou.
Quais foram os principais resultados dessa visita com agenda tão claramente empresarial?
A visita agradou não apenas a nós, do governo, mas aos representantes das 55 empresas que integraram a comitiva. Deixou a impressão de que o Brasil é um país positivo, que enxerga a importância de continuar a investir, especialmente nestes tempos, a fim de estar pronto para o grande desenvolvimento projetado. Isso é formidável, inacreditável. O Brasil vai se tornar uma potência mundial, um país muito forte, é muito estimulante assistir a esse processo de perto. E os holandeses podem contribuir para isso se tornar realidade.
O senhor vê oportunidades concretas em setores específicos?
Temos uma presença forte na área de logística marítima, e tivemos durante a visita conversas importantes sobre navegação por vias interiores do país. O Brasil pretende aumentar enormemente sua capacidade portuária ; o que é importante, porque com a economia crescendo você tem mais mercadorias chegando ao país e saindo. E, além disso, o Brasil quer se firmar como o porto de entrada para a América do Sul. Para efeito de comparação, 56% das mercadorias que chegam ao porto de Roterdã, na Holanda, o maior da Europa, são transportadas para outros países por rios ou canais. O Brasil tem quase 40 mil km de vias fluviais ; nem todas navegáveis, mas dispomos de equipamento e técnica para torná-las. E, no entanto, transporta apenas 4% das importações e exportações por essas vias.
Como foi a visita à Petrobras, no Rio?
Vimos o crescimento inacreditável da empresa, não só na exploração de petróleo, mas em todos os novos campos de desenvolvimento. O presidente (José Sergio) Gabrielli mostrou-se muito aberto à cooperação com empresas holandesas, não apenas a Shell, mas também empresas especializadas no armazenamento de petróleo, as que dominam a construção dos tipos mais apropriados de navios. Ele disse que as encomendas serão ampliadas e mais empresas holandesas poderão competir pelos contratos.
Nos últimos anos, a Holanda esteve entre os maiores investidores no país. Agora são as empresas holandesas que apostam nos investimentos brasileiros?
Em um certo sentido, sim, mas isso anda nas duas mãos. Conversamos com o ministro (Nelson) Jobim e ele nos disse que em julho será apresentada uma proposta para habilitar empresas estrangeiras, inclusive holandesas, a investir nos aeroportos brasileiros. Nós já somos atualmente um dos maiores investidores no Brasil, e tanto esses investimentos quantos os do Brasil na Holanda têm crescido.
Há um ano, o ministro holandês de Comércio esteve aqui e falou na aspiração de que Roterdã seja a porta de entrada para os biocombustíveis na Europa. Isso se mantém, mesmo com a crise e o protecionismo?
A crise atingiu firme a Europa. Vendemos muito para a Europa, portanto estamos fazendo menos negócios e nossa economia está em recessão. Mas, mesmo sendo esta uma crise inesperada, e séria, vamos sair dela, quem sabe no fim do próximo ano. E os investimentos em etanol são pensados para 10 ou 20 anos. Conversei com o presidente do porto de Roterdã duas vezes hoje, e ele reafirmou que está determinado a fazer de lá ;o; porto do etanol para a Europa. Em abril, nos dias 16 e 17, ele estará em São Paulo. Posso garantir que fará o possível para ser o parceiro preferencial dos portos brasileiros.
Algum contrato foi fechado durante esses dias de visita?
O primeiro-ministro esteve na Embraer. Já tivemos nossa própria indústria aeronáutica, a Fokker, uma companhia da qual nos orgulhávamos e que deixou de existir em 1996. O curioso é que, hoje em dia, a Holanda tem orgulho da Embraer: pouca gente sabe, mas nosso laboratório aeroespacial contribuiu muito no desenvolvimento das novas asas dos aviões da Embraer. Consideramos que o êxito da Embraer é em parte também nosso, e não é por acaso que a KLM (companhia aérea holandesa) é tão entusiástica. O representante da empresa na comitiva anunciou a intenção de comprar sete novos aparelhos da Embraer neste ano. Não sou a KLM, mas seria muito lógico que, à medida que a frota de Fokkers da companhia for envelhecendo ela seja gradualmente substituída por modelos da Embraer.